Em nota publicada na tarde desta quinta-feira (19), a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) informou receber “com preocupação” a fala do secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antonio Carlos Videira, que associa morte do indígena ao tráfico de drogas.
Nesta quarta-feira (18), Neri da Silva, da etnia Guarani Kaiowá, morreu em confronto com a Polícia Militar, no município de Antônio João, em área sobreposta à Terra Indígena Nhanderu Marangatu, em Antônio João.
Na tarde do mesmo dia, o Governo do Estado convocou uma coletiva de imprensa para tratar do assunto. Na ocasião, as autoridades ressaltaram que o ponto fica na divisa entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai, que extrapola a questão do conflito de terras, por ser uma fronteira para a entrada de drogas do país vizinho. “Há uma plantação de maconha no Paraguai”, disse Videira.
Após as falas proferidas na coletiva e repercutidas na mídia, a Funai emitiu o posicionamento, afirmando receber “com preocupação” a declaração.
“Tal afirmação não apenas reforça estereótipos preconceituosos, como também desconsidera a complexidade e a gravidade da situação vivida pelos povos indígenas na região. A declaração desrespeita a memória do indígena Neri Guarani Kaiowá, assassinado com um tiro na cabeça, e, por conseguinte, os direitos fundamentais das comunidades indígenas ao tratá-las como meros pontos logísticos para o tráfico de drogas”, escreveu a Funai em nota.
Além disso, a fundação reiterou o contexto em que os povos originários enfrentam uma longa história de violações.
“A acusação generalizada de associação de indígenas ao tráfico de drogas desvia o foco dos verdadeiros problemas: a violência sistemática, as dificuldades para avançar nos processos de demarcação de terras indígenas e a obtenção de proteção efetiva de seus territórios, bem como a carência de políticas públicas que respeitem a cultura e o modo de vida dos povos originários”, complementou a Funai.
A reportagem entrou em contato com a Sejusp para saber se a pasta deseja proferir algum comentário acerca da nota publicada pela Funai. Não houve retorno até a publicação. O espaço permanece aberto para acréscimo de informação.
Confronto se estende há uma semana
Neri morreu durante o confronto que aconteceu na manhã desta quarta-feira (18). O conflito acontece na área que está em disputa entre produtores rurais e indígenas da comunidade Nhanderu Marangatu.
Ainda não foi divulgado um parece oficial da perícia após a morte do jovem de 23 anos, enquanto a Polícia Federal atua na região.
Durante o conflito na região, dois indígenas foram presos, mas liberados neste domingo (15), informou o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
A indígena internada foi ferida no joelho e permanece aos cuidados médicos no hospital de Ponta Porã. “(Está) com risco de perder parte da perna, mas com cirurgia marcada para quinta-feira”, afirmou o conselho ao Jornal Midiamax.
Afastamento do policial que disparou contra Neri
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, ligou pessoalmente para o governador Eduardo Riedel, pedindo o afastamento e devida responsabilização do policial que disparou um tiro e matou um indígena.
A informação consta em nota oficial emitida pelo Ministério dos Povos Indígenas, que fala em “conduta inadmissível e violenta que tirou a vida de Neri Guarani Kaiowá”. O Ministério também enviou ofício à Polícia Federal pedindo pronta investigação e realização de perícias sobre a atuação da PM do estado.
O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União também foram acionados para que todas as providências legais sejam adotadas. No momento, uma equipe do MPI se prepara para se deslocar a campo. A Força Nacional está no local para reforçar a segurança dos indígenas.
Sobre a morte de um indígena em conflito de terra, que deixou outras duas pessoas feridas, o Ministério declara “profundo pesar e indignação por mais uma vida indígena perdida em ação daqueles que deveriam garantir sua segurança”.
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