Uma pesquisa conduzida por cientistas da USP e da UFSCar investigou as emissões de gases de efeito estufa em lagoas salino-alcalinas no Pantanal, destacando a influência das variações sazonais e dos níveis de nutrientes. Essas lagoas, chamadas de “lagoas de soda” devido ao elevado pH e alta concentração de sais alcalinos, diferem das lagoas de água doce, comuns no bioma, e apresentam características microbiológicas que impactam suas emissões de gases como metano e dióxido de carbono.
Os pesquisadores ressaltam a necessidade de incluir as comunidades microbianas nos modelos de emissão de gases para compreender melhor como essas lagoas reagem a mudanças ambientais, como secas extremas e queimadas. O Pantanal tem enfrentado secas consecutivas e recordes de incêndios, com 2020 marcando o maior número de focos de calor já registrados. Em 2024, o número de incêndios já ultrapassou os totais dos últimos três anos.
O estudo, publicado na revista ‘Science of the Total Environment’, identificou três tipos de lagoas salino-alcalinas no Pantanal: lagoas turvas eutróficas (ET), turvas oligotróficas (OT) e oligotróficas claras com vegetação (CVO). As lagoas eutróficas apresentaram maiores emissões de metano, associadas ao crescimento e decomposição de cianobactérias. As lagoas claras também emitiram metano, mas em menores quantidades, enquanto as turvas oligotróficas não emitiram metano, mas liberaram CO2 e óxido nitroso.
O aumento da frequência de cianobactérias nas lagoas é uma tendência preocupante, indicando que essas áreas podem se tornar emissoras significativas de gases de efeito estufa no futuro. A pesquisa iniciou-se com o foco na geologia das lagoas e na análise dos ciclos biogeoquímicos, especialmente na emissão de metano, CO2 e óxido nitroso.
A microbiologista Simone Raposo Cotta enfatiza a importância dos microrganismos no funcionamento desses ecossistemas, pois eles são fundamentais para a ciclagem de nutrientes e para manter processos ecológicos essenciais nas lagoas. Em 2022, o grupo já havia publicado um estudo sobre o estilo de vida das bactérias nas “lagoas de soda”, mostrando que as cianobactérias se adaptam às condições ambientais adversas, especialmente durante a seca.
Essas lagoas não são exclusivas do Pantanal, sendo encontradas também no Canadá, Rússia e África. No entanto, no Pantanal, elas são menos profundas. Os pesquisadores utilizaram dados metagenômicos para explorar os ciclos biogeoquímicos e a contribuição das emissões de metano desses corpos d’água.
Ainda não foi possível determinar a contribuição total das lagoas salino-alcalinas nas emissões de gases do efeito estufa do Pantanal, mas os cientistas estão desenvolvendo modelos para responder a essa questão. O grupo continua investigando o aumento das cianobactérias em algumas lagoas e como isso pode ser mitigado.
Com informações da Fapesp