Autores dos disparos que no dia 8 de maio resultaram na morte do ex-vereador Wander Alves Meleiro, o Dinho Vital, de 40 anos, de Anastácio, o sargento Valdeci Alexandre da Silva Ricardo e o cabo Bruno César Malheiros dos Santos foram inocentados pela corregedoria da PM.
E, a reação de um cachorro foi fundamental para que a investigação interna chegasse a esta conclusão. A morte aconteceu às margens da BR-262, próximo a um posto de combustíveis. Neste posto existe uma série de câmeras, mas nenhuma delas registrou com precisão a cena dos disparos.
Uma delas, contudo, registrou a reação de um cachorro que estava na parte interna do posto e com base nisso a corregedoria da PM chegou à conclusão sobre o segundo exato em que teriam ocorrido os disparos, contradizendo a verão da esposa da vítima, de que os policiais já teriam chegado atirando e não teriam dado possibilidade para que ele se rendesse.
“Para saber exatamente o horário, com precisão de segundos, em que os disparos foram efetuados, culminando com a morte de Dinho Vital, precisamos recorrer a câmera 10 de segurança do Posto Taquaruçu, visto que as câmeras capturaram apenas imagens, sem o som ambiente. A câmera 10 fica em uma sala com piso branco, onde se encontra deitado um cão de cor preta, que tem uma capacidade auditiva maior que a do se humano, salientando que o som percorre a distância de 350 metros por segundo, assim, às 16 horas 59 minutos e 55 segundos o cão levanta a cabeça, fica em pé, sai da sala e se posiciona de frente para onde foram disparados os tiros, em seguida, funcionários do posto correm assustados e ficam próximo do cão”, diz parte do texto do inquérito da PM.
Na sequência, diz a investigação da corregedoria, que com a “análise criteriosa das imagens da câmera 02 do Posto Taquaruçu, constata-se que entre a passagem do Toyota Etios (no qual estavam os PMs) ao lado do Fiat Toro (nele estava a vítima) e o começo dos disparos, tempos o tempo aproximado de 29 segundos”.
E, “esse tempo de 29 segundos contradiz o depoimento da Senhora Marilene, pois em seu depoimento ela afirma que já durante a conversão do Toyota Etios os ocupantes começaram a atirar”. Marilene estava próximo ao local em que marido foi morto e aparece em outras câmeras de segunrança deste posto.
Os policiais, porém, garantem que pararam o carro atrás da caminhonete em que estava o ex-vereador, pediram para que ele se rendesse e somente começaram a disparar para se defender de uma suposta tentativa de agressão de Dinho.
E para confirmar a versão de que não chegaram atirando, um deles relatou, inclusive, que estava sem munição em sua arma e que só a carregou depois de estacionar o veículo.
FIM DA FESTA
A morte aconteceu depois de uma discussão em uma festa que ocorria em uma chácara por conta do aniversário de Anastácio. Nesta festa, por conta de discussão sobre a sucessão municipal em Anastácio, o ex-vereador e o ex-prefeito Douglas Figueiredo discutiram e Dinho Vital acabou sendo “expulso” após uma briga generalizada.
Mais tarde, porém, retorno armado e ficou na rodovia, próximo ao local da festa. Alertados, os dois policiais, que estavam na festa, alegam que tentaram conter o ex-vereador, pois supostamente havia o temor de que ele pudesse disparar contra Douglas Figueiredo.
Na versão de familiares e amigos da vítima, estes dois policiais estariam no local fazendo o serviço de seguranças do Douglas Figueiredo, que pretende disputar a prefeitura de Anastácio. A corregedoria, porém, tomou o depoimento de 34 pessoas e 29 delas negaram a versão de que os PMs fossem seguranças do pré-candidato.
PRISÕES
Por conta da morte, os dois policiais pediram afastamento de suas atividades e no dia 17 de maio chegaram a ser presos. O pré-candidato Douglas Figueiredo (PSDB) também foi detido no mesmo dia, por posse ilegal de arma. Menos de 24 horas depois, porém, foi solto. Os PMs, porém, seguem presos.
Em seu despacho, o juiz Luciano Pedro Beladelli deixou claro que os mandados são buscar possível provas que possam comprovar que ocorreu um crime político.
O mandado foi para “coletar provas relativas à prática do crime de homicídio qualificado, por meio da apreensão de vestígios físicos ou digitais localizados, por exemplo, em cadernos, agendas, anotações avulsas, extratos, dispositivos eletrônicos, servidores, redes ou serviços de armazenamento em nuvem de qualquer espécie, quando houver suspeita que contenham material probatório relevante para as investigações; sem prejuízo, obviamente, de eventuais instrumentos caracterizadores de crime”.
O inquérito da PM deve agora ser anexado à ação judicial que está sendo comandada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual. Ele não inocenta os PMs, mas a decisão certamente terá peso no julgamento e, a princípio, eles não sofrerão punição interna na corporação, uma vez que a corregedoria entendeu que agiram corretamente.
Em favor dos PMs também já foi divulgado um laudo apontando que os disparos que atingiram Dinho não foram feitos pelas costas, conforme afirmaram familiares logo após o crime. A perícia apontou que o tiro fatal teria atingido o ex-vereador na lateral do corpo, alcançando assim o coração.
A DEFESA
Em nota, o advogado Lucas Arguelho Rocha, que defende os PMs, informou que “a defesa não tomou nota ainda da integralidade do resultado das investigações no âmbito do Inquérito Policial, todavia, sempre acreditou e confiou plenamente que a verdade real apareceria, sobretudo quando há uma investigação Isenta, Imparcial e Justa”.
Desde o início, segue a nota “a defesa sustenta que os PMs agiram no estrito cumprimento do dever legal e salvaguardados pela legítima defesa, além de que nunca exerceram a segurança privada de qualquer autoridade ou ex-autoridade naquele ambiente festivo, e o resultado disso fica esclarecido e elucidado com o encerramento das investigações.”