O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) disse que é ‘desnecessário’ o fato das defesas dos réus pela morte de Marcel Costa Hernandes Colombo, conhecido como ‘Playboy da Mansão’, contestarem a falta de perícia no bilhete que revelou plano de atacar autoridades envolvidas no caso. O primeiro dia de julgamento foi encerrado após oito horas com depoimento de testemunhas de acusação e defesa no Fórum de Campo Grande nesta segunda-feira (16).
O bilhete, que integrava as investigações da Operação Omertà, foi interceptado no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte e, nele, havia detalhes sobre um plano de atacar autoridades envolvidas no caso de ‘Playboy da Mansão’.
Mais cedo, o delegado João Paulo Natali Sartori, ouvido em plenário, foi contestado durante a tarde pelo advogado Márcio de Campos Widal Filho, que representa a defesa de Marcelo Rios apontando a falta de perícia no bilhete.
Ao fim do júri popular, o promotor Douglas Oldegardo esclareceu ao Jornal Midiamax que não há necessidade. “Se eu tenho um bilhete a quem se atribui a autoria, e eu ouço esta pessoa, e essa pessoa confirma a autoria, eu não tenho porque realizar uma prova para confirmar a autoria de um documento, cujo próprio autor, a quem se imputa o documento, está me dizendo que o documento é dele”, exemplificou o promotor.
“Não há sentido ou necessidade nisso, a prova, na verdade, foi totalmente desnecessária para o MPMS”, acrescentou Oldegardo.
‘Estou aqui para falar do crime’
Questionado sobre o que seria uma perícia grafotécnica, o delegado Sartori respondeu que a pergunta foge do motivo que o levou a prestar depoimento e que está naquele tribunal para falar sobre crime.
Com isso, o advogado de defesa de Rios lhe perguntou o motivo de não ter realizado uma perícia grafotécnica no bilhete citado, momento em que o delegado afirmou que “não houve dúvidas de que o bilhete foi redigido por testemunha protegida”, respondeu Sartori.
Certeza de impunidade
O investigador de polícia, Giancarlos de Araújo e Silva relatou em plenário o modo de agir da organização criminosa envolvida no assassinato de ‘Playboy da Mansão’ e disse até que já sofreu ameaças de Jamil Name durante audiência. Também contou que o grupo estava tão enraizado em Mato Grosso do Sul que tinha certeza da impunidade. Contudo, o trabalho de investigação continuou.
“Mesmo sabendo dessas consequências, continuamos o nosso trabalho. Até a mão de obra utilizada para a execução dos crimes era diferenciada, se utilizavam de um braço armado que sabia como funciona a construção de provas e como matar. A organização estava tão enraizada no nosso estado, com braços em vários setores, que eles tinham certeza da impunidade. Eles só não contavam com o nosso trabalho que seguiu mesmo conosco sabendo das consequências”, relatou o investigador.
Rios teria recebido R$ 50 mil para matar ‘Playboy da Mansão’ dentro de cadeia
Macedo disse que Marcelo Rios, o ex-guarda municipal, recebeu R$ 50 mil para matar Marcel Colombo dentro da cadeia, depois da prisão de ‘Playboy da Mansão’ por descaminho. Mas como não conseguiu matar dentro da cadeia, teve de fazer o ‘serviço’ quando Marcel foi solto.
“A organização mata os pistoleiros que fazem cagada”, disse o delegado. Ainda segundo o delegado, o contador Elton Pedro, que também fazia levantamento de informações para a família Name, teria pesquisado sobre a vida de Playboy da Mansão.
Defesa de Everaldo pediu desmembramento
Jail Azambuja, advogado de Everaldo, falou sobre a perícia não feita em áudios juntados no inquérito, pedindo pelo desmembramento e adiamento do julgamento.
“Relativo à perícia insisto que não foi realizada. Existe a necessidade da perícia desse material integralidade, e ainda necessário talvez desmembramento do júri”, disse a defesa.
A defesa ainda falou que é necessário que Everaldo seja julgado em outro momento. “No sentido de que quando deferiu o alargamento do prazo, o inquérito era de 6 mil páginas e hoje tem mais de 10 mil páginas. O réu tem direito à defesa efetiva e plena e o tempo é essencial”, disse.
‘Volume de provas absurdo’
O promotor Douglas Oldegardo, que atua na acusação do júri do caso de Marcel Costa Colombo, disse ao Midiamax que o ‘volume de provas contra os réus é absurdo’.
“Não há dúvida nenhuma, o volume de provas técnicas é verdadeiramente absurdo, felizmente nós vamos ter um bom número de dias para exibir isso para o Conselho de Sentença através da inquirição de testemunhas e nós teremos, inclusive, o tempo dilatado”, disse Oldegardo.
O promotor ainda falou que “muito da prova vai ser produzida antes dos debates, através dos depoimentos, de forma que por ocasião do processo dialético que vai se desenvolver entre acusação e defesa nós poderemos discutir esta prova, que já vai ter sido produzida, fornecendo ao Conselho de Sentença já uma percepção mais apurada a respeito daquilo que o processo contém, proporcionando à sociedade uma decisão mais sólida e mais consciente”.
Jamil Name Filho vai ser ouvido por videoconferência. Já os outros réus estarão presentes no plenário do júri. Como no primeiro julgamento no ano passado, este júri também terá esquema de segurança montado. Ao todo, 19 testemunhas serão ouvidas
O juiz proibiu manifestações no plenário, e camisetas ou cartazes com fotos ou frases sugestivas. “Não é custa relembrar que, dentro do Plenário na área interna do Fórum, não será permitida a manifestação, ainda que de forma subliminar, como uso de vestimentas, cartazes, incluindo fixação em grades, fotos ou frases sugestivas de condenação ou absolvição, assegurando-se, com isto a total isenção dos jurados e, sobretudo, a ordem do julgamento”.
‘Playboy de Mansão’
A denúncia apresentada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) relata como foi planejado e executado o crime. Naquela ocasião, Marcel estava em uma cachaçaria, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, quando foi atingido pelos disparos.
Ainda segundo o MPMS, o crime foi executado por Juanil, com auxílio de Marcelo Rios, José Moreira e Everaldo Martins. Isso tudo a mando de Jamil Name e Jamil Name Filho. Além disso, em um erro na execução do crime, um outro homem que estava no local também foi atingido por um disparo.
Por fim, foi apurado que Rafael Antunes foi o responsável por ocultar a arma do crime, com participação indireta. Também foi relembrado na denúncia que a motivação do crime foi por um desentendimento entre Marcel e Jamil Name Filho em uma boate de Campo Grande. Naquele dia, Marcel teria agredido Name com um soco no nariz.
Marcel foi assassinado em 2018, mas a rixa entre o ‘Playboy da Mansão’ e Name começou em 2016, quando os dois se desentenderam por causa de balde de gelo. Em 2021, Jamil Name Filho negou ser o mandante da morte, mas confirmou o atrito e deu detalhes.