As queimadas no Pantanal já atingiram números preocupantes em 2024. Até esta segunda-feira (9), o bioma já tem cerca de 18% da área total consumida pelas chamas.
De acordo com o Lasa-UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), mais de 2,8 mil hectares já foram queimados.
Desde o início deste ano, especialistas alertavam para uma seca severa, com alta probabilidade de incêndios descontrolados e escassez de água.
Este já é o segundo pior ano de devastação no Pantanal causado por queimadas. Em 2020, o pior ano, foram queimados 36 mil hectares de janeiro a dezembro.
O combate aos incêndios florestais no Pantanal continua em Mato Grosso do Sul, com a união de esforços das equipes sul-mato-grossenses, além de reforços federais e estaduais que estão colaborando com o trabalho coordenado pelo governo estadual.
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso do Sul (CBMMS) está atuando na região desde o dia 2 de abril e já mobilizou um efetivo de 1.015 bombeiros e bombeiras militares nas ações de prevenção, preparação e combate aos incêndios florestais na Operação Pantanal 2024.
Com o surgimento de diversas desinformações sobre as queimadas no Pantanal, o WWF Brasil respondeu a algumas dúvidas, baseadas em ciência e dados oficiais sobre o bioma.
Os incêndios deste ano fazem parte da dinâmica natural do Pantanal?
Não. Os incêndios que estão atingindo a região neste ano não têm relação com o processo natural do bioma. No primeiro semestre de 2024, o Pantanal bateu recordes de queimadas.
Entre 1º de janeiro e 30 de junho, foram detectados 3.538 focos de queimadas, mais de 20 vezes o número registrado no mesmo período do ano passado (+2.018%), o maior da série histórica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 1998.
Os números oficiais indicam que as atuais queimadas no bioma estão completamente fora do padrão da dinâmica natural do fogo.
O fogo faz parte da dinâmica do Pantanal, que tem ciclos naturais de cheias e secas. Quando ocorre na época certa, com técnicas adequadas e seguras, o manejo controlado do fogo é um aliado em diversos processos naturais, como a quebra de dormência das sementes. No entanto, este não é o caso em 2024.
As queimadas no Pantanal deste ano são de origem criminosa?
É possível que uma parte dos focos tenha sido provocada por criminosos, mas as causas estão em investigação e ainda não é possível definir.
Essa hipótese está sendo analisada por autoridades policiais com base em informações enviadas por órgãos ambientais, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
O clima seco favorece o surgimento de novos focos durante a lida no campo?
As condições climáticas produziram uma seca severa no Pantanal, o que favorece o alastramento do fogo, mas não necessariamente seu início.
Ou seja, queimadas controladas para manejo de pasto ou cultivo muitas vezes fogem do controle, transformando-se em incêndios de grandes proporções.
Parte dos incêndios deve-se à perda de controle acidental do fogo durante o manejo feito por moradores locais.
Além das mudanças climáticas, as queimadas no Pantanal também estão associadas à ação humana na Bacia do Alto Paraguai (BAP).
O desmatamento nas cabeceiras dos rios que abastecem a Planície Pantaneira contribui para a seca extrema no bioma.
Todos esses fatores afetam diretamente o ciclo de chuvas e a redução de água no território, favorecendo o alastramento do fogo em 2024.
O fogo no Pantanal pode reacender até 15 dias após ser combatido?
Sim. Trata-se de um fenômeno conhecido como “fogo subterrâneo” ou “incêndio de turfa”. A turfa é um tipo de material orgânico resultante da decomposição da vegetação, que se acumula no solo, formando uma camada inflamável.
É verdade que 95% do fogo está localizado em áreas privadas?
Sim. Segundo imagens de satélite feitas pelo BDQueimadasdo Inpe, e pelo Lasa/UFRJ, cerca de 95% das queimadas no Pantanal em 2024 tiveram origem em propriedades privadas.
Foram registrados 3.372 focos de incêndio entre 1º de janeiro e 25 de junho de 2024, enquanto apenas 189 ocorreram em Terras Indígenas e Unidades de Conservação.
Quase nenhum incêndio foi causado por fenômenos naturais, como raios, o que indica que a ação humana é o principal vetor do fogo.
A demora para acabar com as queimadas no Pantanal é culpa do Governo, que não agiu de forma eficaz?
Não. O governo mobilizou mais de 830 agentes federais, incluindo brigadistas, a Força Nacional e as Forças Armadas, que devem permanecer na região até o fim de agosto.
Há 15 aeronaves do Governo Federal envolvidas nas operações de combate: 4 aviões e 3 helicópteros do Ibama e do ICMBio, além de 2 aviões e 6 helicópteros das Forças Armadas.
Em abril, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) declarou estado de emergência ambiental por risco de incêndios em regiões específicas, incluindo o Pantanal, de maio a dezembro.
Em junho, o governo intensificou sua atuação com a assinatura de um pacto entre o presidente Lula e governadores para o combate a incêndios no Pantanal e na Amazônia. O governo também liberou R$ 100 milhões para ações do Ibama e do ICMBio no bioma.
O MMA montou duas bases, uma em Corumbá e outra na altura do quilômetro 100 da Rodovia Transpantaneira, para abrigar equipes e concentrar ações logísticas.
O governo do estado de Mato Grosso do Sul também reconheceu a situação de emergência em municípios afetados pelas queimadas, o que facilita a liberação de recursos e a contratação de equipes e equipamentos.
No entanto, é importante lembrar que as condições climáticas anteciparam a temporada de seca este ano, que também deve terminar mais tarde, descompassando o cronograma de ações previstas pelos governos federal e estaduais, que precisaram ser antecipadas devido ao início precoce da temporada de incêndios.