A terceira equipe do Estado atuou em situações de deslizamentos de terra e achou os corpos de quatro pessoas de uma família que estavam soterrados
A terceira equipe de bombeiros militares do Estado, que atuou na busca e salvamento de pessoas no Rio Grande do Sul, teve uma integrante especial no trabalho para encontrar pessoas vítimas de um deslizamento de terra: a cadela Laika. De acordo com Thiago Kalunga, tutor do animal, ela e outros três cães de outros locais do País foram imprescindíveis para encontrar quatro vítimas da tragédia que assola a região Sul do Brasil.
A principal atuação dos militares foi em Roca Sales, município que, nos últimos oito meses, foi atingido quatro vezes por enchentes. Houve deslizamento de terra na região, que acabou soterrando uma casa com seis pessoas.
“É uma área muito grande, milhares de metros quadrados ali de resíduos. Então, o trabalho manual apenas, do Corpo de Bombeiros, é muito difícil. Então, nós tínhamos que dar um direcionamento de onde pudessem estar aquelas vítimas. Então, você via poucas partes da casa, pedaços bem pequenos, porque ela foi totalmente destruída de um lado. Em um primeiro momento, você imagina que as pessoas poderiam estar ali, só que os cães indicavam outro lado. Então, os cães, tanto a Laika quanto os cães do Mato Grosso que lá estavam, eles indicavam uma outra região. No trabalho manual, com inchada, pá, nós não conseguíamos acessar. E aí, alguns dias depois, com a chegada do maquinário, concentrou naqueles locais que os cães indicaram. A partir daí, os corpos começaram a ser resgatados e recuperados”, relata o sargento Kalunga.
Ao todo, das seis vítimas que estavam soterradas, a equipe de MS auxiliou no resgate de quatro pessoas. Logo depois, o grupo foi solicitado em uma outra ação, em que o quarto de uma pessoa tinha desabado, por conta da força das águas de um rio.
“O leito (do rio) estava muito alto e forte, e logo depois tinha uma queda também muito grande, de 70 metros de altura. Os bombeiros militares e outros cães já tinham feito (ações de busca), só que assim, a gente está falando de uma distância de em torno de 10 a 15 quilômetros, e esse braço do rio que caía em um outro rio. Então, é uma área muito grande para ser varrida, para tentar localizar essa pessoa, e eles não haviam conseguido ainda”, relembra o sargento.
Nessa segunda ação, os bombeiros de Mato Grosso do Sul realizaram a marcação de algumas áreas para verificar se encontravam a pessoa ou descartavam aquele local em específico, mas, por conta das chuvas e dos dias para a missão, retornaram ao Estado antes da vítima ser encontrada.
“Foram, infelizmente, apenas dois dias. Na verdade, um dia, porque a chuva atrapalhou. Então, nós só trabalhamos nesses dois dias, só no período da manhã. Por ser próximo ao rio e com a questão da chuva, existia o risco de, na verdade, subir o rio, então ficou uma situação que o próprio Comando de Incidente do Rio Grande do Sul orientou cessar as buscas ali até o tempo melhorar”, relata a sargento Jéssica Lopes.
Ao todo, a terceira equipe de bombeiros militar de MS ficou 10 dias no Rio Grande do Sul, onde eles acamparam primeiramente na cidade de Encantado e, depois, próximo aos locais onde realizaram as atividades de busca. Após o retorno a Campo Grande, o Estado não enviou novas equipes para a região.
O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) aponta que a Liga Nacional do Corpo de Bombeiros (Ligabom), é a responsável, com o governo do RS, para chamar equipes especialistas de todo o País. No entanto, após o retorno da terceira equipe, MS não foi solicitado novamente e, por isso, não enviou novos militares ao local.
CÃES BOMBEIROS
A cadela Laika, de cinco anos, é um dos cães treinados pelo CBMMS para atuar em ações de resgate. O Estado tem mais outros dois animais capacitados em atuação, e outros que já se aposentaram. Alguns desses, inclusive, trabalharam em outras tragédias, como a de Brumadinho e a de Petrópolis.
Além de Laika e de outros dois cães da mesma raça (Pastor Belga), outros animais estão em fase final de treinamento, sendo uma cadela em Corumbá e outra em Campo Grande.
“A Laika é treinada desde filhote. Leva-se em torno de um ano e meio a dois anos para que nós possamos deixar um cão pronto para poder nos auxiliar nesse tipo de busca. E ela é treinada para encontrar pessoas desaparecidas, vivas ou em óbito. Então, a gente ensina que ela tem que procurar alguém que está oculto, que ela não está vendo e, pelo faro, quando ela encontra, quando ela detecta, ela começa a indicar para nós. Por meio do latido, ela indica que aqui pode ter alguém”, explica o sargento Kalunga.
O faro dos animais é treinado a partir de fluídos corporais humanos, que são apresentados aos cães para que eles se familiarizem com os odores e consigam, em situações de deslizamentos de terras, por exemplo, encontrar pessoas que estão soterradas.
Entre as atividades que são feitas no treinamento dos bichos estão visitas ao Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol), para que eles reconheçam os odores cadavéricos e, posteriormente, possam indicar aos agentes quando encontrarem algum soterrado durante uma busca.
DEVASTAÇÃO
Os militares do Estado que foram ao Rio Grande do Sul contam que se depararam com cidades bastante devastadas, casas completamente destruídas e descolamento de muita matéria, “uma situação impactante”, comentam os bombeiros, que tiveram dificuldades de locomoção, em razão da interdição de estrada, enfrentaram chuvas, falta de energia e riscos, por conta da instabilidade no terreno.
Mesmo assim, a equipe comenta que uma das coisas que mais marcou na missão ao RS foram as pessoas que lá encontraram e os esforços de todos, principalmente de bombeiros do Rio Grande do Sul, que mesmo há diversos dias longe de casa ou tendo perdido tudo com as chuvas, não paravam de trabalhar.
“Ver que pessoas próximas a nós, trabalhando ali, bombeiros militares se dedicando ali aos resgates das vítimas, das pessoas que perderam tudo, era importante para nós, porque eles eram ali do Rio Grande do Sul. Só que era um detalhe, um detalhe importante era que eles também tinham perdido tudo. Então, isso nos motivava ainda mais. Não dava dúvida nenhuma de que a gente precisava se entregar assim, da mesma forma que eles se entregavam ali para a população gaúcha”, disse o soldado Humberto.
Saiba
Ao todo, as equipes do Corpo de Bombeiros de MS resgataram mais de 390 pessoas e 430 animais no Rio Grande do Sul.