Levantamento divulgado pelo Cemtec mostrou que até o dia 2 de julho foram consumidos pelo fogo 193 mil hectares de regiões de preservação do bioma
De janeiro até o dia 3 de julho deste ano, o Pantanal teve 730.525 hectares consumidos pelas chamas, o maior número para o período de acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ).
Apesar de a maioria dos incêndios terem comelados em fazendas, levantamento feito pelo Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Groso do Sul (Cemtec) mostrou que, de toda a área consumida, pouco mais de um quarto foi em áreas que deveriam ser preservadas.
Conforme os dados do Cemtec, até o dia 2 de julho, quando 715.775 hectares haviam sido consumidos pelo fogo no Pantanal, 193.250 hectares estavam em áreas protegidas, ou seja, 26%, como unidades de conservação, a rede Amolar e terras indígenas.
Essas áreas são o principal motivo de preocupação para ambientalistas por se tratarem de reservatórios da natureza, onde residem grande parte da fauna pantaneira e onde estão os maiores trechos de áreas nativas no Pantanal.
Para o diretor-presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Angelo Rabelo, a região é extremamente importante, não só para o bioma, mas danos na região também podem causar “impacto global”.
“O registro de incêndios em uma região que é corredor de biodiversidade, como é o caso da região da Serra do Amolar, tem potencial para causar inúmeros danos. Representa em uma tragédia de impacto global. A vida selvagem, a fauna sofrem um impacto direto, tanto com morte de indivíduos, como um desequilíbrio nesse ecossistema. Ainda há um outro impacto que é para as comunidades, que sofrem com a fumaça, há impacto para a pesca. Não há dúvida que os esforços de prevenção são muito necessários”, afirmou Rabelo.
Segundo o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), o Núcleo de Geotecnologia (Nugeo) identificou que foram 20 pontos que geraram 14 grandes incêndios em uma área queimada de 292,86 mil hectares e que acabaram atingindo 177 propriedades rurais, uma terra indígena e três unidades de conservação, além de incêndios de 39,28 hectares em território boliviano.
“Dos 20 pontos iniciais de incêndio, foram identificados 13 imóveis rurais, 1 Terra Indígena e áreas não cadastradas no CAR (Cadastro Ambiental Rural), sendo 17 ignições em Corumbá e 3 em Porto Murtinho, sendo que destes, 9 encontravam-se próximos a rios navegáveis, 3 próximos a estradas vicinais e 3 em divisas de imóveis. Cinco pontos estavam em áreas isoladas de qualquer outra possível causa externa, sendo duas em áreas sem cadastro de imóvel e 3 no interior de propriedades privadas”, diz trecho de publicação MPMS.
O Ministerio Público também identificou que dessas áreas devastadas 65,82% foram em área de formação campestre, seguindo-se de 19,52% em área de formação savânica e 5,76% de formação florestal, “justificando-se o foco preventivo para incêndios nas áreas de vegetações nativas do Pantanal”.
INVESTIGAÇÃO
Por causa do avanço dos incêndios e com a identificação do Lasa/UFRJ de que nenhum deles ocorreu por queda de raios, o que indica ação humana na ignição do fogo, as forças policiais federais e estaduais tem intensificado as investigações sobre o tema.
Conforme matéria publicada pelo Correio do Estado nesta quinta-feira, as polícias Federal e Civil, nas delegacias de Corumbá, estão com mais de 18 denúncias em andamento para averiguar como o fogo começou em diferentes propriedades. Alguns dos casos já foram convertidos em inquérito, enquanto outros estão em etapa de apuração.
O agravamento do fogo no bioma ocorreu em junho e dados do Lasa/UFRJ mostraram que mais de 4% do Pantanal já queimou nos primeiros seis meses deste ano. Somente no mês passado, foram mais de 410 mil hectares.