Campanha Novembro Azul termina com mais de 1,7 mil exames realizados, no HCAA
Professor na faculdade de medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), com vários certificados científicos importantes, mais de 20 anos de experiência e no quadro fixo de especialistas do HCAA (Hospital de Câncer Alfredo Abrão), o médico urologista Marcelo Vilela observa que a busca pelos exames preventivos para a detecção do câncer de próstata está crescendo.
O tabu existe, o constrangimento de fazer o exame de toque retal ainda intimida muitos homens, mas a preocupação com a saúde masculina está vencendo o preconceito, resultando em mais de 1,7 mil exames de PSA (antígeno prostático específico), realizados durante a campanha Novembro Azul, do HCAA.
Na Entrevista da Semana, Marcelo compartilha a importância dos exames preventivos, lembra de um passado em que os pacientes perdiam os movimentos das pernas por causa do câncer de próstata e visualiza um futuro com menos tabus sobre o assunto. Confira!
O Estado MS: Como foi a procura pelos exames, neste Novembro Azul?
Marcelo Vilela: Novembro Azul é uma campanha mundial de prevenção da saúde masculina e, geralmente, as campanhas despertam os pacientes e (eles) nos procuram mais. Terminamos a campanha com mais de 1.700 exames realizados e a adesão é sempre boa. A cada ano que passa existe mais adesão e compreensão sobre a saúde do homem, com prevenção.
O Estado MS: Quais são os exames realizados quando o paciente chega ao hospital?
Marcelo Vilela: Esse hospital é especialista em câncer, então a campanha é voltada para isso. A “vedete” do Novembro Azul é o câncer de próstata porque é o tumor que mais causa mortalidade no homem, depois do câncer de pele e pulmão. Eles vêm aqui e realizamos o exame de sangue, que detecta até 70% dos casos. Os outros 30% são por meio do exame de toque retal e ultrassom. A próstata é um órgão que vai crescer à medida que o homem envelhece.
Então, quanto mais velho o homem, é esperado um PSA (antígeno prostático específico) maior. Esse PSA é analisado por um médico urologista que, quando tem uma suspeita, é encaminhado aqui, para o Hospital de Câncer e a gente faz o exame de toque e o ultrassom. Para confirmar, fazemos biópsia.
O Estado MS: Então, pode haver o aumento da próstata, só não pode ter alteração do PSA?
Marcelo Vilela: Isso! Os médicos urologistas são treinados para identificar a alteração. Quando ela aparece, existe uma suspeita grande de câncer de próstata.
O Estado MS: O doutor ainda considera a procura baixa? Ou está caminhando para uma procura maior, pelos exames preventivos?
Marcelo Vilela: O grande tabu é realmente a realização do toque retal, o toque da próstata. Os homens ainda têm muita resistência ao exame, fazem, no máximo, o exame de sangue. Porém, percebemos que está aumentando a adesão e a conscientização sobre a doença. Hoje, é muito melhor que há 10 anos atrás! Lógico que não é o ideal, mas as Unidades Básicas de Saúde estão abertas e está tendo uma procura. Na verdade, a procura está se dissolvendo com a ajuda das campanhas.
O Estado MS: Quais os benefícios dos exames preventivos para o homem?
Marcelo Vilela: Ter maior qualidade de vida, pois só quem já foi internado ou passou por cirurgia vai entender a importância e necessidade de cuidar da saúde. Muitas vezes, as pessoas têm que passar por um período de doença para entender que é muito melhor fazer exames antes, tentar se precaver, do que encontrar uma doença na fase aguda e com necessidade de internação. A prevenção é o caminho para a melhora de qualquer tipo de doença.
O Estado MS: Quais são os sintomas do câncer de próstata?
Marcelo Vilela: É aí que está o problema: o sintoma só aparece em fases tardias da doença, que já se espalhou, e a gente não quer tratar com ela espalhada pelo corpo. Queremos tratar quando ainda está dentro da próstata, que é curável, detectável apenas com o exame de sangue ou toque.
O Estado MS: Costuma se espalhar para quais órgãos?
Marcelo Vilela: Principalmente para o esqueleto. Há 20 anos atrás era muito comum ver o paciente chegando de cadeira de rodas, aí, quando vamos ver, o PSA está nas alturas, com o câncer em metástase, na coluna. Tem também metástase para o cérebro, para o pulmão e fígado. Normalmente, ela é local e vai para o esqueleto, para depois vai para o cérebro.
O Estado MS: Então, houve épocas em que os homens chegavam a não andar mais por causa do câncer de próstata?
Marcelo Vilela: Sim, ficavam sem o movimento das pernas. Essa doença tem a característica da hereditariedade, sendo mais comum em negros. Quem tem histórico de câncer de mama na família também é um alerta importante. Então, não podemos esperar ter o sintoma, porque é igual à pressão arterial e diabetes, começa sem sintomas e quando vem a fase aguda, já está em uma situação grave. A hipertensão, por exemplo, quando apresenta sintomas, o paciente já está com insuficiência cardíaca. A diabetes, já está perdendo a visão.
O Estado MS: As buscas, nesse mês de novembro, detectaram casos positivos?
Marcelo Vilela: Vamos saber ao final da campanha, quando avaliarmos os PSAs. Vamos ter o reflexo lá por fevereiro ou março, quando começarmos a atender os pacientes com possíveis alterações.
O Estado MS: Câncer de próstata tem uma faixa etária. Qual o peso do histórico familiar na mudança dessa faixa etária?
Marcelo Vilela: Há cerca de 10 anos atrás, a gente pedia para fazer os exames a partir dos 40 anos, para quem tem histórico familiar. Hoje, a recomendação subiu para 45 e acima de 50, para quem não tem o fator hereditariedade.
O Estado MS: Falamos sobre o paciente perder os movimentos das pernas, nos casos extremos. Quais são as outras sequelas da doença?
Marcelo Vilela: O câncer avançado vai causar problemas na função renal, com necessidade de hemodiálise, além dos problemas na coluna e paralisia dos membros inferiores. Quando chega no cérebro pode dar crises convulsivas e até óbito. Hoje, estamos na fase de chegar antes de ter as sequelas. A cirurgia, o tratamento, pode trazer algumas sequelas, como incontinência urinária, vazando urina, e dificuldade de manter ereção, mas tudo isso vem diminuindo com os anos, pois temos tratamento para as sequelas. É melhor ficar sem o câncer, curado, do que morrer pelo câncer, por falta de procura médica.
O Estado MS: Então, independente da sequela, a medicina atual vai apresentar um tratamento?
Marcelo Vilela: Sim! Graças a Deus, a gente consegue auxiliar. Falar que viverá como antes do tratamento não é possível, mas haverá uma melhora na qualidade de vida e sem o câncer.
O Estado MS: Qual é a real importância do toque retal?
Marcelo Vilela: O câncer muda a consistência da próstata. Ela é macia, igual à região hipotênar (palma da mão) e, quando há um câncer, muda Campanha Novembro Azul termina com mais de 1,7 mil exames realizados, no HCAA essa consistência. O médico urologista experiente sabe, ao tocar, que existe alteração. Outra coisa, o exame também vai mostrar se o câncer está em uma pequena área do órgão ou em toda próstata, pois são seis áreas para serem avaliadas. É muito rápido! A gente, que tem experiência, consegue detectar muito rápido. Não dura 5 minutos! É em segundos.
O Estado MS: Além do câncer, existem outras doenças que podem afetar a próstata?
Marcelo Vilela: Sim! A saúde do homem, no aparelho geniturinário, a próstata normalmente vai trazer sintomas de infecção urinária. A bexiga vai envelhecer, então o jato vai ficar mais lento, a pessoa irá mais vezes ao banheiro, mas a gente tem medicações e acompanhamento. Cerca de 20% desses pacientes, que têm o aumento benigno da próstata, a gente tem como dar qualidade de vida com medicamentos ou cirurgia.
O Estado MS: Quando vai envelhecendo, há casos de dores ao urinar?
Marcelo Vilela: A dor é causada porque há retenção da urina e essa urina ajuda no aumento das bactérias, que vai para a próstata e causa infecção. É muito comum o idoso ter infecção urinária. Na verdade, infecções causam a mortandade dos idosos, sendo, na maioria das vezes, urinária ou pulmonar. Infelizmente, isso é normal. No mundo, a população acima de 80 anos morre de infecções, depois de câncer e doenças neurológicas ou complicações pela diabetes e hipertensão.
O Estado MS: Qual recomendação o doutor deixa para os homens que não conseguiram participar na campanha Novembro Azul?
Marcelo Vilela: A busca espontânea é por meio da Atenção Primária em Saúde, nos postos de saúde, nos bairros. Em cada uma das sete regiões de Campo Grande, há mais de três Unidades Básicas de Saúde da Família. É lá que
se busca o clínico geral, que vai perceber a necessidade de realizar o exame de PSA e, se der alterado, encaminhar para a avaliação de um urologista. Pode ser o urologista que fica no CEM (Centro de Especialidades Médicas) ou dos hospitais Universitário, Regional ou aqui, no Alfredo Abrão. É assim que funciona a Saúde.
Cabe destacar que a campanha Novembro Azul existe para alertar, mas esses exames são feitos o ano inteiro e o ideal é que o paciente procure fazer seus exames preventivos, pelo menos, uma vez ao ano. Não só o PSA, mas ter uma rotina anual de exames, de acordo com sua faixa etária.