Rafael Ramos Pereira foi condenado a 14 anos de prisão pela morte de Marcos Vinicius Moreira da Costa e por esfaquear a ex-mulher, no Jardim Centro Oeste, em Campo Grande. O crime aconteceu em abril de 2022 e o autor foi condenado nesta quarta-feira (2).
Rafael ficou mais de cinco meses foragido antes de ser preso em uma chácara de Corguinho, a 96 quilômetros da Capital.
Pela manhã, durante o júri popular, a ex-esposa e vítima das facadas do autor disse que eles estavam separados devido a traições dele. Porém, o homem negou e disse aos jurados que o casal estava vivendo “um relacionamento conturbado pós-Covid”.
Ao fim da tarde desta quarta (2), o Conselho de Sentença condenou Rafael pelo crime de homicídio simples, afastando as qualificadoras motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Rafael também respondia pelo crime de tentativa de homicídio, com a qualificadora do feminicídio em relação a ex-esposa. Contudo, o Júri desclassificou para lesão corporal gravíssima, acolhendo a tese da defesa. Assim, o homem foi condenado a 14 anos de reclusão em regime fechado.
Julgamento
Durante o depoimento no Tribunal do Júri, a ex-esposa de Rafael afirmou que havia medidas protetivas contra ele, por ameaças de morte, mas que ambos conviviam normalmente para criarem os três filhos, de 3, 8 e 11 anos na época dos crimes, juntos.
No dia do crime, Lidiane e Rafael já haviam discutido. Isso porque, conforme relato da vítima, Rafael não aceitava o fato da ex-esposa sair de casa. “Ele me chamava de vagabunda, dizia que eu não era uma boa mãe”, relata. O acusado, inclusive, chegou a ir até a casa da ex-esposa para deixar os filhos. Os dois brigaram e ele saiu do local com as crianças.
Lidiane, então, convidou uma amiga dela para tomar cerveja. A amiga, por sua vez, convidou Marcos, colega de trabalho delas. “Por volta da 1h, eu já tinha tomado alguns alcoólicos e depois tomei uma bebida que me deixou desorientada, então pedi para o Marcos me levar embora”, explica.
Os dois foram de carro de aplicativo até a casa de Lidiane, que o convidou para dormir no local por medo de Marcos voltar, uma vez que o réu já havia a ameaçado de morte no dia. “Falei para ele dormir no sofá, mas estava quebrado. Então, disse para ficar na cama das crianças, que estava cheia de roupa. Aí disse para ele escolher onde iria dormir, porque eu iria deitar. Foi aí que ele deitou do meu lado, mas não fizemos nada aquela noite”.
Mais tarde, Rafael, que tinha a chave de casa, entrou na residência e esfaqueou ambos. A vítima conta que acordou com o grito de Rafael a chamando. “Acho que ele achava que tinha me matado. Nisso eu já tinha sido esfaqueada quatro vezes. Quando acordei, ele me deu mais uma facada”.
A vítima conseguiu empurrar o ex-marido para fora de casa e foi acolhida por uma vizinha. “Ela me colocou sentada em uma cadeira e eu já estava toda ensanguentada, mas para mim eu só levara uma facada. Quando o Samu chegou, eu já estava quase sem vida”, relembra.
O réu, por sua vez, negou que o casal estivesse separado, mas sim vivendo “um relacionamento conturbado pós-Covid”. “Perdemos muitas pessoas importantes para nós durante a Covid. Ficamos bastante abalados e passamos a beber e brigar”.
“Boa pessoa e trabalhador”
Além dessa vizinha, outros três moradores do mesmo condomínio onde o casal residia também foram testemunhas da defesa. A segunda vizinha afirma que Rafael era um “bom homem, trabalhador e ótimo pai”.
Ela afirma que, na época dos fatos, havia conseguido vaga na creche para um dos filhos do casal, então, pediu para que eles comparecessem em uma reunião política, na qual os dois foram vistos juntos dois dias antes do crime. Outra vizinha, ouvida como terceira testemunha, também relata a aparição conjunta de réu e vítima nessa reunião.
Na época do fato, em abril de 2022, o Jornal Midiamax conversou com moradores do condomínio onde vivia o casal, que relataram não saber da separação. Ainda, disseram não conhecer Marcos Vinicius. O relato é de que o autor do crime era muito ciumento e que as discussões e agressões eram frequentes.
Consequências
As sequelas das facadas impactaram – e muito – a vida da ex-esposa. Aos jurados, explicou que um dos golpes foi no estômago, o que a levava a ter dores fortes.
Ainda, explica ter ficado cinco dias internada e 1 ano sem trabalhar, em decorrência das consequências da tentativa de feminicídio. “Agora eu moro do lado da casa da minha mãe, ela me dá um suporte. Eu casei de novo e ele me ajuda bastante, mas enquanto isso era eu, minha mãe e minha irmã”, relata. Também precisou fazer terapia pelo trauma. “Tinha medo por conta do que aconteceu”.
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