Pré-candidato a prefeito, Douglas Figueiredo (PSDB) terá como adversária em outubro Maria Vital (PP), a mãe da vítima
O assassinato do ex-vereador Wander da Silva Vital (PP), o Dinho Vital, pelo sargento da Polícia Militar (PM) Valdeci Alexandre da Silva Ricardo e pelo cabo da PM Bruno César Malheiros dos Santos, deixou de ser um homicídio comum para se tornar um crime político que interfere de forma direta na pré-campanha para a prefeitura de Anastácio.
Os desdobramentos da operação deflagrada nesta sexta-feira pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – que culminou com as prisões do ex-prefeito Douglas Melo Figueiredo (PSDB), pré-candidato ao cargo na eleição de 6 de outubro e suspeito de ser o mandante do crime, além dos dois policiais militares –, praticamente confirmam a suspeita de que o homicídio teve motivação política.
Segundo apurou o Correio do Estado, o diretório municipal do PP em Anastácio estava costurando desde o ano passado uma aliança política com o Podemos, para que a mãe da vítima, a ex-vereadora Maria Vital (PP), seja a pré-candidata a prefeita no pleito deste ano, uma vez que ela tem uma grande aprovação popular e poderia ameaçar as pretensões de Figueiredo de voltar à prefeitura.
Em razão disso, ainda conforme fontes ouvidas pela reportagem, Douglas Figueiredo teria iniciado articulações políticas para impedir que a pré-candidatura de Maria Vital fosse concretizada. Ele teria até tentado assumir o comando municipal do PP para inviabilizar que o partido pudesse disputar a eleição majoritária.
O presidente municipal do PP, Temilson Cabral de Oliveira, confirmou ao Correio do Estado que o ex-prefeito tinha começado um movimento para impedir que a sigla tivesse uma pré-candidatura à prefeitura e que até tirou muitos nomes da legenda que tentariam uma vaga na Casa de Leis.
“Desde o ano passado, eu e o Dinho estávamos negociando disputar a prefeitura de Anastácio. Até troquei o Avante pelo PP com esse objetivo, mas quando Douglas ficou sabendo, ele tentou tomar o comando do partido, o que deixou o Dinho muito irritado”, explicou Temilson de Oliveira.
Ele revelou ainda que o motivo da confusão ocorrida na festa de comemoração dos 59 anos de Anastácio, no dia 8, teria sido o fato de o atual prefeito Nildo Alves de Albres (PSDB) ter anunciado publicamente o apoio à pré-candidatura de Douglas Figueiredo, mesmo tendo prometido a Dinho Vital que não faria isso.
“Nildo tinha prometido a Dinho que caminharia com o PP nas eleições municipais deste ano, mas recuou para apoiar Douglas. Dinho foi tirar satisfação com ele, mas os ânimos ficaram exaltados, e (o evento) terminou de forma trágica”, lamentou o presidente municipal do PP.
Ainda conforme Temilson de Oliveira, a tragédia aliada à prisão do ex-prefeito Douglas Figueiredo já deve provocar uma mudança na disputa eleitoral, como já foi possível verificar na manifestação realizada na noite de quarta-feira no centro de Anastácio, quando mais de 500 pessoas cobraram agilidade da Polícia Civil na investigação do assassinato.
“Os moradores de Anastácio, principalmente as mães, estão solidários com dona Maria Vital, que perdeu o filho amado. Agora, com a prisão de Douglas, acredito que os eleitores vão dar a resposta nas urnas”, projetou o líder partidário.
ENTENDA
Nove dias depois do assassinato do ex-vereador, o Gaeco deflagrou uma operação para cumprir mandados de busca, apreensão e prisão pelas ruas de Anastácio e Aquidauana, resultando na detenção do ex-prefeito Douglas Figueiredo, o qual está sendo investigado por suposto envolvimento no crime, e dos policiais militares Valdeci Ricardo e Bruno dos Santos.
Conforme as apurações iniciais, o juiz Luciano Pedro Beladelli, da 1ª Vara da Justiça de Anastácio, autorizou os mandados em endereços ligados a Douglas Figueiredo e aos policiais militares.
Na casa do ex-prefeito, o Gaeco encontrou uma pistola e duas espingardas, além de munições, tudo sem registro, o que resultou em sua prisão, pois os mandados contra ele eram só de busca e apreensão.
Já os dois policiais militares tinham contra eles mandados de prisão. Ambos estavam afastados desde o crime. Em seu despacho, o magistrado deixou claro que os mandados foram para encontrar possíveis provas que pudessem comprovar um crime político.
Segundo Beladelli, o mandado visava “coletar provas relativas à prática do crime de homicídio qualificado, por meio da apreensão de vestígios físicos ou digitais localizados, por exemplo, em cadernos, agendas, anotações avulsas, extratos, dispositivos eletrônicos, servidores, redes ou em serviços de armazenamento em nuvem de qualquer espécie, quando houver suspeita que contenham material probatório relevante para as investigações; sem prejuízo, obviamente, de eventuais instrumentos caracterizadores de crime”.
O CRIME
Dinho Vital foi assassinado a tiros na noite do dia 8, após um desentendimento e um tumulto na festa de comemoração pelos 59 anos de Anastácio.
Conforme a versão oficial, o ex-vereador teria deixado a festa e retornado armado, quando foi abordado pelos agentes da PM, os quais não estavam fardados. Uma vez que ele teria se negado a entregar a arma, acabou atingido pelos policiais, conforme a versão apresentada por eles. Uma arma foi encontrada no local onde teria ocorrido a suposta troca de tiros.
Com as buscas determinadas na sexta-feira, os investigadores tentaram descobrir algum indício de que o ex-prefeito tenha, de alguma forma, influenciado os policiais militares no homicídio, pois, de acordo com testemunhas, eles estariam no local para fazer a segurança pessoal de Douglas Figueiredo.
Nota oficial
Nota oficial
Por meio de nota, o ex-prefeito afirmou acreditar que a operação do Gaeco tem viés político e lamenta veementemente a forma arbitrária como a ação foi conduzida
em sua residência.
Ainda no documento, Douglas Figueiredo repudiou veementemente a operação, afirmando que ela se configura como uma flagrante tentativa de desmoralizá-lo e de inviabilizar sua candidatura, baseada em uma narrativa criada por opositores. Leia abaixo a nota na íntegra.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
NOTA DE ESCLARECIMENTO
“Diante dos lamentáveis acontecimentos da manhã desta sexta-feira (17/5), venho a público manifestar minha profunda indignação e esclarecer os seguintes pontos.
Lamento veementemente
a forma arbitrária como a operação foi conduzida em minha residência. A ação se configura como uma flagrante tentativa de me desmoralizar e inviabilizar minha candidatura, baseada em narrativa criada por opositores.
1. Viés político e injustiça: Acredito que essa operação tem um viés político evidente, motivada por minha liderança nas pesquisas eleitorais.
É inaceitável que se usem métodos tão questionáveis para tentar me silenciar e impedir que eu continue na pré-campanha que, dia a dia, tem mais apoio.
O meu encaminhamento até à delegacia se deve por um erro relativo a armas de fogo antigas encontradas em minha residência, o que errei em não buscar o devido registro e responderei perante a lei. Contudo, apesar de estar indignado com as medidas tomadas ao arrepio da lei, me sinto aliviado, pois assim a Justiça poderá dizer à sociedade de uma forma ampla que nada tenho a ver com os fatos ocorridos no dia 8.
2. Esclarecimento sobre a morte de Dinho Vital: em relação à lamentável morte do sr. Dinho Vital, motivo pelo qual a operação teria sido realizada, esclareço que o ocorrido foi uma fatalidade, resultado de um momento de destempero e excessos gravados em vídeo. Não participei de discussão com ele, não briguei, muito menos estava no local do ocorrido e lamento profundamente o que aconteceu.
Confio plenamente na Justiça e tenho a convicção de que minha inocência será provada. Acredito que a verdade prevalecerá e que os responsáveis por essa injustiça serão punidos. Apesar das adversidades, meu compromisso com Anastácio e meu desejo de trabalhar por um futuro melhor para a cidade permanecem inabaláveis. Essa tentativa de me parar só me fortalece e me motiva ainda mais a seguir em frente.
Agradeço a todos os anastacianos que me apoiam e que acreditam em mim. Agradeço também pelas inúmeras mensagens de apoio e carinho que tenho recebido. Não me renderei às tentativas de me silenciar. Continuarei lutando por uma Anastácio mais justa, mais próspera e com mais oportunidades para todos. Juntos, construiremos o nosso caminho”.