O dólar fechou em alta firme de 0,76% nesta sexta-feira (25), cotado a R$ 5,705, com a retomada de preocupações de investidores com a cena fiscal brasileira e em meio a pressões vindas dos Estados Unidos.
Já a Bolsa, que passou o pregão oscilando entre os sinais, teve queda de 0,13%, aos 129.893 pontos. O destaque do dia foi a disparada de 3,60% da Vale, que deu o pontapé inicial na temporada de balanços corporativos do último trimestre com lucro líquido de US$ 2,41 bilhões.
Em dia de agenda esvaziada, o mercado se voltou aos riscos sobre as contas públicas do país.
Os agentes financeiros seguem receosos quanto às promessas do governo federal de cumprimento do arcabouço fiscal e de controle da dívida pública, mesmo após falas de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central), gerarem alívio na véspera.
Em evento do G20, Haddad afirmou que não irá reformular o regramento fiscal, mas, se houver “necessidade de reforçar parâmetros para que ele se sustente, esse é o caminho que trilharemos”.
Já Campos Neto acenou ao pacote de medidas anunciado pela ala econômica do governo na semana passada. Os planos são de corte de gastos, mas só serão detalhados após o segundo turno das eleições municipais no próximo domingo (27).
“Sobre os prêmios de risco, vimos uma alta nas taxas de longo prazo e nas implícitas. Acreditamos que haverá anúncios de medidas para endereçar, ao menos de modo parcial, a reação dos mercados e a situação fiscal”, disse o presidente do BC, classificando como “exagerados” os preços do mercado nos últimos dias.
As falas se dirigiram a temores de investidores sobre a sustentabilidade das contas públicas e deram impulso à recuperação dos ativos brasileiros na quinta, mas “os mercados estão acostumados com promessas vazias”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
À espera de ações concretas para redução de despesas, o mercado tem demonstrado cautela, protegendo-se no dólar e exigindo mais prêmios na renda fixa. “Até que medidas concretas de contingenciamento sejam implementadas, é improvável que o dólar receba suporte definitivo do cenário local”, disse Moutinho.
Haddad também fez menção aos dados de inflação medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na quinta.
Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC trabalha com uma meta inflacionária de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura de quinta, a base anual do IPCA-15 está bem próxima ao teto da meta, de 4,50%.
No evento do G20, Haddad disse “garantir” que a inflação irá fechar o ano dentro das bandas trabalhadas pelo BC.
A principal ferramenta do Copom para controlar a subida de preços é a taxa básica de juros do país, a Selic. O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano.
Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.
Com o dado próximo ao teto da meta, a expectativa do mercado é que os juros subam em 0,50 ponto percentual na próxima reunião de política monetária, marcada para os dias 5 e 6 de novembro.
As curvas de juros futuros ainda subiram com as pressões fiscais. Os vencimentos de longo prazo, em especial, refletiram o pessimismo com a trajetória das contas públicas nos próximos anos.
No fim da tarde a taxa para janeiro de 2025 -que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo- estava em 11,244%, ante 11,224% do ajuste anterior. A taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 12,685%, ante 12,602%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,75%, ante 12,704%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,67%, ante 12,615%.
Os contratos de juros futuros pressionaram ações de empresas sensíveis à economia doméstica, como Lojas Renner (-1,91%) e Magazine Luiza (-3,69%). O setor bancário ainda ajudou na pressão negativa, com queda de 1,45% do Bradesco e de 1,12% do Itaú.
Da ponta positiva, destaque para os resultados da Vale, que deu início à temporada de balanços do terceiro trimestre. A mineradora disparou 3,40% após reportar lucro líquido de US$ 2,41 bilhões, acima das previsões de analistas, embora com queda de 15% na comparação ano a ano.
Usiminas saltou 4,23%, depois de reverter prejuízo no terceiro trimestre do ano passado com um lucro líquido de R$ 185 milhões julho a setembro deste ano.
Petrobras subiu 0,69%, em linha com a valorização do petróleo Brent na Bolsa de Londres.
No exterior, as eleições presidenciais dos Estados Unidos movem os mercados globais. No próximo 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida -assim como a agenda econômica que irá pautar os EUA pelos próximos quatro anos.
Apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição aumentaram de forma significativa nos últimos dias na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.
As chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 66%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 34%.
A possibilidade de uma vitória do candidato republicano tem feito o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.
As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo -algo positivo para o dólar.
As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que também se reúne nos dias 5 e 6 de novembro para decidir sobre os juros americanos.
Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia norte-americana mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.
A redução de 0,25 ponto percentual agora tem 96,1% de probabilidade na ferramenta Fed Watch, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reúne os 3,9% restantes.
Juros altos por mais tempo no país elevam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.
*Informações da Folhapress