Imagine o fogo atingindo o seu imóvel e destruindo-o por completo, sobrando apenas escombros. A sensação é devastadora, a mesma que, provavelmente, muitos de nós sentimos ao avistar o Pantanal em um gigantesco corredor cinza, resultado dos incêndios que queimam a moradia de milhares de animais e os fazem buscar abrigo na beira de rios (ou o que resta deles). Assim, turistas que pagam uma fortuna para ficarem acomodados em pousadas da região e avistarem animais, principalmente onças, estão se “dando muito bem” e lotando o celular com fotos e vídeos do felino.
O Jornal Midiamax recebeu depoimentos, além de imagens e vídeos registrados por turistas, da França, Holanda e Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que estiveram hospedados na região, o bioma ardia em chamas. São ao todo, conforme o Corpo de Bombeiros, seis áreas com incêndios ativos no Estado, incluindo a Nhecolândia, o Pantanal Nabileque, Rio Abobral, Porto Rabicho e o Porto Sucuri e do Paraguai Mirim. Tudo isso somado a crise hídrica na região.
“A incidência de onças no Pantanal está fazendo a alegria destes hóspedes. É um outro viés da seca, pois os animais se aproximam dos rios diante da estiagem. Isto está atraindo visitantes estrangeiros ainda mais, pois, os felinos se aproximam dos rios diante da estiagem”, afirmou um guia turístico, que não será identificado pela reportagem.
Conforme o biólogo e doutor em conservação, José Milton Longo, com a supressão do meio ambiente, a fauna se desloca onde há recursos e segurança. “É fato que a fauna estará mais concentrada em locais onde tem água. E está complicado, ocorrendo uma crise hídrica, piorando ainda mais. O fogo é muito ruim para o ambiente destes grandes vertebrados, que dependem também da grama, então, é uma série de ocorrências que estão garantindo essa facilidade de visão para o turista”, argumentou.
Triste contraste: avistamento das onças e fogo
No entanto, ainda de acordo com Longo, é um triste contraste. “É bom para o turista ver o animal, só que em decorrência de um ambiente totalmente queimado, muito ruim no meu ponto de vista. É a mesma coisa em outras regiões, até em áreas urbanas, estamos vendo animais nunca registrados antes. Tivemos estes dias, por exemplo, uma cobra em plena Avenida Afonso Pena, estão no sistema de esgoto, saem pela pista, então, imagina o Pantanal, que é limitado por cursos d”água”, disse.
Neste viés da sobrevivência, o biólogo explica ainda que animais com habilidade acentuada, como por exemplo morcegos e aves, ainda conseguem fugir por percorrerem maiores distâncias. “Tivemos, inclusive, uma divulgação recente do ninho do Tuiuiú que queimou e foi até um alento ver o pessoal se concentrando todo ali para tentar salvar. Muitos perdem o ninho e poucos conseguem”, lamentou Longo.
Desta forma, ainda segundo o biólogo, ao mesmo tempo da contemplação das onças, também é necessário saber que está “lutando pela própria vida”. “Acho que é bem diferente de ter um avistamento em um momento onde ela está descansando, ali não é algo lúdico”, opinou.
Uma das turistas, após ficar hospedada, enviou um depoimento para a pousada, agradecendo e ressaltando a alegria em avistar seis onças. Na mensagem, qualificada como “experiência top no Pantanal”, ela diz:
“Fizemos um ótimo passeio no Pantanal. Tudo foi perfeitamente organizado pela agência e ele continuou nos contatando para tirar dúvidas, dicas e saber se gostamos do passeio. Também gostamos muito que houve um transfer privado, então, não precisamos providenciar transporte, pois, nosso português é muito pobre e eles não falam inglês. Assim, nos pegaram em Corumbá e nos deixaram em Bonito, após o passeio. Tivemos bastante tempo para relaxar, comer e curtir a natureza na pousada, onde há muitos animais. Vimos nada menos que seis onças”, disse a turista.
Confira aqui os turistas avistando onças no Pantanal:
Equipe de resgate em área atingida pelo fogo
O Gretap (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal), nesta segunda-feira (7), está na região do Passo do Lontra e Buraco das Piranhas, representando diversas entidades e fazendo o aporte nutricional, em regiões onde os bichos estão desesperados de fome.
Pouco antes, pegaram centenas de quilos de doações de verduras e frutas, no Ceasa (Central de Abastecimento), em Campo Grande, levando até o Pantanal e deixando em locais estratégicos para os animais sobreviventes.
Ceva de animais é prática proibida, mas ocorre no Pantanal
Há um ano, o Jornal Midiamax também falou sobre uma triste notícia envolvendo as onças presentes no bioma. Na ocasião, dois peões foram presos e a polícia deu início a uma investigação, que trouxe à tona a possível matança e também ceva dos felinos para apreciação de turistas.
A dupla foi acusada de receber dinheiro para matar onças no pantanal sul-mato-grossense, principalmente porque “os novos donos de terras’ não querem ter prejuízo com “uma novilha sequer’ e, por isso, estariam pagando funcionários para promoverem a matança ou o envenenamento de felinos, principalmente se algum gado da fazenda já foi abatido.
E o problema vai além: as onças, no ambiente delas e “na casa delas’, sem os abrigos que antes tinham e que se perderam com inúmeras áreas desmatadas, estariam recebendo todo tipo de alimento para permanecerem na beira dos rios e servirem de atrativo aos turistas que se instalam em hotéis-fazenda no Pantanal e pagam caro para ver este animal.
Fonte: Msnews