“Eu sou Luiz Mário. O meu nome é Luiz Mário, e lhe digo: bom dia!”. Esse era o bordão que o radialista Luiz Mário do Nascimento70 anos, usava para abrir seu jornal policial em uma rádio de Cuiabá. Lembra dele? Se não é desse tempo, ou sente saudades do profissional, o Primeira Página traz nesta segunda-feira (23), a história do conhecido radialista, no quadro semanal Você no PP.
Luiz nasceu em Cáceres, a 220 km de Cuiabá, teve uma infância difícil. Com a separação dos pais, a mãe decidiu se mudar para Cuiabá com seis filhos, abandonando as terras que tinham em uma fazenda, lá no município do origem.
Aos 7 anos, ficou órfão da mãe, e um tempo depois acabou perdendo o pai também. Mudou-se para Curitiba (PR) aos 13 anos sozinho, pois conseguiu uma vaga em um colégio interno. Lá, permaneceu até os 18 anos.
Seu sonho era ser médico ou jornalista – correspondente de guerra. Luiz acabou se envolvendo na comunicação muito cedo. Seu primeiro emprego foi “puxando fio” em uma rádio de Curitiba, como uma espécie de auxiliar de locutor.
Depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez alguns estágios na Rádio Globo, conheceu grandes profissionais e ganhou experiência. Lá, trabalhou como repórter do programa “A cidade contra o crime”, que depois ganhou o nome de “Globo Patrulha”.
Em 1975, já em Cuiabá, Luiz Mário começou apresentando um jornal que abordava vários assuntos, mas como seu sonho era ser jornalista correspondente de guerra, criou o seu próprio programa policial que, inicialmente, tinha duração de 15 minutos.
Com o tempo, o programa ganhou destaque na sociedade cuiabana, e a audiência só aumentava. O chamariz era o jeito diferente de apresentar de Luiz Mário.
No programa, ele fazia algo incomum: contava as histórias policiais do dia a dia em forma de radionovela, imitando os personagens reais com codinomes como: bebum, malandro, bandido… entre outros.
Com essa forma única de apresentar, Luiz Mário foi chamado para trabalhar em outra rádio, e o seu programa passou de 15 minutos para 2 horas, sendo realizado das 8h às 10h.
A equipe do programa era formada por um motorista e pelo fotógrafo Osmar Cabral. Anos depois, em 1984, Osmar Cabral morreu em um acidente aéreo. Como forma de homenagem, um bairro de Cuiabá recebeu seu nome.
Naquele tempo, Luiz também foi chamado para ser redator policial em um jornal impresso de Cuiabá, tendo uma página inteira só para escrever as ocorrências policiais que apurava nas delegacias e hospitais.
“As pessoas me diziam: ‘Luiz Mário, seu programa parece praga’. Eu perguntava: ‘por quê?’. Quando eu pedia para explicar, as pessoas falavam que me ouviam em toda parte, em todo lugar. O programa foi valorizado grandemente. No jornal impresso, o proprietário me disse que nunca vendeu tanto jornais como quando estava vendendo naquela época”.
Ameaças na ditadura
Na sua vida de radialista no setor policial, em uma época de regime da ditadura militar no Brasil (1964 a 1985), afirma que foi ameaçado de morte, e também chegou a sofrer atentados.
Durante o bate-papo com o Primeira Páginaele relembrou que já teve para-brisa do carro estourado por tiro e foi perseguido nas avenidas do CPA e XV de novembro.
“Não é fácil fazer programa policial, principalmente a gente que é muito incisivo nas colocações. Sempre procurei trazer a notícia da melhor forma possível e condenando a ação de criminosos”.
Com a migração da AM para a FM, a rádio fechou as portas. Luiz comenta que outras emissoras o chamaram para fazer o programa policial, mas quando chegava na parte da proposta financeira, preferia ficar em casa cuidando nos netos.
Casado, pai de 3 filhos, sendo duas mulheres e um homem, atualmente Luiz Mário é aposentado como servidor público do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
O radialista diz que vai lançar um livro com as histórias das ocorrências policiais que acompanhou pessoalmente e que movimentou as delegacias da Cuiabá.
Ele não dispensa a ideia de voltar para o rádio, caso surja uma boa proposta. E se acontecer, pensa em fazer um programa mais mesclado, com vários temas, além de abordar a segurança pública.
Luiz Mário é referência de jornalismo policial. Seu programa ficou no ar por 40 anos e até hoje, há quem lembre dos bordões usados por ele e que marcaram época.
“Eu tinha meu bordão de início e outro do final. Sempre finalizava assim: ‘bom, minha gente, não é minha vontade mas, infelizmente, todos nós teremos que morrer um dia. E quando esse dia chegar, vamos morrer dignamente em pé, como árvore, que não tem nada do que se envergonhar’. Não tenho medo de falar a verdade, porque só tem medo da verdade, aqueles que delas se escondem”.