Meteorologista da ONU diz que o fenômeno, que começou a atuar no 2º semestre, tende a fazer a temperatura aumentar mais no ano seguinte de sua chegada
Dados do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS) apontam que o fenômeno El Niño poderá durar até junho de 2024, o que traria elevação de temperaturas na época mais fria do ano no Estado.
“Sem dúvidas, igual ao inverno deste ano, bem mais quente que o normal”, comenta Vinicius Sperling, meteorologista do Cemtec-MS. Para os próximos meses, de dezembro a fevereiro, as temperaturas em MS também tendem a ser mais altas que o normal, principalmente em função da atuação do fenômeno climático.
“A maioria dos modelos de previsão do clima indicam que o El Niño pode, provavelmente, atingir sua intensidade máxima nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Esse cenário de variabilidade natural do clima pode potencializar a formação e a intensidade das tempestades no Estado. Outro impacto do fenômeno é que ele pode amplificar as altas temperaturas”, descreve o Cemtec-MS, em relatório.
Outubro geralmente é o mês mais quente do ano em MS, no entanto, o meteorologista relata que, com o El Niño, que este ano está mais intenso que o normal, novembro, mês em que normalmente as chuvas são mais presentes e a temperatura não é tão alta, já registra recordes de calor e chuva abaixo da média.
Os recordes de altas temperaturas são em razão das ondas de calor, que ocorreram este mês no Estado e na maior parte do País. A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que novembro marcou o início da fase mais acentuada do fenômeno climático, que deve durar até janeiro.
O especialista em clima da OMM, Álvaro Silva, afirmou que o fenômeno contribui para um aquecimento ainda maior do planeta no ano que vem, com possibilidades de novos recordes de temperatura global.
“O impacto do El Niño na temperatura global, historicamente, é ainda mais acentuado no ano seguinte ao do seu desenvolvimento. Pelo que é de se esperar que em 2024 tenhamos um ano com uma temperatura global mais alta ainda que em 2023, pelo menos do que é possível antecipar se considerarmos outros eventos do passado”, esclarece Silva.
TEMPESTADES
As famosas tempestades de verão também podem se intensificar na próxima estação. Segundo o meteorologista do Cemtec-MS Vinícius Sperling, para ocorrer uma tempestade, é necessário haver bastante choque térmico e, com as ondas de calor extremo, há, sim, um risco de tempestades mais intensas em MS.
“A gente já viu este ano em Dourados, Corumbá e vários municípios, como Campo Grande, que tiveram tempestades intensas. Claro que as tempestades mais severas em MS ocorrem no mês de outubro, mas, como o El Niño está bagunçando este ano, então, sim, a gente pode dizer que podem ocorrer mais tempestades intensas e ondas de calor”, pontua Sperling.
Além de tempestades intensas, outros eventos climáticos, como chuvas de granizo e tornados, também podem acontecer na próxima estação. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) acrescenta ainda que as tempestades com granizo já são eventos frequentes no verão de MS.
Na terça-feira, após a passagem de onda de calor e tempestades em Taquarussu, um tornado foi registrado por moradores do município. Sperling informa que não há como prever tornados no Brasil, mas que os eventos podem ocorrer novamente.
Para os próximos meses, o Cemtec-MS aponta que as chuvas devem seguir um pouco abaixo da média em grande parte do Estado e dentro da média histórica nas regiões extremo-sul e sudoeste de MS, onde atualmente há uma elevação no volume de chuvas, também influenciada pelo El Niño.
EL NIÑO
O El Niño é um fenômeno de aquecimento das águas superficiais do Pacífico, com uma tendência geral de padrões de temperaturas mais elevadas, no entanto, traz condições menos previsíveis para Mato Grosso do Sul.
Em algumas regiões, o fenômeno intensifica secas, como ocorre no Amazonas, em outras, aumenta o volume de chuvas, como ocorre no Sul, além de ondas de calor na maior parte do País.
Dados do Cemtec-MS apontam uma previsão de 62% de atuação do El Niño até junho no Estado, a partir do trimestre de abril, maio e junho. Outro fenômeno, o La Niña, pode começar a ter influência, mas o levantamento aponta apenas 1% de chance.
A ONU alerta que este ano pode ser o quente já registrado, em razão do El Niño, e em 2024 a média de temperaturas pode ser ainda mais alta. Até então, o ano considerado mais quente foi 2016, em função de uma atuação do fenômeno considerada “excepcionalmente forte” e do impacto do aquecimento global.
“Desde maio deste ano, a alta temperatura da superfície do mar no Pacífico equatorial centro-leste oscilou entre cerca de 0,5°C acima da média e acima de 1,5°C, em setembro”, pontua a ONU, que alerta para mais eventos extremos em todo o mundo, como incêndios florestais, inundações e ciclones tropicais.
SAIBA
A previsão do tempo para os próximos dias em Mato Grosso do Sul é de instabilidade, com probabilidades de chuvas e tempestades acompanhadas de raios, com temperaturas entre 30°C e 33°C. Em Campo Grande, a mínima é de 21°C, e a máxima, de 30°C.
Sol forte e calor acima da média continuarão sendo sentidos nos próximos meses em Mato Grosso do Sul por influência do fenômeno – GERSON OLIVEIRA
FONTE: CORREIO DO ESTADO