Conteúdo da delação premiada feita pelo ex-chefe de compras da prefeitura de Sidrolândia, Thiago Basso da Silva, revela que grupo criminoso que comandava o esquema de corrupção no município tentou de várias formas barrar o acordo de colaboração dele com a Justiça. O ex-servidor contou aos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) que, enquanto estava preso, foi ameaçado diretamente por um dos empresários atuantes no esquema e foi procurado por um advogado ‘braço direito’ da prefeita Vanda Camilo (PP) para ‘comprar’ seu silêncio.
Conforme documentos obtidos pela reportagem do Jornal MidiamaxThiago contou que ficou preso junto com os empresários Ueverton da Silva Macedo, o ‘Frescura’, e Roberto da Conceição Valençuela. Neste período, o ex-servidor revela que o trio ficou em uma ala do presídio comandada pelo PCC e que ‘Frescura’ conhecia muito bem vários presos ali. “A ala 1 é faccionada do PCC, é o PCC que comanda aquela unidade ali. Ele (Frescura) tinha muito contaato com aquelas pessoas ali (…) todo mundo conhecia ele, tinha vínculo de amizade ou de favor que devia para ele lá (..) isso me gerou pânico na época”.
Ainda conforme depoimento feita por Thiago, em conversa no pátio do presídio sobre uma possível delação premiada, o próprio ‘Frescura’ o ameaçou. “Um dia questionei o ‘Frescura’ sobre a possibilidade de fazermos delação. Ele ficou bem alterado. Dois dias depois me chamou pra conversar e ele falou que, se eu tomar a decisão de fazer a delação premiada, pode ter certeza que antes da minha mãe chorar, a mãe que vai chorar é a sua”, lembrou.
Então, revelou que foi procurado por um advogado que teria sido indicado por um ‘braço direito’ da prefeita Vanda Camilo (PP) – sogra do vereador licenciado e apontado como chefe do esquema de corrupção, Claudinho Serra (PSDB) -. “Fui procurado por outro advogado, indicado pelo Pitó (ex-secretário de Fazenda e de saúde de Sidrolândia, Luiz Carlos Pitó). ‘Frescura’ foi comigo (…) e disse que só quero saaber sobre delação premiada, não nem pensar (teria dito o advogado aos dois)”. Nisso, o advogado também teria dito que Thiago não precisaria pagar seus honorários, pois o “pagamento vai ser por parte deles”, disse o advogado sem revelar quem seriam essas pessoas. Ainda, disse que era para ficar tranquilo que a família dele lá fora, enquanto Thiago estivesse preso, seria cuidada “por eles”.
“Não falou quem estaria custeando, só sei que quem indicou foi o Pitó. Antes do Cláudio Serra, ele vem com a Vanda desde a época do hospital. Nem Cláudio Serra é braço direito dela, o braço direito dela (Vanda) é o Pitó”, concluiu.
Pagamento em dobro por um produto ou serviço, “mesada” de 10% cobrada de empresários e uso de contratos para interesses pessoais são alguns dos exemplos mencionados por Silva sobre como operava o grupo.
Tiago Basso da Silva descreveu como Claudinho Serra – na época secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica – fazia cobranças aos empresários vencedores de licitações milionárias no município de Sidrolândia.
Nessa lista de empresários estão alguns réus da Operação Tromper como José Ricardo Rocamora, Luiz Gustavo Justiniano Marcondes e Milton Matheus Paiva Matos. Os pagamentos eram feitos, na maioria dos casos, em dinheiro em espécie.
“O Cláudio Serra cobrava, na época secretário de fazenda, uma porcentagem de 10% das empresas que tinham grandes contratos com o Município, uma porcentagem de 10% de tudo aquilo que era pago pelo Município. Então ele me fazia levantamentos, igual Ricardo Rocamora, outras empresas. Essa empresa recebeu R$ 30 mil neste mês do município, então você tem que cobrar dela R$ 3 mil neste mês. Dez por cento tem que pagar de comissão para a gente aqui”, afirmou Silva durante a delação.
Valor pago em dobro
Outro ponto abordado por Silva era que os preços pagos pelos empenhos eram feitos em dobro. Se um serviço custasse em R$ 3 mil, por exemplo, a Prefeitura de Sidrolândia desembolsava R$ 6 mil.
Além disso, Claudinho Serra usava os contratos para interesses pessoais, especialmente com a empresa de Rocamora.
“Se o Claudio Serra precisasse de uma coisa, como dinheiro ou de algum item que ele necessitava, como compra de telha ou a compra de um poste de madeira para fazenda dele. ‘Compra lá, o Ricardo acerta e vamos pagar ele com nota da prefeitura’”, exemplificou.
Operação Tromper
Nas duas primeiras fases da Operação Tromper, os agentes investigaram corrupção na prefeitura de Sidrolândia, cidade distante 70 quilômetros de Campo Grande. Durante as investigações, foi descoberto, segundo o Gecoc, conspiração entre empresas que participaram de licitações.
Elas firmaram contratos com a Prefeitura de Sidrolândia, que somados chegam a valores milionários. Ainda segundo as apurações, também foi investigada a existência de uma organização criminosa voltada as fraudes em licitações e desvio de dinheiro público.
Além disso, foi apurado o pagamento de propina a agentes públicos, inclusive em troca do compartilhamento de informações privilegiadas da administração pública.