Após trocas de sinal pela manhã, o dólar à vista se firmou em baixa ao longo da tarde desta segunda-feira, 22, com a melhora do apetite ao risco no exterior e o avanço mais forte das ações da Petrobras, ainda na esteira da liberação parcial de dividendos extraordinários. O arrefecimento das tensões geopolíticas, na ausência de novos atritos entre Irã e Israel, abriu espaço para realização de lucros no mercado doméstico, já que a divisa ainda acumula alta de mais de 3% no mês.
Houve também relatos de entrada de fluxo comercial e de continuidade do desmonte de posições defensivas por estrangeiros no mercado futuro.
A perspectiva de que possa haver corte mais moderado da taxa Selic daqui para frente, após várias declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contribui para dar suporte ao real. O banco JP Morgan divulgou nesta segunda à tarde mudança na projeção de taxa Selic no fim do atual ciclo de redução de 9,5% para 10%.
Com um aprofundamento das perdas nos minutos finais de negociação, o dólar à vista fechou em baixa de 0,59%, a R$ 5,1687, na mínima da sessão e nos menores níveis em mais de uma semana.
Na máxima, pela manhã, tocou R$ 5,2181. Apesar da sequência de dois pregões de queda, a divisa ainda acumula ganhos de 3,06% em abril. No ano, a valorização é de 6,50%.
“Hoje é um dia típico de ajuste, com o exterior mais tranquilo. A liberação de parte dos dividendos extraordinários da Petrobras agradou aos investidores e amenizou um pouco o mau humor em relação ao governo”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, que trabalha com uma banda para a taxa de câmbio entre R$ 5,10 e R$ 5,30 no curto prazo. “O mercado mantém uma postura defensiva com a questão fiscal, ainda mais com os atritos entre o governo e o Congresso.”
Em sessão conjunta na quarta-feira, 24, o Congresso vai apreciar vetos do presidente Lula. As atenções se voltam a possível derrubada do veto a R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024. Nesta segunda, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que os atritos entre ele e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é um “episódio superado”.
“O reforço do caixa com os dividendos da Petrobras não reduz o cenário negativo. A popularidade de Lula em questionamento pressionará ainda mais a demanda por gasto público e crédito”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, que vê a queda do dólar nesta segunda como uma realização de lucros, com perspectiva de manutenção de diferencial de juros atraente por mais tempo. “Mas é algo pontual no contexto fiscal e de juros nos Estados Unidos. Desde fevereiro subiu bastante a posição comprada em dólar”, diz Velho.
Em evento da Legend Capital em São Paulo, o presidente do Banco Central voltou a chamar a atenção para a possibilidade de mudança no ritmo de cortes da taxa Selic em razão do aumento das incertezas. Se houve uma melhora do ambiente, o BC volta para o caminho que havia traçado. Já se o clima de incertezas perdurar e “criar ruídos crescentes”, então o BC teria que diminuir o “pace” de cortes da taxa básica.
Campos Neto reiterou que o BC vai intervir no câmbio apenas se houver distorções no mercado, e não para combater mudança da taxa de câmbio provada por alteração dos fundamentos econômicos. “Se tiver uma percepção de que o risco piorou, o câmbio vai refletir”, disse.
No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes – operou em ligeira baixa ao longo da tarde, acima da linha dos 106,100 pontos. A moeda norte-americana caiu em relação a divisas de países exportadores de commodities desenvolvidos, como dólar australiano e canadense, mas subiu na comparação com emergentes pares do real, como o peso mexicano e rand sul-africano.