O Departamento de Defesa dos Estados Unidos informou a existência de ao menos 819 documentos, que somam cerca de 3 mil páginas de registros, relacionados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esses documentos foram produzidos a partir do monitoramento do petista por décadas por vários órgãos do governo norte-americano. Desse total, a maior parte, 619 documentos, é da Agência Central de Inteligência (CIA).
As informações foram solicitadas ao governo dos Estados Unidos pelo jornalista e escritor Fernando Morais, com a ajuda do escritório de advocacia Pogust Goodhead. Morais é autor de vários livros, incluindo as biografias do próprio presidente Lula, de Assis Chateaubriand e de Olga Benário.
Os pedidos para ter acesso aos documentos sigilosos que os órgãos de inteligência e controle norte-americanos produziram sobre Lula foram feitos com base na Freedom of Information Act — espécie de Lei de Acesso à Informação norte-americana. O escritor tenta acessar documentos que tratam do envolvimento político, atividades, afiliações e carreira do petista, de 1966 a 2019.
Além da CIA, os pedidos foram encaminhados para o Departamento Federal de Investigação (FBI), à Agência Nacional de Segurança (NSA) e à Rede de Combate a Crimes Financeiros (Financial Crimes Enforcement Network – FinCEN).
“A solicitação refere-se especialmente aos três períodos de Lula como Presidente do Brasil, suas campanhas presidenciais, sua atuação como líder sindical nos anos 70, a participação de Lula na criação do Partido dos Trabalhadores, ao período em que Lula enfrentou acusações criminais na justiça brasileira e de seu período na prisão”, informou o Pogust Goodhead ao Terra.
De acordo com o escritório, dezenas de documentos elaborados pelos Estados Unidos envolvem a relação entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016), contatos de Lula com autoridades do Oriente Médio e da China, planos militares brasileiros e produção de petróleo da Petrobras. Foram pedidos acessos a relatórios, levantamentos, e-mails, cartas, minutas de reuniões, registros telefônicos, entre outros materiais.
Morais pretende usar os dados sigilosos para escrever um segundo livro sobre o presidente, ainda sem data de lançamento. O primeiro volume da biografia, intitulada Lula, foi publicado em 2021.
“Meu objetivo é obter essas informações que vão mostrar claramente o olhar dos Estados Unidos da América em relação ao presidente Lula ao longo dos anos. Sabemos que o governo norte-americano analisou de perto o cenário político brasileiro nas últimas décadas, e o Lula é um dos personagens mais marcantes e importantes da história da América Latina”, disse Fernando Morais.
Conforme o Pogust Goodhead, o próprio presidente assinou um documento que autoriza as agências a encaminharem a Morais “quaisquer registros localizados e passíveis de divulgação que respondam a uma solicitação” da lei de acesso.
As solicitações aos documentos foram feitas no último dia 5 e o jornalista ainda não teve acesso à íntegra dos registros. A legislação dos Estados Unidos prevê que os órgãos governamentais têm até 20 dias úteis, prorrogáveis por mais 20 dias, para informar se vão disponibilizar ou não os dados. De acordo com o advogado Felipe Hotta, foram atendidas todas as condições necessárias para obter os documentos.
“É preciso jogar luz na relação entre os dois maiores países do continente americano. Esse é um direito do nosso cliente Fernando Morais e de todos os brasileiros. Estamos confiantes de que as autoridades norte-americanas atenderão nosso pedido”, afirmou Tom Goodhead, CEO e sócio-administrador global do Pogust Goodhead.
Fonte: Terra/ML