Com a popularização dos influenciadores, nomes do meio digital começaram a migrar para a ‘vida real’ através da política. A influência na internet demonstrou força para alguns candidatos Brasil afora. Assim, com milhares de dezenas de seguidores, donos de páginas foram eleitos para compor o Legislativo de diversas cidades de Mato Grosso do Sul.
É o caso de Charlin Castro (PSB), que foi eleito por 309 votos para ocupar uma das 11 cadeiras da Câmara de Ribas do Rio Pardo. Ao Jornal Midiamaxo vereador eleito disse que está ciente do poder das redes sociais para a eleição.
“Com certeza influenciou, porque o Ribas Ordinário teve um alcance gigantesco nesses últimos anos e eu cheguei na casa das pessoas muito antes de muitos vereadores com as cobranças, com as fiscalizações e com a ajuda à comunidade”, explicou.
Para a Justiça Eleitoral, Charlin declarou que é empresário — uma das faces de quem é influenciador e fecha trabalhos com outras empresas. “A profissão, sim, me ajudou a alcançar essa quantidade de votos”, disse.
Os planos para o primeiro mandato como vereador serão organizados na agenda de influenciador. “Com certeza a rotina vai ser dobrada. O Ribas Ordinário tem esse papel de ser o porta-voz da comunidade e com certeza vai continuar sendo o porta-voz da comunidade”, afirmou Charlin.
Entre os projetos que pretende pautar na Casa de Leis, Charlin destacou a criação de uma clínica para mulher e crianças no município. Por fim, ele destacou que seguirá com a página para “ouvir a comunidade”.
Largaram na frente?
Às vezes com mais seguidores que parlamentares já eleitos, influenciadores teriam largado na frente nas Eleições de 2024? Sim! É o que considera a pesquisadora de influência digital, jornalista Simone Faustino.
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará, Simone apontou as duas maiores vantagens para candidatos a cargo representativo: dinheiro e capital social.
Então, explicou que o dinheiro permite arcar com custos financeiros para campanha, com visibilidade para a candidatura. “E capital social é um conceito sociológico que trata de elementos intangíveis, como confiança, boa vontade, abertura para ouvir e identificação com determinados indivíduos”, pontuou.
Desta forma, destacou que o influenciador digital, muitas vezes, possui os dois e acaba saindo na frente. “Tanto o dinheiro quanto o capital social são convertíveis em capital político, tornando a imagem pública dessas figuras mais forte e aceitável como uma opção”, disse.
Aumento de influenciadores na política
Charlin não foi o único com engajamento na internet eleito em Mato Grosso do Sul. O movimento de influenciadores ‘migrando’ para a política é notável. Em Ponta Porã, Reinaldo Jalasca (PSDB) foi o vereador mais votado, com 3.033 votos.
Nas redes sociais, o influenciador tem mais de 70 mil seguidores. Assim, a pesquisadora pontuou ao Jornal Midiamax que os influenciadores não atuam sozinhos e muitas vezes possuem uma equipe por trás.
“Se, antes, o conceito de celebridade estava mais ligado ao arquétipo do ‘herói’, fortemente arraigado na Idade Antiga e ligado a pessoas que se destacavam por suas realizações, pela fama criada por grandes feitos, hoje, no cenário do capitalismo de plataforma , da mercantilização da imagem, ascende outro tipo de figura pública”, detalhou.
A mostra de cotidiano e consumo nas redes sociais acaba construindo não apenas uma figura formadora de opinião, mas uma marca, apontou Simone. “A política é um espaço de disputa de discursos, então não é surpresa (na verdade, é até estratégico para determinados grupos) que essas marcas pessoais – os influenciadores – se revistam de valores da política e queiram estar presentes nos espaços de decisão”.
Movimento contrário
Enquanto alguns se elegem com milhares de seguidores, parlamentares das antigas acabam tentando se atualizar nas redes sociais. Então, em busca de engajamento, políticos já eleitos constroem a própria marca — o mandato — nas redes sociais.
Isso acontece porque “os atores da política perceberam que não é mais possível se manter distante dessas mídias e plataformas, não só interagindo, ouvindo, mas também prestando contas, abrindo espaço para os eleitores falarem — a exemplo das famosas ‘caixinhas de perguntas’”.
Como exemplo, a pesquisadora cita João Campos, reeleito como prefeito de Recife em 2024. A campanha do candidato tomou conta de diversas plataformas e gerou até ‘trend’ nas redes sociais.
Pontuando que o candidato foi bem assessorado em marketing digital, Simone explicou que Campos “se apropriou de uma maneira eficiente de toda essa cultura dos memes, dos tópicos que estão fomentando o debate no meio digital e do que faz um conteúdo viral”.
Com santinhos colecionáveis, o prefeito reeleito ganhou espaço nas redes. “Isso soa autêntico para o público, embora não saibamos até que ponto é mesmo”.
caso a caso
Além disso, Simone destacou que “cabe ao eleitor observar de maneira crítica, acompanhar o que o político faz fora do cenário das redes, ver se bate com o compromisso firmado com o eleitorado. Existe muito ‘teatrinho’ com ares de democracia”.
Em tempos de redes sociais e a política tão próximos, é necessário alguns cuidados aos cidadãos. “As pessoas seguem influenciadores e engajam não só porque são curiosas. Eles atuam como símbolos, como representantes de algo que o público é, se identifica ou que gostaria de ser”, lembrou.
Portanto, destacou que “o problema reside no fato de que nem tudo que está na internet é real, muito se trata de recorte, de uma seleção de informação”. Para isso, recomendou que os cidadãos analisem caso por caso. “É preciso analisar caso a caso antes de embarcar nesse tipo de proposta”, finalizou.