A demora para liberação da “dragagem” do rio Paraguai ameaça o emprego de 11 mil pessoas em Mato Grosso do Sul, conforme estimativa feita pelo deputado estadual Paulo Duarte(PSB), que é ex-prefeito de Corumbá, a principal cidade pantaneira.
De acordo com este estudo, são 3,5 mil empregos diretos e 7,5 mil indiretos que dependem da navegabilidade do rio, que no último dia 17 atingiu seu mais baixo nível da história na régua de Ladário, 69 centímetros abaixo de zero.
Depois disso, em decorrência de algumas chuvas que atingiram a planície pantaneira, o rio deu sinais de recuperação e nesta segunda-feira (21), amanheceu cinco centímetros mais alto, com 64 abaixo de zero. Antes disso, o pior nível havia sido registrado em 1964, com 61 abaixo de zero na mesma régua.
Porém, para que a hidrovia volte a ser navegável ainda é preciso muita água. Para o transporte fluir a plena carga, o nível precisa está acima de 1,5 metro em Ladário, o que só deve ocorrer a partir de fevereiro do próximo ano, caso ocorram chuvas dentro da média histórica em Mato Grosso do Sul e, principalmente, em Mato Grosso.
Para se livrar da dependência climática, seria necessário remover quatro bancos de areia do fundo do rio entre as cidades de Corumbá e Porto Murtinho, segundo Paulo Duarte. Se isso fosse feito, o transporte, principalmente de minérios, poderia ser feito inclusive no período de estiagem, explica o parlamentar.
Sem retirada de areia
De acordo com o Dnit, para que o rio ficasse navegável durante o ano inteiro, seria necessária a remoção de 18 bancos de areia. Esta remoção, classificada como manutenção de calado, não significa retirar nem uma única pá de areia do fundo do rio.
A “dragagem” que precisa ser feita, segundo o Dnit, se resume a remover esta terra de uma parte para outra no fundo do rio. Com isso, garante o Dnit, não há risco de interferir no nível ou na velocidade de escoamento da água, que é o principal temor dos ambientalistas.
De janeiro a setembro do ano passado, período em que o nível do rio chegou a atingir 4,24 metros em Ladário, foram escoadas 5,27 milhões de toneladas de minérios para exportação. Em 2024, quando o nível máximo não passou de 1,47 metro, o volume caiu 41%%, ficando em apenas 3,13 milhões de toneladas.
Para 2025, caso ocorra recuperação do nível e caso seja feita a chamada manutenção de calado, existe possibilidade de exportação de até 13 milhões de toneladas de minérios a partir dos portos de Corumbá e Ladário, conforme o deputado Paulo Duarte.
E conforme o parlamentar, cerca de 3 mil pessoas trabalham diretamente com as atividades de extração dos minérios. Além disso, existem outras milhares que trabalham nos portos, nas barcaças, transportadoras e empresas que prestam serviço ao grupo J&F, principal responsável pela extração dos minérios nas morrarias de Corumbá.
O Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, é o segundo maior empregador de Corumbá, ficando atrás somente da prefeitura, lembra o deputado, que tenta convencer a cúpula nacional do Ibama a liberar os trabalhos de desassoreamento do rio.
Os técnicos do Ibama de Brasília exigem que seja feito um estudo de impacto ambiental antes de liberar a “dragagem”, que já é feita há vários anos no chamado trecho norte da hidrovia, entre Cáceres e Corumbá.
Este estudo, porém, pode demorar até três anos e o ideal, segundo o deputado, é que estes trabalhos sejam feitos agora, quando o nível do rio está baixo. Ele acredita que em até três meses seria possível remover a terra nos quatro pontos mais críticos.
Importância da hidrovia
“O assoreamento do Rio Paraguai tem um impacto direto e significativo na economia local e regional. A dificuldade de navegação afeta a eficiência do transporte de mercadorias, levando a atrasos e aumento dos custos operacionais. Isso, por sua vez, pode resultar em preços mais altos para os consumidores e uma diminuição da competitividade de nossos produtos no mercado global”, alerta o parlamentar. .
Além disso, lembra, “a situação atual pode desencorajar novos investimentos na região, prejudicando o crescimento econômico a longo prazo. Empresas que dependem do transporte fluvial podem optar por fazer negócios em outras regiões onde a navegação é mais confiável”.
Quando o nível do rio está favorável, pelo chamado tramo sul da hidrovia, entre Corumbá e Porto Murtinho, podem passar comboios com 290 metros de comprimento, 48 de largura, calado de 2,7 metros e capacidade para 24 mil toneladas.
No Trecho Norte, entre Corumbá e Cácere, podem trafegar trens de até 140 netris de comprimento e 24 de largura, e calado de 1,5 metro. A capacidade de transporte é bem menor, de de até 500 toneladas de carga.
A maior parte das cargas, principalmente de minério, é transportada até a Argentina e o Uruguai, de onde são despachadas para a Ásia e a Europa em embarcações maiores.