Espécies de peixes do Bioparque Pantanal foram inseridas na Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), Língua Americana de Sinais (ASL) e Línguas Indígenas de Sinais, para que deficientes auditivos possam identificá-las.
As espécies são identificadas pelos nomes, mas, algumas pessoas possuem limitações de audição. Com isso, a experiência pode ser limitada durante a visita no maior aquário de água doce do mundo, já que inúmeras espécies ainda não fazem parte das línguas de sinais.
Para isso, pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e equipe do Bioparque Pantanal encararam o desafio de criar e catalogar sinais de peixes existentes no aquário, com o objetivo de promover a acessibilidade e incentivar métodos de comunicação alternativos na ciência.
O 380 espécies de peixes existentes no Bioparque Pantanal, 67 foram catalogadas nos sinais de libras.
A partir do projeto, o intuito é criar um catálogo que será incluído nas visitações guiadas e, posteriormente, disponibilizado para o público em geral.
A coordenadora da pesquisa e professora da Faculdade de Educação da UFMS, Shirley Vilhalva, comentou a respeito da relevância do trabalho desenvolvido pela UFMS em parceria com o Bioparque.
“Isso vai contribuir para toda a comunidade surda, mundialmente falando, porque esses sinais, que ainda não existem, serão incorporados à língua de sinais e livres para uso. Enquanto professora, eu penso na área do ensino. Com todo esse processo a gente vai contribuir para biologia de uma forma geral, para todos os surdos que quiserem estudar biologia e também para as crianças surdas compreenderem palavras como pacu, lambari, assim como as crianças ouvintes”, pontuou a pesquisadora.
A intérprete de Libras do Bioparque Pantanal, Beatriz Marques Lunardi, explica que a dificuldade com a falta de sinais foi identificada no cotidiano, durante visitas guiadas com deficientes auditivos.
“A gente percebeu como é muito difícil na hora de fazer uma interpretação porque temos muitos peixes que desconhecemos os sinais na língua de sinais, em Libras. Então, em uma conversa da diretora (do Bioparque, Maria Fernanda Balestieri) com os profissionais intérpretes, a gente contou isso para ela. Foi a partir dessa conversa que ela teve a ideia do projeto e fez a proposta para a UFMS, que felizmente aceitou”, comentou.
Ictiolinguística
A partir da junção da ictiologia – estudo dos peixes – e da linguística – estudo das palavras – surge a Ictiolinguística, nome dado à pesquisa.
O projeto é realizado por etapas, sendo a primeira delas uma pesquisa sobre as espécies a serem catalogadas e a busca por sinais correspondentes.
É a partir da identificação de características marcantes dos peixes que os sinais são criados pela equipe de pesquisadores, como pintas, marcas, listras, se o peixe tem uma barbatana de um modo diferente e se o queixo dele é projetado para frente.
“Eu preciso realmente aprender (sobre o peixe estudado), saber qual a sua origem e se já há algum sinal que corresponda à espécie. A gente precisa ter um sistema de organização, de pesquisa e de busca para conseguir encontrar o sinal, precisa pesquisar em outras regiões do mundo já que temos peixes de vários lugares aqui. Mas nós encontramos muito pouco, às vezes nenhum”, detalhou Beatriz Marques Lunardi.
O Bioparque Pantanal possui 380 espécies de peixes em 239 tanques nadando em cinco milhões de litros de água.