Evo Morales é investigado por supostamente estuprar uma adolescente em 2014
Helder Carvalho –
O Ministério da Justiça da Bolívia disse nesta quinta-feira (3) que o ex-presidente Evo Morales, líder da oposição e adversário político do presidente Luis Arce, é investigado por supostamente estuprar uma adolescente em 2014 com quem teria tido uma filha.
Conforme o ministro da Justiça, César Siles, a adolescente tinha cerca de 15 anos na época. Siles fez a revelação durante uma entrevista coletiva. “Observamos com indignação crimes graves que pretendem ficar na impunidade. Refiro-me concretamente a uma menina estuprada aos 15, 16 anos”, afirmou.
Siles afirmou que uma certidão de nascimento reconhece Evo como pai da filha da vítima, e que o caso está sob investigação. O escândalo veio à tona nesta quarta-feira (2), quando a promotora afirmou ter sido destituída do cargo por pedir a prisão de Evo no âmbito de uma investigação de tráfico de pessoas.
Segundo informações da Folha de São Paulo, o pedido de prisão contra o ex-presidente teve seu conteúdo divulgado na imprensa e detalha o envolvimento de Evo com a adolescente, com quem teria tido uma filha.
Sem se referir à acusação, Evo escreveu no X: “Não me causa estranhamento nem preocupação. Todos os governos neoliberais, incluído o atual, ameaçaram-me, perseguiram-me, prenderam-me, tentaram me matar. Não tenho medo! Não vão me calar!”
Uma juíza de Santa Cruz acatou ontem um recurso dos advogados de Evo que anulou a ordem de prisão depois da destituição da promotora original do caso.
Evo tem organizado protestos contra o governo Arce nas últimas semanas a fim de pressionar pela convocação de novas eleições — o próximo pleito está marcado para agosto de 2025, e o ex-presidente é impedido pela legislação atual de concorrer novamente. Evo governou a Bolívia de 2006 a 2019, quando foi forçado a deixar o país pelos militares após vencer um quarto mandato.
Um dos protestos consistiu em uma marcha até a capital, La Paz, que terminou em confronto com a polícia e dezenas de feridos. Evo chegou a dar um ultimato a Arce no último dia 23, dizendo que o presidente teria que trocar seus ministros em 24 horas caso quisesse “continuar governando”. O governo Arce considerou a fala uma tentativa de golpe de Estado.
Arce e Evo travam uma ferrenha disputa por controle do partido governista, o MAS (Movimento ao Socialismo), dominado pelo ex-presidente por muitos anos. Ex-ministro da Economia e escolhido a dedo por Evo para sucedê-lo e disputar as eleições de 2020, Arce se distanciou do seu padrinho político com a tentativa do ex-presidente de concorrer novamente ao cargo em 2025 como candidato do MAS.
O racha entre os dois piorou depois da tentativa de golpe militar na Bolívia em junho deste ano. O general por trás da quartelada, Juan José Zúñiga, havia sido removido do posto por Arce um dia antes de cercar o palácio presidencial com tanques por se manifestar contra um eventual retorno de Evo à Presidência e ameaçar o ex-presidente.
Quando a situação foi distensionada e o general, preso, Zúñiga afirmou ter agido a mando de Arce — o presidente nega. Evo disse na época estar convencido de que a ação do general foi uma tentativa de autogolpe por parte de Arce para evitar seu retorno ao poder.
*Com Folha de São Paulo
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