Meteorologista explica que o excesso de chuvas/frio no RS e a seca/calor em MS estão diretamente relacionados por conta do bloqueio atmosférico
Condições climáticas atuam entre extremos no Brasil. O fogo queima vegetações, matas, florestas e mata plantas e animais em Mato Grosso do Sul.
Já no Rio Grande do Sul, a água deixa casas submersas, carros inundados, móveis e eletrodomésticos encharcados, moradores e animais ilhados e pessoas mortas.
Fortes chuvas atingiram o Rio Grande do Sul de 30 de abril até meados de junho de 2024. Atualmente, as chuvas ainda persistem, mas em quantidade menor em relação aos últimos meses. Em Mato Grosso do Sul, o fogo perdura desde 1º de junho.
Não por acaso, fogo em MS e chuva no RS ocorreram simultaneamente, na mesma época.
Foram registrados mais de 1.000 milímetros em 45 dias em solo gaúcho e 2.049 focos de calor em 30 dias em solo pantaneiro.
Mas, a pergunta que intriga é a seguinte: porque Mato Grosso do Sul se acaba em fogo e o Rio Grande do Sul em água?
Em entrevista exclusiva ao Correio do Estadoo meteorologista do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec), Vinicius Sperling, afirmou que o excesso de chuvas/frio no Rio Grande o Sul e a seca/calor em Mato Grosso do Sul estão diretamente relacionados.
Massa de ar seca estacionada sobre o Centro do país (MS, SP, MT, GO) impede que as massas de ar frio do Sul (RS e SC) adentrem no Centro. Portanto, isso faz com que elas fiquem estacionadas e acumuladas no Sul, por conta do bloqueio atmosférico.
“Grandes massas de ar seca, que ficam no centro do país, impedem a entrada das frentes frias. Então, como impede a entrada das frentes frias, não entra nuvens e chuva para cá. E, com isso, ao passar dos dias, as temperaturas vão subindo gradativamente, até que vem alguma outra frente com um pouco mais de densidade, quebra o bloqueio e baixa um pouco a temperatura. Em relação ao Rio Grande do Sul, como essa massa de ar atua como um bloqueio, as frentes frias acabam batendo na borda desse bloqueio, que é lá na altura do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, fazendo então com que as frentes ficam estacionadas na região Sul. Entra duas, três frentes por semana, elas acabam ficando aprisionadas lá, uma reforça a outra e fica aquela estabilidade parada, o que fez com que as chuvas ficassem muito acima da média no Rio Grande do Sul. Então, eles estão diretamente relacionados”, explicou o meteorologista ao Correio do Estado.
Além disso, Sperling ressaltou que o fenômeno El Niño causa chuvas acima da média no Rio Grande do Sul e temperaturas altas em Mato Grosso do Sul.
“Mas por que foi tão extremo o calor (no Centro-Oeste) e as chuvas no Sul? Porque foi um dos El Niño mais fortes da história. Foi um super El Niño muito intenso. E nisso também a gente tem que às vezes levar em consideração que os fenômenos Zenos, El Niño e La Niña, são fenômenos naturais, mas as mudanças climáticas têm potencializado esses eventos”, disse.
Veja a explicação em infográfico:
FOGO EM MATO GROSSO DO SUL (PANTANAL)
Incêndios de grandes proporções atingem o Pantanal sul-mato-grossense há 37 dias consecutivos, desde 1º de junho de 2024.
As queimadas transformam cenários verdes e cheios de vinda em desertos cinzentos e cemitérios. O fogo destrói matas, áreas verdes, vegetações, florestas, biodiversidade e espécies nativas (fauna e flora) do Pantanal.
Dados do Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais (perdido)do departamento de meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apontam que 435.775 hectares foram consumidos pelo fogo, entre dos dias 1º de junho e 7 de julho de 2024.
De 1º de janeiro a 7 de julho deste ano, 597.225 hectares foram devastados pelo fogo, equivalente a área de 6,13% do bioma.
De acordo com o painel Pantanal em Alerta do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS), existem 184 focos de calor, neste momento, no Pantanal Sul-mato-grossense. O fogo atinge três municípios e 12 propriedades.
De acordo com o Sistema de Comando de Incidentes (SCI)do Corpo de Bombeiros Militar de MS, em 97 dias de operação, 808 pessoas foram mobilizadas (335 desmobilizadas; 473 mobilizadas atualmente), 1.522 materiais foram mobilizados (14 desmobilizados; 1.508 mobilizados atualmente), 94 viaturas foram mobilizadas (11 desmobilizadas; 83 mobilizadas atualmente), houve 107 ações de combate, 70 atividades de prevenção, 33 vistorias e 24 manutenções em equipamentos.
O governo de Mato Grosso do Sul decretou, em 24 de junho de 2024, situação de emergência em decorrência dos incêndios florestais no Pantanal. O decreto facilita o acesso a recursos extraordinários para enfrentar tal situação.
O Pantanal Sul-mato-grossense teve o pior incêndio florestal da história em 2020, quando 1.580.000 hectares foram devastados pelo fogo de janeiro a dezembro.
De janeiro a junho de 2020, 245.950 hectares foram destruídos pelo fogo. No mesmo período de 2024, foram 597.225 hectares.
Portanto, isto significa que o incêndio no primeiro semestre de 2024 é pior do que o do mesmo período de 2020.
Corpo de Bombeiros Militar (CBMMS), Polícia Militar Ambiental (PMA), Exército Brasileiro, Marinha do Brasil, Força Aérea Brasileira (FAB), Força Nacional, Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Homem Pantaneiro (IHP), SOS Pantanal e brigadas voluntárias tentam controlar o fogo no Pantanal Sul-mato-grossense.
Aeronave KC-390 Milênioda Força Aérea Brasileira (FAB), considerada o cargueiro multimissão mais rápido e moderno do mundo, é utilizada no combate aos incêndios do Pantanal.
O avião tem capacidade de lançar 12 mil litros de água por vez, quatro vezes mais do que o avião air tractor, pertencente ao governo do Estado. Ele projeta a água pela porta lateral na fuselagem, permitindo manter o interior da aeronave pressurizada.
O KC-390 pode transportar 80 soldados plenamente equipados, 66 paraquedistas ou 74 macas em configuração de evacuação aeromédica. A capacidade máxima de carga é 26 toneladas. A aeronave já foi adquirida pela Hungria, Portugal e Coreia do Sul.
CHUVA NO RIO GRANDE DO SUL
Fortes chuvas atingiram o Rio Grande do Sul de 30 de abril até meados de junho de 2024. Atualmente, as chuvas ainda persistem, mas em quantidade menor do que nos últimos meses. O Estado viveu a pior tragédia climática da história.
Boletim, divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sulem 1 de julho de 2024, aponta que as chuvas já resultaram em 180 mortes, 32 desaparecidos e 806 feridos em todo o Estado.
Até o momento, 478 municípios e 2.398.255 pessoas foram afetadas pelas chuvas.
Em 1º de maio, o governo do Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública em todo o estado por causa das fortes chuvas.
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