Indígenas Guarani-Kaiowá protestam por falta de água, em comunidades de Dourados (MS), nesta quarta-feira (27). Durante o ato, Policiais Militares das forças especiais da corporação, como do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), interviram na manifestação e agiram contra os protestantes utilizando armas, gases de efeito moral e outras munições. No vídeo acima é possível ver os feridos.
Nas redes sociais, vários indígenas compartilharam a forma truculenta e desproporcional utilizada pelos policiais contra os manifestantes. De acordo com denúncia feita pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário), duas mulheres foram encaminhadas com ferimentos para o Hospital da Vida.
O Distrito Sanitário especial Indígena (DSEI) mobilizou uma força-tarefa para apoiar os feridos. Além das vítimas hospitalizadas, 15 indígenas acabaram feridos por tiros de bala de borracha e bombas, outros estão com problemas respiratórios ocasionados pelos gases de efeito moral, segundo nota do CIMI.
No vídeo mais acima é possível ver vários indígenas feridos, sangrando e outros sendo agredidos. Segundo os próprios manifestantes, as forças entre protestantes e policiais são desproporcionais.
Além de equipes do BOPE, policiais do Batalhão de Choque também foram acionados para atender a ocorrência que já dura dias. Ainda não se sabe o quantitativo de policiais que ficaram feridos na operação.
Protesto por falta de água
Indígenas Guarani-Kaiowá protestam por falta de água desde a segunda-feira (25). Grupos de manifestantes fecharam a rodovia MS-156, impedindo o acesso de carros e outros veículos foi impedido.
O clima de tensão escalou na manhã desta quarta (27). Tropas do CHOQUE e BOPE avançaram contra os indígenas, açoitando os protestantes de volta para a aldeia Jaguapiru, uma das maiores comunidades urbanas de povos originários.
Segundo o relato dos indígenas manifestantes, os policiais chegaram de forma repentina arremessando bombas de efeito moral. Ao revidar, os protestantes começaram a jogar pedras contras os veículos oficiais e os policiais.
“A polícia não deveria entrar na Reserva porque é uma área indígena, federal. O que já é grave. Acontece que se trata da maior Reserva do país, ou seja, é uma ação desproporcional, irregular e que pode gerar uma revolta dos indígenas com resultados catastróficos. Na verdade, um massacre de Forças de Segurança Pública contra população civil. As autoridades públicas precisam entender e agir diante da gravidade da ação policial para evitar uma escalada”.
Descreve Flávio Vicente Machado, representante do CIMI em Mato Grosso do Sul.
Falta de água é problema crônico
Caixa seca e torneira que não sai uma gota d’água são realidades que se repetem há mais de 15 anos na comunidade. Quase 20 mil indígenas vivem na área de 3.500 hectares. Na comunidade a 15 minutos do centro da cidade, a segunda maior do estado, falta água para tudo.
O protesto também ganhou força após governos federal e estadual firmaram acordo com uma empresa para viabilização de poços em 18 aldeias indígenas localizadas em Mato Grosso do Sul. O acordo, assinada na semana passada, previa o investimento de R$ 60 milhões para melhoria na captação de água em várias comunidades.
Entretanto, as obras que serão realizadas por lotes não contemplaram a reserva indígena de Dourados. Não contemplados, os indígenas da região optaram pelo protesto para chamar atenção para o problema crônico.
Mesmo não contemplados, em outubro do ano passado o governo do estado afirmou a encomenda de um estudo para a construção de dois superpoços, avaliados em R$ 37 milhões. O governo disse ainda que espera receber autorização e recursos do governo federal para fazer a obra. Nada saiu do papel.
À época, o Ministério da Saúde disse que técnicos da Secretaria de Saúde Indígena estariam na reserva para avaliar e resolver o problema e que poços artesianos deveriam ser construídos para garantir o fornecimento de água potável.
Retornos
Em nota, a SEC (Secretaria de Estado de Cidadania) do governo de Mato Grosso do Sul afirmou que a Polícia Militar teve de agir após esgotadas todas as possibilidades de negociação. Confira a nota na íntegra:
“A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, esgotadas todas as vias de negociação, e para garantir os direitos constitucionais, agiu na manhã desta quarta-feira (27) para desobstruir as rodovias estaduais que estavam bloqueadas. Com apoio do Corpo de Bombeiros Militar e de equipes da Agesul, removeram entulhos e apagaram focos de incêndio nas pistas. As forças de segurança manterão efetivo para garantir paz em todo o território sul-mato-grossense. O governo estadual reforça seu compromisso com a transparência, refutando iniciativas político-eleitoreiras, e age em prol de um caminho de justiça e respeito. Em tempo, o governo de MS, por meio da SEC, se manteve em contínuo diálogo com todos os envolvidos em busca, sempre, de uma solução pacífica, e lamenta episódios de agressões e enfrentamentos”.
Já a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) informou que a “desobstrução da via, para garantir o direito constitucional de ir e vir de todos. Há preso por desacato, desobediência e agressão aos policiais e um trator apreendido”.
O Ministério da Saúde, por meio da Sesai, também se posicionou:
“O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) e do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Mato Grosso do Sul, mantém um contrato para a distribuição de mais de 70 mil litros de água potável por semana via caminhões-pipa e articula com a Prefeitura de Itaporã o fornecimento de 100 mil litros de água por dia, sendo 50 mil destinados a Jaguapiru e 50 mil a Bororó. Além disso, estão em andamento a perfuração de dois novos poços, um em cada aldeia, em parceria com a Prefeitura Municipal de Dourados e a Secretaria de Estado e Cidadania, com previsão de conclusão em até 40 dias.
A Sesai também negocia uma solução conjunta com a Secretaria de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, com o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e a Sanesul. A proposta inclui a extensão da rede de abastecimento que atende a região urbana de Dourados e a formalização de convênios para operação e manutenção do sistema, visando soluções estruturais e de longo prazo.
Embora as comunidades já contem com 14 sistemas simplificados de abastecimento de água, esses não atendem plenamente à demanda local devido a altos índices de desperdício e uso inadequado da água tratada. As ações emergenciais realizadas têm o objetivo de minimizar os impactos imediatos enquanto soluções definitivas estão sendo implementadas”.