A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), prendeu dois homens ontem durante a Operação Bypass, que investiga funcionários de um banco privado de Campo Grande por suspeita de participação em organização criminosa que desviou mais de R$ 1 milhão da instituição bancária só em Mato Grosso do Sul. Há indícios de que a mesma quadrilha atue em outros estados brasileiros.
O grupo é investigado por ter desviado cerca de R$ 1,3 milhão de uma instituição financeira no Estado. O golpe foi feito utilizando um “dispositivo eletrônico” que desviava dinheiro do banco e distribuía em diversas contas bancárias.
O delegado Pedro Henrique Pillar, do Garras, informou em coletiva de imprensa que o grupo atuava com o mesmo modus operandi visto em outras unidades da Federação, como São Paulo e estados do Nordeste.
A princípio, Pillar pontuou que não há ligação notificada, mas que por conta das suspeitas futuramente poderá ser feita uma operação em conjunto com as polícias de outros estados para confirmar se há ligação dos criminosos ou não.
“O crime é praticado por meio de alguns componentes, inclusive de dentro do banco, e com a junção desses componentes se instala um dispositivo fraudulento no sistema do banco que é capaz de dar acesso a criminosos que realizam diversas transferências simultâneas, espalhando em diversas outras contas e subtraindo valores de grande monta por meio de operações menores”, relatou o delegado.
Essa é uma das fases da investigação, que teve início a aproximadamente quatro meses. Pillar informou ainda que em poucos dias o montante foi levantado, pois após a instalação do dispositivo fraudulento as transações são feitas rapidamente.
“Apesar de ter sido um valor bastante expressivo, de mais de R$ 1 milhão, precisou de pouco tempo para subtrair essa quantidade toda, e a partir de um momento o sistema travou. O próprio sistema detecta esse tipo de procedimento e trava”, esclareceu o delegado responsável.
Pillar disse também que os dois homens prestaram depoimentos esclarecedores e que serão fundamentais para descobrir a autoria do crime.
Os funcionários trabalhavam em agências diferentes, mas utilizaram apenas uma para agir em conjunto na execução do golpe.
Nas residências visitadas pelos agentes da operação, nos bairros Itamaracá e Buriti, em Campo Grande, foram apreendidos principalmente telefones celulares, os quais a Polícia Civil suspeita que podem ser instrumentos do delito.
O dinheiro não foi encontrado.A corporação também destacou que o modo de operação do grupo dificultou a investigação. Como o dinheiro era enviado para contas diversas – prática muito utilizada para facilitar a lavagem de dinheiro –, os agentes relatam que a quantia ainda não foi reavida, e isso dificultou o trabalho de chegar ao mandante.
“Eles fazem de uma forma para você não conseguir ligar o alvo dos valores subtraídos aos autores do crime”, exemplificou o delegado, que detalhou ainda que uma das próximas etapas da investigação é justamente apurar essa lavagem do dinheiro.
Em função desse fator, os agentes tiveram que buscar outros meios de chegar até os mandados de busca e apreensão de ontem, contando com o auxílio do Centro Integrado de Operações de Fronteira (Ciof), que identificou o responsável por uma digital em um dispositivo utilizado para realizar o golpe.
“Para o êxito de grande parte das informações que nós conseguimos angariar, a gente precisou da identificação de uma digital papilar que foi encontrada em um dos dispositivos”, relatou Pillar.
Os presos preventivamente foram ouvidos na manhã de ontem. De acordo com a advogada de Álvaro S. A., Talita Dourado, o suspeito já prestou depoimento. Por conta do sigilo do caso, ela não está autorizada a dar mais detalhes. O Garras também informou que, a princípio, os dois presos não tinham passagens pela polícia.
OUTRO CASO
Apesar de não haver ligação, outro caso de esquema criminoso envolvendo funcionários de instituições bancárias está sendo investigado pelo Garras em Campo Grande.
Em outubro, um gerente de uma agência da Caixa Econômica Federal foi sequestrado com a namorada por criminosos que queriam o cartão do bancário, responsável pelo acesso às contas.
Na ocasião, o Garras encontrou uma conexão do grupo com o Primeiro Comando da Capital (PCC), e o gerente sequestrado também foi apontado como parte da quadrilha.
Delegado titular do Garras, Fabio Peró Correa Paes descreveu a nova modalidade como “novo cangaço digital”, que coage ou alicia funcionários de instituições financeiras a desviar dinheiro usando o próprio sistema bancário.
Em outubro, os supostos sequestradores foram presos e afirmaram que receberiam dinheiro para executar o crime, o qual estaria ligado a especialistas de São Paulo nesse tipo de furto eletrônico. Eles também disseram que o gerente receberia R$ 50 mil para emprestar a chave eletrônica que dá acesso ao sistema do banco.
Um dos motivos apontados por Peró pelo crime é a popularização do Pix, que diminui cada vez mais o volume de dinheiro em espécie circulando, o que leva os criminosos a apostarem em técnicas digitais para furto.