A Justiça homologou acordo de delação premiada com o empresário e advogado Milton Matheus Paiva Matos sobre esquema de corrupção que seria chefiado pelo vereador licenciado de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB). Assim, ele será o segundo delator do escândalo revelado pela Operação Tromper, em Sidrolândia, município distante 70 km da Capital.
Conforme documento assinado pela promotora de Justiça, Bianka M. A. Mendes, com a homologação, todos os acusados deverão ser interrogados novamente. Para isso, deverá ser designada nova audiência. “Visando assegurar o princípio da ampla defesa, imprescindível a realização de novointerrogatório, estendendo-se a mesma oportunidade aos demais acusados”.
Milton é proprietário da empresa 3M Produtos e Serviços LTDA e, recentemente, se livrou da tornozeleira eletrônica, assim como os demais investigados.
Além disso, a empresa teve o montante de R$ 532.735,60 bloqueados, além da restrição de venda do veículo GM S10 2.8. O mesmo valor também foi bloqueado da conta pessoal de Milton, além da restrição de veículo em seu nome: Toyota Corolla Altis.
Empresário alegou ‘coincidências’
Em sua defesa anexada nos autos, o proprietário da 3M indica falta de ‘provas concretas’. Para isso, diz que o fato do escritório de sua empresa ser no mesmo endereço da empresa do empresário Ricardo José Rocamora – que seria o principal operador do esquema – e o fato de documentos de Rocamora serem encontrados no armário da sala da empresa 3M seriam apenas ‘coincidências’.
“Seria o réu culpado também se todos moras-sem no mesmo bairro? O que temos aqui é uma coincidência de endereço, nada mais (…) Não é moralmente exigível esperar que todo empresário que alugue um imóvel verifique cada gaveta, cada armário e cada canto para evitar ser acusado de crimes”, alega o advogado, que atua em causa própria.
Para o empresário, as acusações não podem se basear em “proximidade geográfica e a herança de um armário com arquivos velhos. Exige provas, fatos, evidências sólidas. E isso, claramente, não foi apresentado”.
No documento do MPMS, consta que “Ana Cláudia Alves Flores afirmou que a empresa 3M (pertencente ao servidor Milton Paiva) e a empresa Rocamora tiveram o mesmo lance. Para desempatar, ela solicitou que Ricardo Rocamora reduzisse o lance de sua empresa em um centavo. Ele assim o fez para que a outra empresa ganhasse, demonstrando o vínculo dessas empresas com a organização criminosa”.
Denúncia de fraude na compra de carne para indígenas
A apuração do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) apontou que Milton Paiva e o ex-chefe de compras de Sidrolândia, Tiago Basso – o primeiro delator do esquema -, teriam articulado a emissão de notas fiscais para compra de carne para indígenas e os respectivos pagamentos, para fins pessoais e de terceiro, por meio da Prefeitura Municipal e da Fundação Municipal Indígena.
Na divisão de tarefas, o advogado Milton Paiva ficaria responsável pela gestão dos recursos vindos da Prefeitura para a Fundação Indígena, mesmo não tendo vínculo com a municipalidade, enquanto o servidor Tiago Basso seria o responsável pela arrecadação e pelo gerenciamento da propina.
Dados extraídos do celular de Milton Matos mostram uma planilha nomeada como “Financeiro” que faz menção em duas abas (Josimar, Claudinho) a valores que seriam destinados a Claudinho Serra e Tiago Basso da Silva.
Conforme investigação do MP, o grupo teria usado a empresa SH Informática (Taurus) para fazer o provável desvio de recursos da Fundação Indígena. Em um troca de mensagens, Milton Paiva teria orientado como deveria ser feito o repasse para beneficiar Cláudio Serra Filho.
“O único problema é o Tiago querer ficar passando Taurus pro Cláudio através do Josimar, da Fundação Indígena, isso aí não dá, né, mas exemplo, hoje tem cinquenta mil, se esses cinquenta mil ficasse quieto lá, todo mês fosse passando dez, passando quinze beleza, rapidão mata”, diz o áudio.
Delator, Tiago Basso devolveu R$ 80 mil de propina
O ex-chefe de compras da prefeitura de Sidrolândia, Thiago Basso da Silva, informou à Justiça a devolução de R$ 80 mil referente à devolução de valor que teria recebido como propina para operar esquema de corrupção chefiado por Claudinho Serra (PSDB).
A devolução faz parte de acordo de colaboração premiada feita com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). Dessa forma, Basso confirma que cumpre a contrapartida e mantém o acordo.
Em depoimento de delação feita aos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o ex-servidor detalhou como funcionava todo o esquema chefiado pelo vereador do PSDB. No total, 23 investigados se tornaram réus pelo esquema de corrupção no município de Sidrolândia, que fica a 70 km de Campo Grande.