Atual secretário executivo do Ministério da Previdência Social, Adroaldo da Cunha Portal (PDT) abriu as portas de seu gabinete para o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, em uma reunião que ficou fora da agenda oficial do servidor. O encontro ocorreu em 13 de março de 2023 e, na ocasião, o lobista estava acompanhado de representante de correspondentes bancários de empréstimos consignados.
O Careca do INSS é apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos principais operadores do esquema de descontos fraudulentos no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A farra dos descontos indevidos foi revelada pelo portal Metrópoles, em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023.
À época, Adroaldo Portal era secretário do Regime Geral de Previdência Social do ministério então comandado por seu correligionário Carlos Lupi (PDT). A secretaria tem uma função primordial na supervisão e orientação da concessão de benefícios previdenciários. Além disso, tem papel importante na regulação de normas e na articulação com outros órgãos e entidades para assegurar que a legislação esteja sempre atualizada.
A reunião com o Careca do INSS foi omitida da agenda oficial de Adroaldo Portal, contrariando a legislação atual. A coluna obteve os registros de entrada e de saída do lobista no prédio por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). O Careca do INSS entra às 10h37 e sai 30 minutos depois, às 11h07.
Em conversa com a coluna, Adroaldo Portal explicou que a reunião não havia sido agendada e que não conhecia o Careca do INSS, mas decidiu recebê-lo porque havia sido informado por uma assessora que um representante de correspondente bancário gostaria de falar com o secretário. O lobista acompanhava esse representante, segundo o secretário.
Ele também alegou que o tema do encontro foi a redução do teto de juros do empréstimo consignado do INSS e que nada teria sido tratado sobre descontos associativos. O encontro entre Adroaldo Portal e o Careca do INSS ocorreu horas antes da reunião ordinária do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), ocasião em que se reduziu os juros do empréstimo consignado. Adroaldo era membro do colegiado.
Questionado sobre o motivo de o compromisso com o Careca do INSS não constar no sistema e-Agendas, Adroaldo Portal explicou que estava no início da sua gestão e que “houve uma falha de agenda”. O secretário havia sido nomeado por Carlos Lupi há mais de um mês.
Adroaldo Portal foi alçado a número dois da pasta no último dia 22 de maio pelo titular do Ministério da Previdência Social, Wolney Queiroz – que, por sua vez, assumiu o posto de Carlos Lupi, demitido na esteira da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que investiga o esquema de descontos indevidos de aposentados e pensionistas do INSS.
onforme revelou a coluna do Fábio Serapião, do Metrópoles, entidades que fizeram repasses para as empresas do “Careca do INSS” arrecadaram cerca de R$ 1,3 bilhão com os descontos, entre 2021 e março de 2025. Há suspeitas de que o lobista seria o responsável por obter, por meio do INSS, dados cadastrais de beneficiários, repassando as informações para as entidades acusadas de fraudar filiações para cobrar mensalidades indevidas.
Antonio Antunes também é suspeito de pagar propina a três dirigentes do INSS: o ex-procurador-geral do órgão, Virgílio Oliveira Filho; o ex-diretor de Benefícios, André Fidelis e o ex-diretor de Governança, Planejamento e Inovação, Alexandre Guimarães. Todos os três são investigados na operação da PF.
A Farra do INSS
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23/4 e que culminou nas demissões do presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.