Diretora-geral do Bioparque Pantanal fala sobre o impacto do empreendimento na Capital, a inserção no turismo internacional e os avanços em pesquisa e conservação de espécies
Desde a sua inauguração, há dois anos e meio, o Bioparque Pantanal se consolidou como um dos principais atrativos de Campo Grande e do Brasil. Originalmente desacreditado, o empreendimento rapidamente se transformou em um sucesso, sendo destacado pela revista Time e obtendo as melhores avaliações no Google entre museus e aquários no mundo.
Para a diretora-geral do Bioparque, Maria Fernanda Balestieri, o empreendimento não apenas atrai visitantes de todas as partes do Brasil e de 129 países, como também desempenha um papel vital na conservação e pesquisa de espécies pantaneiras.
Nesta entrevista, a gestora avalia o Bioparque sob diversos aspectos, como sua inserção no turismo local e internacional, as ações de pesquisa e conservação realizadas em seu espaço e sua importância socioeconômica para Mato Grosso do Sul.
Além disso, são abordadas questões sobre manutenção, custos, acessibilidade e a participação em projetos de parcerias público-privadas, destacando o impacto positivo do Bioparque na preservação do Pantanal.
Passados dois anos e meio da inauguração do Bioparque Pantanal, qual o balanço que você faz do empreendimento? Ele foi abraçado pela cidade de Campo Grande? Conseguiu se inserir em roteiros turísticos?
A inauguração do Bioparque Pantanal foi um marco para Campo Grande. Saiu de obra mais desacreditada para se tornar um dos lugares recomendados pela revista Time em menos de um ano e, hoje, está referendado pelo Google com a maior pontuação entre os lugares mais visitados no Brasil e no mundo, além de ter a melhor pontuação entre os empreendimentos do ramo de aquários e museus.
O Bioparque Pantanal inseriu nossa Capital Morena nos roteiros turísticos de Mato Grosso do Sul, do Brasil e do mundo, ampliou o potencial turístico de Campo Grande e vem contribuindo de forma socioeconômica, socioambiental e sociocultural com o município e com o Estado.
Como está a situação do Bioparque Pantanal no que diz respeito à pesquisa? Como é a interação com pesquisadores locais e de fora do Estado e do Brasil na pesquisa de espécies?
O Bioparque é um espaço que vai muito além da contemplação, é um espaço de experiência e conhecimento para todos, onde o turismo científico está inserido em um de seus eixos e a pesquisa é um de seus pilares.
O Bioparque é um verdadeiro laboratório vivo, que propicia, de forma ímpar, estudos e pesquisas nas mais diversas áreas. A estrutura do empreendimento está alinhada ao plano de governo do Estado (Verde, inclusivo, próspero e digital) e conta com um Núcleo de Pesquisa e Tecnologia (Nuptec), com linhas de pesquisa voltadas à bioeconomia, conservação, sustentabilidade, biotecnologia, biossegurança, bem-estar animal, inteligência artificial, tecnologia assistiva, linguística, entre outras.
Do trabalho técnico-científico desenvolvido, já foram obtidos resultados expressivos, com publicações científicas de alto fator de impacto e reproduções de espécies inéditas para a ciência no mundo e no Brasil, incluindo, entre elas, espécies ameaçadas de extinção.
O Bioparque conta com diversas parcerias firmadas com instituições governamentais e não governamentais, bem como com pesquisadores do Brasil e do exterior, como Marinha do Brasil, UEMS, UFMS, IFMS, UCDB, Uniderp, UFPA, Ufopa, UFMT, Ufscar, BSSW (Alemanha), entre outras.
Quantas pessoas visitaram o Bioparque em 2023 e neste ano? Como está o fluxo e qual o perfil dos visitantes?
Tivemos um público total de mais de 900.000 visitantes da abertura das visitas até hoje.
O fluxo foi intenso, com média mensal de 33.300 visitantes e média diária de 1.660 (visitantes). Os visitantes são de todos os estados do Brasil, todos os municípios de Mato Grosso do Sul e estrangeiros de 129 países.
Como o Bioparque está inserido no projeto de parceria público-privada que está sendo elaborado pelo Escritório de Parcerias Estratégicas do governo?
Tais questões são tratadas diretamente entre secretarias, como a de Governo e a Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), e com o Escritório de Parcerias Estratégicas de MS.
Qual o custo anual de manutenção do Bioparque? Há possibilidade de se fazer parcerias com a iniciativa privada, cobrar ou captar contribuições voluntárias dos visitantes?
Custo médio de R$ 14 milhões por ano, investimento que se reverte em educação ambiental, pesquisa, inclusão, tecnologia e inovação, cultura e lazer. Já passaram mais de 75.000 alunos e foram 178 eventos realizados e 127 visitas técnicas.
O Bioparque se tornou um espaço de encontro de pessoas, independentemente de raça, cor, situação econômica ou deficiência. É um lugar onde ninguém fica para trás.
Lamentavelmente, as queimadas no Pantanal colocaram o bioma em evidência no Brasil todo. Isso torna o Bioparque, de uma certa forma, uma referência da fauna do Pantanal em suas condições ideais? A situação atual influencia os visitantes?
O Bioparque Pantanal é referência mundial no manejo ex situ (fora do lugar de origem) de peixes do Pantanal. Hoje consolidado como o maior banco genético vivo da ictiofauna pantaneira no mundo, o Bioparque conta com um centro de conservação onde são conduzidos estudos sobre reprodução, bem-estar e conservação de peixes do Pantanal, com destaque para espécies ameaçadas de extinção.
Ao todo, 66 espécies se reproduziram, incluindo 15 registros inéditos no mundo e 15 registros inéditos no Brasil. Entre as reproduções, podemos destacar o cascudo-viola (Loricaria coximensis), uma espécie da Bacia do Paraguai que atualmente está presente na lista de espécies ameaçadas de extinção do MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Esse setor foi criado com o intuito de contribuir para a preservação das espécies de peixes pantaneiros, o que significa que temos a expertise para produzir indivíduos geneticamente viáveis para futuros repovoamentos em caso de extinção local ou redução de subpopulações de peixes na Bacia do Paraguai.
Esse projeto está em consonância com o trabalho de educação ambiental realizado no circuito de exposição, em que são divulgados os resultados dos estudos de reprodução e conservação para os visitantes, que tem a oportunidade de entender e replicar a importância de preservar e conservar o bioma Pantanal.
Um outro ponto importante para garantir que nossos peixes vivam com qualidade de vida são os recintos de exposição meticulosamente planejados para poder atender a todas as necessidades dos animais, incluindo uma cenografia fidedigna a seus habitats, e um robusto sistema de suporte à vida, que garante os parâmetros adequados de água, com controle de temperatura e iluminação.
O Bioparque ainda conta com um time especializado de profissionais para atender às necessidades fisiológicas dos animais, por meio de uma alimentação balanceada produzida pelos zootecnistas do setor de nutriçã. O comportamento é acompanhado pelos biólogos, e a água de todos os tanques é monitorada pelo Laboratório de Águas, tudo isso para garantir o bem-estar de todos os animais do Bioparque.
Em países europeus e nos EUA, é comum que os grandes aquários abriguem eventos itinerantes, atrativos sazonais para os visitantes, como exposições de peixes de outras regiões ou eventos associados a alguma produção cinematográfica. É possível fazer parcerias com o Bioparque?
O Bioparque já realiza exposições itinerantes e parcerias, sempre alinhadas com as temáticas ambiental, científica e tecnológica e com a representatividade cultural. Além disso, o espaço apresenta constantemente aos visitantes novos atrativos que vão ao encontro de seus pilares.
O Centro de Convenções do empreendimento é palco de encontros culturais e eventos com temáticas variadas. O circuito de aquários conta com um tanque itinerante que é sempre um atrativo a mais para o público e, em consonância com a educação ambiental, serve como uma ferramenta poderosa para transmitir a mensagem sobre a importância da conservação dos ecossistemas aquáticos. O tanque com peixe-palhaço, o famoso Nemo, foi um sucesso com o público estudantil e infantil.
Além dos atrativos que destacam os animais, contamos ainda com uma rica exposição da Marinha do Brasil, que mostra aos visitantes um acervo com peças históricas, mostruários de itens e orientações sobre como ingressar (na instituição).
Em parceria com o Sesi, uma oficina comunitária é disponibilizada no circuito para pintura coletiva, com o objetivo de apoiar a arte e a sustentabilidade no Pantanal.
Existe algum plano para melhorar o acesso ao Bioparque, uma vez que o estacionamento é uma das obras inacabadas?
As melhorias no estacionamento do Bioparque estão inclusas no projeto de revitalização do Parque das Nações Indígenas.
Perfil
Maria Fernanda Balestieri
Maria Fernanda Balestieri é diretora-geral do Bioparque Pantanal. É advogada formada pela Unigran, pós-graduada em Direito Processual pela Unisul, cursa MBA em Gestão, Liderança e Inovação na PUC-RS e graduação em Biologia na Estácio. Também é artista plástica.
Correio do Estado