Na próxima semana, o nível do Rio Paraguai deve ultrapassar o seu menor índice histórico, que foi de 61 centímetros abaixo de zero, registrado em 1964. Segundo o doutor Carlos Padovani, que estuda o comportamento do rio há mais de 20 anos, a gravidade da estiagem atual torna impossível fazer uma previsão precisa sobre o nível mínimo que o rio pode atingir.
Nesta segunda-feira, o rio estava com 51 centímetros abaixo de zero, a apenas 11 centímetros de estabelecer um novo recorde. Desde o início de setembro, o nível caiu 35 centímetros, e em agosto a diminuição foi ainda mais drástica, de 64 centímetros. Padovani, que obteve seu doutorado em 2013, afirma que, embora as projeções sejam baseadas em dados históricos, o cenário atual é sem precedentes.
O segundo pior nível já registrado foi de 60 centímetros abaixo de zero em 2021, mas o contexto atual é mais alarmante. A única razão pela qual a situação não é ainda mais crítica é que, entre junho e julho, a Usina Hidrelétrica de Manso, em Mato Grosso, liberou um volume extra de água, resultando em um aumento de 70 centímetros no Rio Cuiabá, um importante tributário do Paraguai.
Apesar dessa liberação, todos os afluentes estão apresentando vazão abaixo do normal, o que sugere que o nível em Ladário poderá ser o pior da história. Padovani enfatiza que, mesmo com chuvas regulares previstas para outubro em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a água levará semanas para impactar significativamente o nível do rio.
Para o retorno do transporte hidroviário, que está suspenso desde julho, é necessário que o nível ultrapasse um metro em Ladário. Se as chuvas ocorrerem dentro da média, isso só deve ser alcançado em meados de janeiro de 2025. A escassez de água já resultou em uma queda de quase 52% no transporte de minérios e grãos neste ano, segundo dados da Antaq, com 2,6 milhões de toneladas despachadas entre janeiro e julho, em comparação a 5,4 milhões no ano anterior.