O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) deflagrou, na manhã desta quinta-feira (26), uma operação contra grupo do jogo do bicho, em Campo Grande. O grupo alvo da operação é de São Paulo com a atuação no Estado. Em agosto deste ano, um perito da Polícia Civil foi denunciado por fazer ameaças a uma família que trabalhava para o grupo rival.
O Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) participou da ação. Foram cumpridos sete mandados de prisão preventiva e 30 mandados de busca e apreensão em Campo Grande e Aquidauana e também em São Paulo, Pompeia, Marília e Araguaína, no Tocantins.
Segundo informações, a organização criminosa teria estabelecido mais de mil bancas de apostas e arrecadado mais de R$ 5 milhões por mês durante todo o período que operou na Capital. Foram nove meses de investigação, segundo o Gaeco.
A investigação revelou a atuação de uma organização criminosa autointitulada ‘MTS’, cujas lideranças são originárias do estado de São Paulo, mas que se instalaram em Campo Grande para explorar o jogo do bicho e as chamadas máquinas caça-níqueis, praticando, ainda, outros crimes correlatos.
O grupo, que já explorava essa atividade ilícita em outras localidades do país, passou a atuar em Campo Grande a partir de 2021, aproveitando-se do vácuo de poder ocasionado pela queda de outra organização criminosa, que foi debelada pela Operação Omertà.
Guerra pelo jogo do bicho
Desde julho deste ano, o Midiamax vem denunciando a guerra pelo jogo do bicho, onde servidores públicos estaduais da segurança pública estariam envolvidos. Em agosto, um perito da Polícia Civil foi denunciado por fazer ameaças a uma família que trabalhava para o grupo rival.
De acordo com a denúncia que o Jornal Midiamax teve acesso na época, a tática, que não é nova, estaria usando a atuação policial na repressão à contravenção como forma de ‘pressionar’ os anotadores e coletores a aceitarem a nova direção, supostamente ligada ao deputado estadual Neno Razuk (PL).
Truculências, ameaças e tiros na disputa do jogo do bicho
Assustados, alguns apontadores que trabalham em Campo Grande relataram à reportagem do Jornal Midiamax, em julho, que estavam com medo até de sair de casa. Segundo eles, quem trabalha para a banca atual passou a sofrer ameaças para supostamente ‘aceitarem’ o controle de Razuk.
Os relatos envolvem policiais e até o suposto uso de viaturas oficiais nas represálias disfarçadas de abordagens. Um dos apontadores contou ao Jornal Midiamax que faz os jogos, mas que desde a semana passada está com medo.
A reportagem teve acesso a filmagens e fotos que, segundo os denunciantes, revelariam a suposta presença de policiais entre os capangas escalados para ‘visitas’ de coerção. Ademais, os alvos das ameaças afirmam que até abordagens policiais ‘oficiais’ estariam sendo usadas para ‘forçar a barra’.
“Pessoal veio aqui oferecendo as novas maquininhas do jogo do bicho e disseram que quem não aceitar, não vai mais trabalhar em Campo Grande”, revela o apontador.
Segundo ele, colegas estariam sendo levados até para delegacia onde seriam coagidos a passar informações sobre os atuais ‘patrões’. Estranhamente, ainda segundo os relatos, os dados sobre quem estaria por trás da guerra não constariam nos TCOs (Termo Circunstanciado de Ocorrência) que são obrigados a assinar, já que são flagrados em contravenção.
MPMS não informa que fim levou investigação sobre Neno Razuk
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), ligado ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), também foi questionado sobre o desfecho para investigações que implicaram o deputado Neno Razuk com a briga pelo jogo do bicho em Campo Grande.
O MPMS também foi acionado pela reportagem do Jornal Midiamax sobre as novas denúncias que implicam servidores públicos da segurança pública na guerra do jogo do bicho na capital de MS. Até o momento, não houve respostas.
No ano passado, o Gaeco deflagrou a Operação Sucessione, que prendeu de major da PM aposentado a estudante de medicina, em dezembro de 2023. A ação teve três fases, mas ninguém mais informou a quantas andam as investigações ou denúncias.
Major era gerente do jogo do bicho
O major aposentado da Polícia Militar, Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como ‘Barba’, foi apontado como gerente do jogo do bicho no reduto da organização criminosa, segundo denúncia do Gaeco a qual o Jornal Midiamax teve acesso.
Segundo a denúncia do Gaeco, ‘Barba’ exerce um controle sobre os integrantes do grupo criminoso no que diz respeito às articulações da organização criminosa para a tomada do controle do jogo do bicho em Campo Grande, sempre atendendo aos comandos do suposto líder, o deputado estadual Roberto Razuk Filho, Neno.
Major Gilberto lidava ostensivamente com intermediários, oferecendo treinamento, controlando a ação dos ‘recolhes’ e ‘apontadores’ do jogo do bicho, sem comprometer a imagem do chefe da organização, apontado pelo MPMS como sendo Neno Razuk.
Quando flagrado na casa no Monte Castelo, em outubro de 2023, por policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), ocasião em que foram apreendidas 700 máquinas do jogo do bicho, o major havia dito que estava na residência jogando com outras pessoas.
O delegado que era titular do Garras também entrou na ‘dança das cadeiras’ promovida na Polícia Civil após a troca do delegado-geral e foi removido.
No entanto, na época, foi apreendida uma agenda que estava com o militar aposentado onde constavam nomes e o esquema de funcionamento atual do grupo de São Paulo, que supostamente está no controle do jogo do bicho em Campo Grande.
Na agenda ainda foram encontrados os nomes de ‘recolhes’ ligados ao grupo de São Paulo, que supostamente estavam na mira do grupo supostamente chefiado por Neno Razuk, seja para deixarem o grupo para o qual trabalhavam ou para serem alvos de nova ação.