A intensa seca e o calor registrados em 2024 trouxeram mudanças inesperadas para a fauna no Pantanal do Mato Grosso. Reportagem publicada neste domingo pelo O Globomostra as capivaras, conhecidas pela pelagem castanha ou ruiva, surgiram com tons amarelo-claro e dourado, resultado de uma exposição prolongada ao sol, conforme explicam especialistas.
Segundo Juliano Bogoni, ecólogo e professor da Unemat, a alteração na cor das capivaras reflete os efeitos do clima extremo sobre os animais. Cuiabá enfrentou 160 dias consecutivos sem chuvacom temperaturas frequentemente acima de 40°C, atingindo 44,1°C em outubro. Durante esse período, o Pantanal também sofreu com incêndios e a escassez de água.
A exposição ao sol intenso degradou a melanina presente na pelagem das capivaras, pigmento que protege contra a radiação ultravioleta. Com isso, os pelos ficaram mais claros e ressecados, tornando os animais mais vulneráveis a desconfortos e predadores, como as onças.
“A seca e o calor não afetam apenas a aparência, mas causam perdas metabólicas e forçam adaptações comportamentais, como maior atividade noturna”, explica Bogoni.
Chuvas tardias e desafios para o Pantanal
As chuvas retornaram consistentemente apenas no final de 2024, trazendo um alívio parcial para a região. No entanto, áreas do Pantanal ainda enfrentam dificuldades para se inundar devido à seca prolongada. Segundo Ibraim Fantin, da UFMT, mesmo que as precipitações voltem à média, a recuperação do ecossistema será lenta.
A mudança de cor nas capivaras não é permanente. Com a redução da exposição solar e o aumento das chuvas, elas podem retomar sua tonalidade original. Contudo, a alteração do clima continua a ameaçar os habitats e a sobrevivência de diversas espécies no Pantanal.
Perspectivas para o ecossistema
A continuidade das chuvas nos próximos meses é crucial para a fauna e a flora pantaneira. A cheia anual, essencial para a manutenção do ecossistema, depende de um equilíbrio hídrico ainda distante. Sem esse ciclo, a biodiversidade do Pantanal segue sob risco, impactando espécies já adaptadas à abundância de água.