Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou nesta segunda-feira (27) que vê com bons olhos a discussão sobre a desindexação dos pisos de Saúde e Educação no Orçamento da União. A flexibilização dessas despesas pode ser um passo significativo para reancorar as expectativas de inflação no Brasil, segundo Campos Neto, que fez a declaração durante um evento do grupo Lide em São Paulo.
O Tesouro Nacional estima que desvincular o gasto mínimo dessas áreas ao crescimento da arrecadação e à inflação pode liberar até R$ 131 bilhões para outros gastos até 2033, aliviando o déficit fiscal do país. Atualmente, a previsão do mercado aponta para um déficit de 0,70% em 2024 e de 0,63% em 2025, em contraste com as metas de déficit zero estabelecidas para ambos os anos.
Impacto nas Expectativas de Inflação
Campos Neto ressaltou que as expectativas de inflação subiram recentemente devido a fatores como a flexibilização da meta fiscal e a tragédia no Rio Grande do Sul. Contudo, ele acredita que essas expectativas devem estabilizar e melhorar ao longo do tempo, com a inflação convergindo para a meta de 3%.
O presidente do Banco Central destacou que a desancoragem das expectativas de inflação influenciou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir o ritmo do afrouxamento monetário, diminuindo a taxa Selic em 0,25 ponto percentual na última reunião, para 10,50% ao ano. A decisão não foi unânime, com os quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votando pela manutenção de um corte de 0,5 ponto percentual.
Campos Neto enfatizou que a divisão no Copom foi de natureza técnica, relacionada ao custo de manter ou não o guidance de política monetária. “A divisão gerou ruído, mas foi técnica sobre o custo de se manter ou não o guidance,” afirmou ele.
Mudanças Climáticas e Política Monetária
Durante sua apresentação a empresários, Campos Neto incluiu um mapa que ilustra a elevação das temperaturas globais e destacou que os efeitos das mudanças climáticas podem desorganizar os preços dos alimentos e a estabilidade financeira. Ele apontou que essas questões influenciam diretamente a atuação da autoridade monetária.
Campos Neto reafirmou a importância de um debate contínuo sobre a desindexação dos pisos de Saúde e Educação, sugerindo que a flexibilização desses gastos pode oferecer maior margem de manobra para o governo lidar com o déficit fiscal e estabilizar a economia brasileira.
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