Ó AVC (Acidente Vascular Cerebral), uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo, foi a causa do óbito de 39.345 brasileiros de janeiro a 20 de agosto, segundo os dados mais recentes do Portal de Transparência do Registro Civil, mantido pela ARPEN Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais). O número equivale a seis óbitos por hora.
Embora seja uma condição amplamente prevenível e tratável, à nível global, o número de casos AVC aumentou 70% entre 1990 e 2021, segundo estudo recém-publicado na renomada revista científica The Lancet Neurology. Ainda de acordo com a pesquisa, houve crescimento de 44% nas mortes por AVC, além de um aumento de 32% na piora da saúde relacionada à doença
Na análise dos pesquisadores, essa elevação pode ser atribuída tanto ao crescimento populacional quanto ao aumento do envelhecimento da população mundial, além da maior exposição aos fatores de risco comportamentais e ambientais. Nesse último aspecto, inclusive, o estudo destacou que, no total, 84% da carga da condição em 2021 está associada a 23 fatores de risco modificáveis, incluindo calor e poluição do ar, enquanto a hipertensão arterial (“pressão alta”) continua sendo o principal fator de risco para o AVC. Esa é a primeira vez que uma análise indica que a poluição do ar por partículas é um dos principais fatores de risco para AVC hemorrágico, contribuindo para 14% das mortes e incapacidades associadas a esse subtipo de AVC, um nível comparável ao risco relacionado ao tabagismo.
Em tempos de crise climática, não apenas no Brasil, mas vivenciada pelo planeta como um todo, o enfrentamento ao AVC torna-se desafiador. “As mudanças climáticas impactam diretamente a saúde pública, exacerbando condições que já eram preocupantes e criando riscos. O calor extremo, por exemplo, pode levar à desidratação, o que aumenta a viscosidade do sangue e, consequentemente, o risco de formação de coágulos. Além disso, o calor provoca estresse no sistema cardiovascular, elevando a pressão arterial e o ritmo cardíaco, ambos fatores que contribuem para o desenvolvimento de AVC”fala a pesquisadora e neurologista, Sheila Ouriques Martins, que preside a Rede Brasil AVC e a World Stroke Organization (WSO).
Com relação à poluição, a especialista explica que, especialmente a inalação de partículas finas e gases tóxicos, tem sido associada a inflamações e danos nos vasos sanguíneos. Essas partículas podem causar estresse oxidativo e inflamação sistêmica, levando ao estreitamento das artérias e comprometendo o fluxo sanguíneo. “Estudos mostram que a exposição prolongada à poluição do ar pode aumentar a incidência de AVCs, especialmente entre populações vulneráveis, como idosos e pessoas com condições preexistentes”diz.
Pressão no sistema de saúde
A presidente da Rede Brasil AVC e da WSO ressalta que outro aspecto relevante da atual crise climática é a pressão sobre os sistemas de saúde. “Em períodos como esse, os serviços de saúde podem ficar sobrecarregados e desorganizados, dificultando a resposta a emergências médicas como o AVC. A combinação de um aumento nas taxas de AVC, junto com a capacidade limitada de resposta dos serviços de saúde, representa um cenário preocupante”salienta.
Outros fatores de risco
Além da hipertensão, sedentarismo, excesso de peso corporal, tabagismo, abuso de álcool, e a alimentação não saudável são outros fatores que contribuem para o risco de AVC. Em outubro, campanha que será realizada durante todo o mês, com destaque para a data de 29 de outubro – Dia Mundial do AVC –, focará na importância do controle desses fatores, já que até 90% dos AVCs podem ser prevenidos. Check-ups regulares; acompanhamento da pressão arterial; alimentação saudável; prática de exercícios e evitar o fumo são alguns dos pontos destacados para prevenção.
“O enfrentamento ao AVC requer uma abordagem multifacetada, com a implementação de políticas integradas que promovam a saúde pública e a proteção ambiental. É preciso promover estilos de vida saudáveis e garantir acesso equitativo a cuidados de saúde”, pontua Sheila. “Somente por meio de uma abordagem colaborativa e abrangente será possível mitigar os impactos dos fatores de risco na incidência de AVC e proteger a saúde das populações em todo o mundo”conclui.
Fonte: Notícias a la Minute