Isa Jane Marcondes, vereadora de Dourados conhecida como “Cavala”, está sendo investigada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) por suposta conduta abusiva em unidades de saúde do município. Um procedimento investigatório foi instaurado a partir de uma solicitação da Funsaud (Fundação de Serviços de Saúde de Dourados) e tramita na 10ª Promotoria de Justiça da cidade.
O procedimento teve início no dia 21 de janeiro, após denúncias encaminhadas pela Funsaud e por médicas da rede pública que alegam terem sido alvo de intimidação por parte da vereadora. Segundo os relatos, Isa Marcondes teria ingressado em ambientes hospitalares como a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e o Hospital da Vida sem autorização.
A denúncia também a acusa de ‘invadir’ os locais sem os equipamentos de proteção exigidos, filmando os espaços e expondo os profissionais de saúde em suas redes sociais. Na época, ela ainda não havia sido diplomada vereadora.
Em documento encaminhado pela supervisora médica do Hospital da Vida, Marília Bastos Gontijo Pulcherio, foi relatado que as atitudes da vereadora estavam prejudicando o ambiente de trabalho, com acusações consideradas infundadas. Além disso, os vídeos estariam causando hostilidade da população contra a equipe médica e abalando a reputação da instituição.
Ao menos três manifestações registradas no Ministério Público por médicas da rede pública descrevem situações semelhantes, em que a vereadora teria entrado nas unidades de forma inesperada, gravando vídeos e proferindo falas consideradas ofensivas. Uma das médicas relatou trabalhar “coagida e angustiada”.
“Sou médica, atuo como plantonista no Hospital da Vida de Dourados e estou sofrendo indiretamente com os ataques verbais proferidos pela vereadora Isa Marcondes através de seu Instagram e de suas fiscalizações onde ela entra no ambiente hospitalar sem ser anunciada, sem a devida paramentação e grava vídeos de quem ela vê pela frente denegrindo os profissionais de saúde. Estou trabalhando coagida e angustiada”, relata uma profissional.
Segundo médicos, as ‘invasões’ ocorriam até em alas vermelhas, onde a entrada é proibida. “Vereadora invade unidade de pronto atendimento médico no setor de urgência e emergência (área vermelha) e assedia médicos do setor se delegando como autoridade e difamando os profissionais, dizendo que ‘se os mesmos não dão bom-dia a uma autoridade, quem dirá para as pessoas pobres'”.
Os casos chegaram ao Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul, que solicitou o agendamento de reunião com a Funsaud. O encontro foi realizado no dia 13 de fevereiro, onde declararam insatisfação pelas ações da vereadora.
Segundo o sindicato, os médicos, em especial os especialistas, e outros servidores da área da saúde municipal estariam intencionando finalizar ou suspender a prestação de serviço nas unidades públicas devido à hostilidade. Um dos motivos seria a falta de segurança para realizarem seus trabalhos.
Em notícia-crime, os denunciantes aduziram, ainda, que a parlamentar tem proferido ofensas à classe médica, referindo-se aos profissionais de saúde de forma pejorativa, chamando-os de “jumentos”, “preguiçosos” e “incompetentes”. Além disso, aludem que a vereadora coloca em risco os pacientes, já que as ‘invasões’ também incluíam áreas restritas, destinadas a pacientes em estado grave e com alto risco de contaminação, sem a devida paramentação adequada.
Devido às denúncias, o caso chegou ao Ministério Público. Inicialmente, o caso foi analisado pela 16ª Promotoria de Justiça de Dourados, mas, por envolver impacto direto na prestação de serviços de saúde e conduta de pessoa já diplomada vereadora, o procedimento foi repassado à 10ª Promotoria, responsável por questões relacionadas à saúde pública.
Entre as medidas solicitadas pela Funsaud estão reforço na segurança das unidades, esclarecimentos públicos à população e apuração das condutas da parlamentar. O Ministério Público segue com a apuração dos fatos, e o nome das denunciantes foi mantido sob sigilo.