Para tentar desmentir Eliane dos Santos, que é ex-esposa de Marcelo Rios, que na terça-feira afirmou em depoimento no tribunal do júri que ela e o marido haviam sofrido tortura no Garras, o Ministério Público Estadual (MPE) mostrou nesta quarta-feira um vídeo em que Eliane procurou o Gaeco no dia 7 de agosto de 2019 para tentar fazer um acordo de delação para que o marido revelasse tudo o que sabia sobre a família Name.
Essa negociação com o Gaeco, porém, não evoluiu porque, segundo a promotoria, a família Name passou a pagar R$ 5 mil por mês à mulher de Marcelo Rios para que ele mantivesse o silêncio e assumisse ser ele o proprietário do arsenal de fuzis, pistolas e espingardas apreendido em uma casa no bairro Monte Líbano em maio daquele ano.
No vídeo exibido durante o júri nesta quarta-feira (18), Eliane diz que “não sabe o que pode acontecer” e por isso pede para ela e os filhos trocarem de nome e serem incluídos no programa de proteção de testemunhas. Pede, ainda, para mudar de cidade, pois em Campo Grande correria risco de ser morta.
Ela revela, ainda, que procurou o Gaeco porque o advogado Alexandre Franzolozo, que lhe deu assistência ao sair do Garras, não aceitava que Marcelo Rios, chamado pela promotoria como “um dos capangas da família Name”, fizesse a delação contra a o clã.
No dia anterior, Eliane afirmara que conseguiu sair do Garras, onde ficou durante cinco dias, porque seus familiareas ligaram para a OAB e em decorrência disso um advogado foi à delegacia e exigiu sua liberação.
Esse advogado, conforme explicou a promotoria nesta quarta-feira, foi justamente Alexandre Franzolozo, que aparece em uma série de imagens no prédio onde residia Jamil Name Filho. As imagens são de um dia posterior à descoberta do arsenal e da prisão de Marcelo Rios.
Nelas, segundo a acusação, fica demonstrado que o advogado ajudou a fazer “um limpa” no apartamento de Jamilzinho para tentar esconder supostas evidência que poderiam comprovar sua ligação tanto com o assassinato de Marcel Colombo quanto com outros crimes de pistolagem que estavam sob investigação naquela época.
No vídeo exibido nesta quarta-feira, que deve ser o último do julgamento que tem quatro réus, Eliane também informou que precisaria de um defensor público, já que a família não tinha dinheiro para contratar um advogado.
Mas, tanto no julgamento de julho do ano passado, cuja vítima foi o estudante de Direito Matheus Xavier, quanto no júri de agora, o guarda municipal Marcelo Rios é defendido por um advogado particular. Os custos deste defensor, segundo a promotoria, estão todos sendo bancados pela família Name. Tudo isso, segundo o MPE, para que mantenha o silêncio tanto sobre a morte de Marcel Colombo quanto sobre outros crimes supostamente encomendados por Jamil Name Filho.
Eliane dos Santos permaneceu no Garras entre os dias 22 e 27 de maio de 2019. Naquele período, gravou um vídeo, na presença de três promotores e de vários policiais, dizendo que havia descoberto que o marido havia intermediado a contratação do pistoleiro para matar Marcel Colombo.
Agora, porém, ela alega que fez as revelações porque o delegado Fábio Peró, que comandou a operação Omertà, ameaçava “arrancar minha cabeça, do meu marido e dos meus filhos” caso não colaborasse com dissesse que a família Name estava envolvida nos crimes que eles estavam investigando.
Para a promotoria, o fato de ela ter ido ao Gaeco quase dois meses e meio depois destas supostas torturas evidencia que ela está mentindo agora, por orientação dos advogados de devesa. Por ser ex-esposa de Marcelo Rios, como ela mesma se apresentou nesta terça-feira, Eliane foi ouvida na condição de informante. Sendo assim, conforme deixou claro o juiz Aloísio Pereira, ela não tem obrigação legal de falar a verdade.
A previsão é de que o júri, que começou na segunda-feira (16) acabe na noite desta quarta-feira. A previsão inicial era de que se estendesse até quinta-feira, mas uma série de testemunhas foi dispensada e por conta disso os trabalhos do júri estão adiantados.
CORREIO DO ESTADO