A secretária de Saúde informa que, atualmente, a Capital tem um deficit de mais de 500 leitos do SUS e que o futuro complexo hospitalar terá 259 leitos, mas é o que cabe no Orçamento da prefeitura, sem onerar tanto o caixa.
Nesta semana, o Correio do Estado tratou de pontos atuais e importantes para a saúde de Campo Grande. Atualmente, a capital de Mato Grosso do Sul enfrenta uma série de problemas antigos e novos, como a falta de leitos de internação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a superlotação de unidades, por conta de doenças diarreicas agudas.
Em relação ao primeiro desafio citado, a titular da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Rosada Leite de Melo, relatou que apesar de o município ter uma série de hospitais, como a Santa Casa, o Pênfigo, o São Julião e o Universitário, atendendo seus pacientes, ainda assim não é suficiente.
A prefeitura lançou neste ano a licitação para empresas interessadas em construir o Hospital Municipal, no modelo Built to Suit. No entanto, o número de leitos que o Executivo é capaz de pagar atualmente ainda não é o suficiente para resolver o problema.
Enquanto isso, as unidades de saúde de Campo Grande estão superlotadas, por conta do aumento de 30% dos casos de doenças diarreicas agudas, notificados nas últimas semanas. A secretária informa ainda que a Pasta vai investigar os casos e está fazendo uma parceria com o Estado, para a análise dos exames feitos pelos pacientes.
As frequentes ondas de calor, a falta de chuva e a fumaça também têm contribuído para uma piora do quadro de saúde da população campo-grandense. Nesta semana, a Sesau publicou uma nota alertando a população sobre o baixo índice de umidade relativa do ar para os próximos dias.
Rosana Leite falou ainda sobre a vacinação e a investigação interna aberta pela prefeitura, após a auditoria feita pela Controladoria Geral da União (CGU), sobre os problemas do Sistema de Regulação (Sisreg) do SUS, que é gerido pela Pasta. No documento, foram apontadas uma série de irregularidades na distribuição dos atendimentos, entre outras questões ligadas à saúde pública da Capital. Veja a seguir.
Vimos que nas últimas semanas muitas pessoas têm adoecido, por conta de doenças gastrointestinais. Como está a situação das doenças diarreicas no município? Podemos considerar isso um surto?
Nós estamos investigando as causas desse aumento de notificações para saber se é uma virose, que é a maior possibilidade, ou se tem a ver com alimentos contaminados, falta de hábitos de higiene ou ainda sintomas de alguma doença. Nós já estamos encaminhando uma parceria com o Estado para que esses exames feitos pelos pacientes sejam analisados e a gente possa determinar uma causa específica.
Nessa época do ano mais seca, existe uma maior proliferação de vírus, isso porque sem chuva, até mesmo para dispersar partículas de poluição, esses vírus circulam mais. Nós divulgamos nesta semana um alerta de saúde para que as pessoas prestem atenção a uma nova onda de calor com altas temperaturas e umidade do ar entre 30% e 12%, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma umidade acima dos 60%.
Os casos de gastroenterite são os maiores responsáveis pelos aumentos nos atendimentos das unidades de urgência e emergência, um aumento de 30%. A gente estava acostumado a atender de 2,5 mil a 3 mil pessoas nessas unidades, mas desde o dia 19 de agosto, essa procura saltou para mais de 4 mil pacientes. Nesta semana, no dia 4, uma quarta-feira, nós tivemos 4.252 atendimentos nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e CRSs (Centros Regionais de Saúde).
Nós pedimos à população que evite procurar essas unidades se o caso não for tão grave para não haver uma sobrecarga e busque primeiro as Unidades de Saúde da Família (USFs), que, além das consultas marcadas, também atendem às demandas espontâneas. Aí se a pessoa não melhorar, a gente orienta que procure a urgência e emergência.
No primeiro semestre do ano, tivemos surtos de doenças gripais, respiratórias, e agora esse aumento de casos de doenças gastrointestinais. Como a secretaria se prepara para essas situações, em que aumenta muito a demanda de atendimentos nas unidades de saúde?
Nós aqui na Sesau contratamos mais médicos para suprir o aumento da procura na rede municipal de saúde e também ampliamos o plantão dos profissionais de saúde. Ainda determinamos que 46 USFs passem a operar com horário estendido para atender à população que nos procura.
Nós temos batido muito na tecla de que é preciso ter paciência e bom atendimento, e temos conseguido essa parceria com nossos servidores que muitas vezes sofrem injustiças no ambiente de trabalho. A gente entende o porquê da pessoa estar ali com um sintoma, ela está doente ou está acompanhando algum parente que não está passando bem, e é claro que ela está mais sensível, e para isso, nossos gerentes, coordenadores e superintendentes têm conversado muito com os servidores para compreenderem a situação.
Tudo o que precisa ser feito para atender melhor nossos pacientes, nós estamos fazendo. Às vezes pode parecer que o resultado tá demorando, mas a gente tá trabalhando para que tudo fique melhor, e isso as pessoas vão acabar enxergando.
Como está o andamento do Hospital Municipal de Campo Grande? Já tem a empresa que vai fazer a parceria? Tem algum prazo para o início das obras?
Campo Grande tem um deficit real de 500 a 1.500 leitos do SUS. Todos os dias as nossas unidades de urgência e emergência tem uma espera de até 120 pacientes para internação hospitalar. Os hospitais Santa Casa, Pênfigo, São Julião, Universitário e Regional têm sido nossos parceiros e nos atendem com a rapidez que conseguem, mas só a construção de um Hospital Municipal para desafogar a falta de leitos na Capital.
E olha que ainda não vai ser suficiente, porque vamos construir 259 leitos, quando precisamos de mais do que o dobro disso. Mas é a construção que o orçamento da prefeitura consegue bancar, sem onerar tanto o caixa, e é uma construção mais rápida e eficiente. No mundo todo, o Built to Suit tem atraído investidores.
A licitação do hospital vai até o dia 27 de setembro. Nesse dia, a gente deve conhecer quem são as empresas que estão concorrendo, nós temos até o fim do ano para escolher a empresa vencedora. Assim que a empresa for escolhida, a construção deve começar e durar pelo menos um ano e meio, então até 2026 teremos nosso Hospital Municipal.
“Estamos investigando as causas desse aumento de notificações para saber se é uma virose, que é a maior possibilidade, ou se tem a ver com alimentos contaminados, falta de hábitos de higiene ou ainda sintomas de alguma doença”.
Tudo o que precisa ser feito para atender melhor nossos pacientes, nós estamos fazendo”.
“Campo Grande tem um deficit real de 500 a 1.500 leitos do SUS. Todos os dias as nossas unidades de urgência e emergência tem uma espera de até 120 pacientes para internação hospitalar”.
Estamos chegando no fim de 2024 e sabemos que, nos últimos anos, os índices de vacinação têm oscilado bastante e alguns imunizantes não conseguem atingir a meta do Ministério da Saúde. Como está a situação neste ano? A secretaria vai buscar fazer outras iniciativas além das que já estão em prática, como a vacinação extramuros?
Infelizmente há um descrédito quanto à eficácia das vacinas, e isso não é só aqui em Campo Grande não, mas é um movimento mundial. Nós, em Campo Grande, temos atingido metas maiores de vacinação do que o Brasil. Um exemplo é a vacina da gripe, contra a influenza, nós vacinamos aqui na Capital 50,52% da população, enquanto no Brasil esse índice está em 49,4% e no estado de Mato Grosso do Sul o índice está em 47,8%. As campanhas de vacinação são conduzidas pelo Ministério da Saúde, e nós temos aderido a todas elas.
Após a auditoria da CGU, a prefeitura abriu investigação interna sobre alguns pontos, como os procedimentos feitos fora do sistema de regulamentação. Já houve resultado dessa investigação?
Nós ainda estamos investigando. Esse relatório foi divulgado há pouco mais de um mês e a nossa sindicância foi aberta mais ou menos nesse período. Estamos ouvindo todos os envolvidos e passando um pente fino nos sistemas que gerem a nossa regulação. Se houve má fé, nós vamos descobrir, se houve um erro no sistema, nós vamos corrigir. Na minha administração, a Secretaria Municipal de Saúde não vai nunca andar para trás.
“Infelizmente há um descrédito quanto à eficácia das vacinas, e isso não é só aqui em Campo Grande não, mas é um movimento mundial”.
Rosana Leite de Melo
Rosana Leite de Melo tem 50 anos, é formada em Medicina pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e fez residência no Hospital AC Camargo, em São Paulo (SP). É oncologista e cirurgiã especialista em cabeça e pescoço. Em sua carreira, foi secretária-adjunta da Saúde antes de assumir o cargo de secretária municipal, em fevereiro deste ano. Ela também adquiriu uma vasta experiência em administração pública e situações de risco. Rosana foi diretora do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul e, depois, foi nomeada secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19 no governo Jair Bolsonaro.