O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em ocasiões distintas que negocia com o governo boliviano a instalação de uma fábrica de fertilizantes na fronteira entre Corumbá e Porto Quijarro (Bolívia). Segundo ele, essa indústria faz parte do plano nacional para reduzir a dependência do Brasil da importação de fertilizantes. O Correio do Estado apurou que não há, para os próximos anos, nenhum investimento em novas plantas previsto pela Petrobras.
De acordo com informações obtidas pela reportagem, a estatal está focada exclusivamente na reativação de plantas já construídas que estão atualmente hibernadas. O objetivo da Petrobras é retomar a operação dessas unidades, sem planos de expandir sua capacidade produtiva com novas fábricas.
As primeiras informações sobre a fábrica em Corumbá foram divulgadas em nota do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que detalhou um encontro do ministro Carlos Fávaro com os ministros bolivianos de Hidrocarbonetos e Energia, Franklin Molina Ortiz, e do Desenvolvimento Rural e Terras, Remy Gonzalez, em outubro do ano passado.
Já em julho deste ano, antes da última visita do presidente ao Estado, Lula voltou a falar sobre o assunto. A afirmação foi feita durante encontro com o presidente boliviano Luis Arce, na Bolívia, em visita oficial a Santa Cruz de La Sierra.
“A Bolívia segue sendo o principal fornecedor de gás natural no Brasil. Conversamos sobre a possibilidade de ampliar investimentos nessa área e incrementar o volume exportado para o mercado brasileiro. O Brasil também importa fertilizantes da Bolívia, queremos fortalecer essa parceria com a implantação de uma fábrica de nitrogenados entre Corumbá e Porto Quijarro”, disse o presidente Lula na ocasião.
O governo brasileiro vê a Bolívia como um parceiro estratégico na busca pela independência na produção de fertilizantes, com a meta de diminuir a dependência externa.
O secretário-executivo do Mapa, Irajá Lacerda, destacou que essa cooperação é fundamental para reduzir a atual dependência do Brasil, que hoje importa cerca de 90% dos fertilizantes que utiliza.
“Com essa cooperação, vamos implementar indústrias de fertilizantes tanto na Bolívia quanto no Brasil,” afirmou.
No País, o principal nutriente aplicado é o potássio, seguido por fósforo e nitrogênio, destacou a nota do ministério.
UFN3
Entre as plantas que a Petrobras pretende reativar está a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), localizada em Três Lagoas. As obras da UFN3 estão paralisadas desde 2014 e, até o momento, não há previsão para sua retomada.
Conforme reportagem publicada pelo Correio do Estado em 31 de agosto, o processo de auditoria (due diligence) da estrutura da fábrica deve fornecer um novo cronograma para a finalização das obras e o início das operações.
O governo estadual informou que o relatório da auditoria deve ser entregue até o fim deste ano, o que empurraria o reinício das obras para 2025. O Correio do Estado já havia adiantado, na edição de 27 de outubro de 2023, que a fábrica só entraria em operação em 2025. No entanto, com o atraso no início das obras, o funcionamento da unidade pode ser postergado por mais um ano, já que a fase de construção deve levar de 12 a 18 meses.
A conclusão da UFN3 é um projeto importante não apenas para Mato Grosso do Sul, mas para todo o Brasil. A unidade tem como objetivo reduzir a dependência do País na importação de fertilizantes nitrogenados. Projeções indicam que, com a ativação da fábrica de Três Lagoas, seria possível reduzir entre 15% e 30% a importação desses insumos.
A UFN3 deverá consumir 2,3 milhões de metros cúbicos de gás natural, transformando-os em 1,3 milhão de toneladas de ureia e 0,8 milhão de toneladas de amônia por ano.
O Brasil é o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, representando cerca de 8% do consumo global. O principal nutriente utilizado pelos produtores nacionais é o potássio (38% do total), seguido pelo fósforo (33%) e pelo nitrogênio (29%).
Esses elementos formam a sigla NPK, amplamente utilizada no setor agrícola. Entre as culturas que mais demandam fertilizantes no Brasil estão a soja, o milho e a cana-de-açúcar – juntas, consomem mais de 73% dos fertilizantes aplicados no País.
Saiba: Plano Nacional de Fertilizantes
Como estratégia para reduzir a dependência do Brasil das importações de fertilizantes, o governo federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), em 2022. O PNF é uma referência para o planejamento do setor de fertilizantes para os próximos 28 anos (até 2050), promovendo o desenvolvimento do agronegócio nacional e considerando a complexidade do setor, com foco nos principais elos da cadeia: indústria tradicional, produtores rurais, cadeias emergentes, novas tecnologias, uso de insumos minerais, inovação e sustentabilidade ambiental.