Grande parte das produções cinematográficas que descrevem o apocalipse adotam o alaranjado, a poeira, a fumaça e o sol intensos. Cenário parecido com o desses tipos de filmes sobre o fim dos tempos pode ser visto em Campo Grande, nesta sexta-feira (13), com maior intensidade da fumaça das queimadas.
Imagens de drone e de pontos mais altos da cidade destacam a condição insalubre da poluição das queimadas em vários estados brasileiros e países vizinhos. Satélites revelam que os focos de calor culminam para a distância na trégua da névoa de fumaça.
A cortina de fumaça ainda mais intensa do que os dias anteriores já era prevista, pois é favorecida pelo vento transportada pela frente fria. Desta vez, a densidade é arrastada da região da Amazônia e também da Bolívia.
Bolívia em emergência nacional
A situação do ar piorou na região de Corumbá por causa da Bolívia, que atravessa uma crise climática devido aos incêndios florestais, o que levou o governo a declarar “emergência nacional” pelos efeitos negativos na qualidade do ar, um problema que se estende a outros países da região, como Brasil e Paraguai.
O Laboratório de Física Atmosférica da UMSA (Universidad Mayor de San Andrés), em La Paz, alertou que os incêndios estão gerando uma “catástrofe ambiental” com graves impactos na fauna, flora e na saúde da população.
De acordo com o relatório da UMSA, a fumaça acumulada na atmosfera pode inibir a chegada das chuvas, criando um “círculo vicioso” que prolonga as condições de baixa qualidade do ar. As queimadas, concentradas no leste do país, já afetaram mais de 4 milhões de hectares, segundo fundações privadas, como a Tierra. No entanto, o governo estima o total em cerca de 3,8 milhões de hectares.
Nos últimos dias, cidades como Santa Cruz, Cochabamba, La Paz e Cobija foram cobertas por uma densa camada de fumaça, levando as autoridades a alertar sobre os efeitos prejudiciais à saúde pública.
Insalubre
O professor do Instituto de Física e coordenador da Estação de Monitoramento da Qualidade do Ar, do LCA (Laboratório de Ciências Atmosféricas), Widinei Alves Fernandes, explica que o corredor de fumaça foi transportado da Amazônia e de países vizinhos, passando pelo Estado.
“Estamos medindo concentrações do PM2,5 acima de 110ug/m3. Quando a qualidade do ar está boa, os valores são inferiores a 10ug/m3”, descreve.
O monitoramento do Qualiar, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), destaca que a qualidade do ar hoje está muito ruim.
Restrição no aeroporto
Confira o vídeo:
Máscara ajuda?
O médico otorrinolaringologista, Bruno Nakao, explica por que essa exposição à fumaça se torna grave à saúde humana, aumentando os riscos de faringites – inflamação que acomete a faringe – e crises de asma nesse período.
O uso da máscara é indicado pelo médico apenas em exposição aguda à fumaça. “Apenas para casos de exposição aguda à fumaça, pois para as partículas inaladas, o correto é a lavagem nasal”, explicou.
“Os danos da fumaça estão relacionados à exposição de partículas tóxicas e à densidade mais intensa inalada para os pulmões. Dessa maneira, há um risco aumentado para crise de asma ou bronquite, rinossinusites agudas virais, bacterianas e rinites alérgicas”, explica Nakao.