Quebra de sigilo bancário revela que grupo criminoso comandado por Francisco Cezário simulou compra de uniformes para desviar R$ 90 mil da FFMS (Federal de Futebol de Mato Grosso do Sul) em esquema de “rachadinha”.
Conforme o levantamento, as contas bancárias utilizadas pela Federação para o pagamento dos serviços contratados eram as mesmas que recebiam as verbas do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, o que demonstra a utilização de dinheiro público nas transações ilícitas.
Para forjar a compra Cezário fazia parceria com a fornecedora de uniformes dos principais times do Estado, Invictus Sports, que tem como razão social o nome de Patrícia Gomes de Araújo Ltda, mas que, na prática, era comandada por Marcus Antônio de Araújo, citado em diálogo mantido entre Aparecido Alves Pereira e Rudson Bogarim Barbosa.
Durante quatro anos, a empresa de fachada recebeu da Federação, mais de R$ 750.000,00. Mas devolveu cerca de R$ 90.000,00 para a conta bancária de Aparecido Alves Pereira, o que escancara o esquema de desvio por meio da devolução de parte do valor pago pela Federação.
Na conversa entre Aparecido Alves Pereira e Rudson Bogarim Barbosa no dia 09 de fevereiro de 2023, Rudson informa que o dinheiro havia caído na conta e que iria dar início aos pagamentos. Assim, Aparecido diz que Umberto Alves Pereira “vai querer pagar de cara o Marcão, só o Marcão é 165”.
Logo em seguida, Rudson informa que vai pedir para Umberto “segurar e pagar o Marcão amanhã, porque só uma nota dele é o valor que Aparecido falou” (…) “que uma nota de 20(vinte) e poucos mil”.
O esquema confirmado por meio de quebra de sigilo, aponta, ainda, que no dia 09 de fevereiro de 2023, o Governo do Estado transferiu R$ 1.014.490,00 para a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, sendo que no dia seguinte, houve um repasse de R$ 194.500,00 para a empresa Patrícia Gomes de Araújo LTDA (Invictus Sports), em duas transações, uma de R$ 165.000,00 e outra de R$ 27.500,00, exatamente conforme acertado na conversa de Aparecido e Rudson.
As investigações também mostram que, além dos desvios em falsas contratações, os investigados utilizaram dinheiro público para custear despesas particulares, conforme informações de conversa entre Valdir Alves Pereira e sua esposa Janet Garcia Resende. Na ocasião, ele declara ter sido solicitado se alguém conseguiria trocar um cheque e que “esses dias deram dez mil para ele, ele pegou cinco da Federação, e pegou não sei mais o que”.
Durante os diálogos mantidos com sua esposa, Valdir reclama que Francisco Cezário diz não ter dinheiro para pagar o seu veículo, mas que possui recursos para gastar com Jamiro Rodrigues de Oliveira (Miro), presidente do Clube Misto de Três Lagoas-MS.
Diante das informações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), o Juiz Eduardo Eugênio Siravegna Junior, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, considerou que Aparecido Alves Pereira, Francisco Cezário de Oliveira, Francisco Carlos Pereira, Marcelo Mitsuo Elzoe Pereira, Umberto Alves Pereira, Valdir Alves Pereira e Rudson Bogarim Barbosa, estruturam organização criminosa voltada à prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, falsidade e demais delitos correlatos.
Operação na Federação de Futebol
Operação Cartão Vermelho identificou desvios de mais de R$ 6 milhões. Conforme informações do Gaeco, o grupo realizava pequenos saques de até R$ 5 mil para não chamar atenção dos órgãos de controle.
Mais de R$ 800 mil foram apreendidos, inclusive em notas de dólar somente durante o cumprimento dos mandados nesta terça-feira, além de revólver e munições.
Dessa forma, os valores eram distribuídos entre os integrantes da organização criminosa. O esquema se estendia também a outras empresas que recebiam altas quantias da federação. Assim, parte dos valores era devolvida ‘por fora’ ao grupo.
A organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. Equipes do Gaeco cumpriram 7 mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.
Conforme o Gaeco, o nome da operação faz alusão ao instrumento utilizado pelos árbitros para expulsar os jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.
Lista de investigados na Operação Cartão Vermelho
Jamiro Rodrigues de Oliveira, vice-presidente da FFMS; Marco Antônio Tavares, vice-presidente e coordenador de competições da federação, que também consta como presidente da Federação de Tênis de Mesa; Aparecido Alves Pereira, delegado de jogos da FFMS; Rudson Bogarim Barbosa que, em publicação do site da entidade, em 2022, constava como gerente da TI da FFMS; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira; Francisco Carlos Pereira Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira; Francisca Rosa de Oliveira; Marco Antônio de Araújo; Patrícia Gomes Araújo; Sindicato dos Árbitros Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindarbitros); empresa Invictus Sports.