O dólar tinha mais um dia de alta nesta sexta-feira (2) após atingir R$ 5,734 na véspera, o maior valor desde 21 de dezembro de 2021.
Nesta manhã, por volta das 9h52, a moeda norte-americana avançava 0,41%, cotado a R$ 5,7586.
A divisa chegou a atingir R$ 5,793 na máxima da sessão até aqui, desacelerando alta após novos dados de emprego dos Estados Unidos ficarem abaixo do esperado.
A criação de vagas de trabalho nos EUA desacelerou além do estimado no último mês de julho, a 114.000, e a taxa de desemprego aumentou para 4,3%, o maior nível desde outubro de 2021.
Analistas consultados pela Reuters esperavam abertura de 175.000 postos de trabalho. No mês anterior, a economia abriu 179.000 vagas, em dado revisado para baixo.
Os novos números podem ampliar temores de que o mercado de trabalho por lá esteja se deteriorando e, potencialmente, tornando os Estados Unidos vulneráveis a uma recessão.
Na véspera, o dólar subiu 1,43%, e a Bolsa recuou 0,20%, aos 127.395 pontos. A disparada da moeda foi causada pelo aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e as decisões sobre juros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos.
Um dia depois do ataque que matou Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Terãa, o governo de Israel anunciou a morte do chefe da ala militar do grupo terrorista da Faixa de Gaza. Mohammed Deif morreu, segundo o Estado judeu, em um bombardeio no mês passado.
“O ataque de Israel é muito significativo, porque agora parece haver um aval do líder iraniano para que Terãa faça uma retaliação”, afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.
Para os mercados, a escalada de tensões “tem levado parte dos investidores a buscar ativos mais seguros, como ouro e o dólar”, explica.
Isso se soma à resposta dos investidores à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta quarta-feira (31) após o fechamento dos mercados.
O BC (Banco Central) optou por manter a taxa básica de juros do país a Selic em 10,50% ao ano. No comunicado emitido após a decisão, adotou um tom mais duro ao enfatizar a necessidade de “maior vigilância” diante das conjunturas doméstica e internacional, que demandam “acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.
Para alguns analistas, no entanto, o fato do Copom não ter sinalizado uma possível alta nos juros é motivo de preocupação.
O comunicado “não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.
O Boletim Focus desta semana apontou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechará 2024 em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anterior, segundo estimativas de analistas consultados pelo BC.
As previsões vêm na esteira dos últimos dados de inflação medidos pelo IPCA-15, que, pelo período de coleta, funciona como uma espécie de prévia do indicador oficial. Apesar de terem desacelerado em relação ao mês anterior, os preços subiram mais do que o esperado, a 0,30%, com a taxa de 12 meses batendo 4,45%.
O BC trabalha com a meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 p.p. para cima e para baixo. Com a base anual próxima ao teto de 4,50%, a dúvida agora é se o atual patamar da Selic é contracionista o suficiente para levar a inflação de volta à meta.
O contexto, para Galhardo, da Remessa Online, mostra que “o real não está seguro nem mesmo com o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos”, possibilidade que foi ofuscada diante do balanço de riscos feito pelos investidores.
A tese de que os juros podem cair nos EUA na próxima reunião de política monetária ganhou força ontem, após o Fed manter a taxa de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5%.
No comunicado, a autarquia afirmou que os preços agora estão apenas “um pouco elevados”, a primeira suavização na linguagem desde que o banco central deu início à batalha contra a inflação, classificada como “elevada” nos últimos comunicados.
Isso abriu espaço para interpretações de que o ciclo de afrouxamento monetário poderá ter início na reunião marcada para 17 e 18 de setembro, à medida que a inflação continua convergindo à meta de 2%.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o comunicado “não foi explícito” em sinalizações sobre futuras reuniões, mas “abriu muito a possibilidade de um corte em setembro, a partir dos dados monitorados pelo Fed”.
“Temos um processo de desinflação acelerado, e, ao mesmo tempo, a percepção de que a própria atividade econômica está desacelerando. Se os juros não caírem em setembro, certamente cairão nas outras duas reuniões do ano”, afirma.
Em coletiva de imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o comitê “não tomou decisão nenhuma sobre reuniões futuras”. No entanto, acrescentou que, como a autarquia tem ganhado confiança de que as pressões sobre os preços estão mais moderadas, “a economia está se aproximando do ponto em que será apropriado reduzir nossa taxa de juros”.
Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por puxar os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de Treasuries.
Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário. No entanto, nesta sessão, as incertezas externas e domésticas minaram o otimismo dos investidores.
*Informações da Folhapress
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