A perseverança foi fundamental para que a judoca Érika Cheres Zoaga, de 36 anos, conquistasse a medalha de prata nos Jogos Paralímpicos de Paris. A atleta se manteve na disputa pelo pódio na categoria +70 kg da classe J1 (cegos totais), mesmo após sofrer uma lesão no ombro durante sua primeira luta.
Em entrevista para o Correio do Estado, a sul-mato-grossense Érika Zoaga falou como foi superar as dificuldades enfrentadas em sua estreia na Paralimpíada.
“A experiência em Paris foi incrível. Tivemos muitos obstáculos pelo caminho, eu vinha de uma recuperação de cirurgia do joelho, e na primeira luta a adversária machucou o meu ombro. Eu continuei e fiz a semifinal e a final. Foi uma emoção muito grande, foi Deus mesmo”, descreveu Érika sobre a sua trajetória em Paris.
A luta em que se lesionou ocorreu nas quartas de final, contra a venezuelana Sanabria Alcala. A atleta foi desclassificada da Paralimpíada após aplicar o golpe ilegal em Érika.
“Essa luta foi muito dura, tive muita dificuldade, porque fomos para o golden score, e aí ela (Sanabria) me derrubou e senti o ombro na hora. Achei que tinha perdido, mas o árbitro decidiu que a entrada da adversária era um golpe proibido”, explicou.
Após esse confronto, a atleta derrotou a turca Nazan Akin nas semifinais. Na final da categoria, perdeu a luta para a ucraniana Anastasiia Harnyk.
“A ucraniana era a adversária mais forte, mas na hora que a luta acabou foi difícil aceitar que eu tinha perdido, mas depois, pensando em tudo que passei, o sentimento muda. Era o que Deus tinha preparado para mim, e sou grata por isso”, declarou.
A força da Érika em ultrapassar os obstáculos pelo caminho e chegar à final do judô também vem de sua família, do esposo Emanoel Velásquez e do seu filho Vitor Hugo, de 15 anos.
“Eu fiz uma oração um dia antes da minha estreia na Paralimpíada. Eu conversei com Deus e pedi para ele fazer para mim o mesmo milagre que ele fez para o Vitor Hugo, quando ele nasceu prematuro e ficou dias na UTI neonatal”, contou a judoca.
Voltando para Mato Grosso do Sul com a medalha de prata, Erika quer se preparar para trazer o ouro nos Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028.
“Eu quero continuar me preparando para tentar mais uma medalha. Até brinco que deixei uma matéria pendente em Paris, e por isso preciso voltar”, disse.
Além da prata conquistada em Paris, as principais conquistas de Érika nos tatames, de acordo com informações do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), são a medalha de prata no Grand Prix de Tbilisi e a de ouro no Grand Prix de Antalya (2024), além do bronze nos Jogos Mundiais da IBSA (2023) e do ouro no Pan-Americano da IBSA de Edmonton (2022).
INÍCIO NO JUDÔ
Erika nasceu em Guia Lopes da Laguna e se mudou para Campo Grande aos sete anos, quando foi estudar no Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas (ISMAC).
Aos 12 anos, Érika chegou a voltar para a cidade natal com os seus pais em um acampamento sem-terra, voltando para a Capital em 2006, quando foi apresentada ao judô por meio da judoca sul-mato-grossense Michele Ferreira, que foi duas vezes medalhista de bronze na Paralimpíada.
Com 17 anos, Érika chegou a praticar outras modalidades como o goalball e disputou competições regionais no atletismo, porém, optou por seguir trilhando o caminho do judô. A sua primeira competição pela modalidade foi o Campeonato Brasileiro de Judô, disputado no Rio de Janeiro, em 2006.
“Preferi seguir no judô porque é um esporte individual, e eu gosto dos treinos, porque me sinto bem. O judô para mim é uma terapia, porque me sinto mais leve quando saio dos treinos, me ajuda a desestressar. Quando eu não estou bem, eu saio de lá (dos treinos) renovada”, disse Érika.
Desde 2017, Érika é atleta de judô do município de Rondonópolis (MT) e treina em Cuiabá, recebendo o apoio da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel).
Após uma mudança de classe no judô paralímpico ocorrida em 2022, com a criação da classe J2 (para baixa visão), surgiu a possibilidade de Érika conseguir uma vaga paralímpica, lutando apenas com pessoas cegas.
“Antes as classes eram todas misturadas, então nem tínhamos esperança de disputar a Paralimpíada, achava difícil de acontecer. Mas com a separação recente de classes ficou mais justo para a gente”, informou.