Adolescente de 17 anos que trabalhava com João Augusto Borges de Almeida, de 21 anos, revelou que o colega contou, com antecedência e em detalhes, o plano de matar a esposa e a filha do casal. Segundo o jovem, João pediu ajuda para cometer os assassinatos duas semanas antes do crime, mas ninguém levou a ameaça a sério.
“Sim, ele pediu minha ajuda, mas eu fiquei sem acreditar nele. Foi há duas semanas”, relatou o adolescente. Segundo ele, João falava constantemente sobre seus problemas com a companheira, Vanessa Eugênia Medeiros, de 23 anos, e chegou a comentar que mataria a mulher “enforcada”.
“Ninguém acreditava, até que um dia ele chegou em mim e perguntou se eu sabia ‘quem fazia os corres’. Depois disse que ele mesmo iria fazer, enforcando”, contou.
Ao ser questionado pelo adolescente sobre o destino da filha, João teria dito friamente: “Vai junto”. O colega de trabalho ainda tentou dissuadi-lo. “Eu falei para não fazer isso, que era para dar (a bebê) para alguém em vez de matar”.
A testemunha também afirmou que, no dia do crime, João agiu de forma atípica no trabalho. Ele saiu para almoçar por volta das 15h ou 16h, muito mais tarde do que o habitual, às 13h. Quando retornou, estava visivelmente alterado.
“Voltou com um arranhão no pescoço, sangrando o dedo, vermelho e desesperado. Ele chegou em mim e disse: ‘matei’, depois saiu andando, foi ao encarregado e pediu para sair, para ir no posto fazer um curativo. Ele disse que machucou o dedo ao cair”, afirmou o jovem.
De acordo com o depoimento, João também confessou ao adolescente ter matado Vanessa e a filha Sophie, de apenas 10 meses, e disse que deixou os corpos no banheiro da casa onde moravam, no Jardim São Conrado, em Campo Grande.
O adolescente ainda relatou que João ficou irritado porque não pôde participar de uma partida de futebol entre funcionários da empresa, pois Vanessa teria proibido. Isso teria sido o estopim para o crime. “Ele também falou que iria matar por causa de pensão e porque a mulher não o deixava fazer nada”, disse o jovem.
Depois de cometer os assassinatos, João continuou trocando mensagens com o colega. “Ele falou que estava com o corpo no porta-malas, que estava fedendo, falou que não caiu coisa nenhuma, que não cortou o dedo, que teria sido ela que mordeu o dedo. Também disse que ela arranhou o pescoço dele, o rosto, ao tentar escapar”, relatou.
O crime
João Augusto foi preso em flagrante por assassinar a esposa Vanessa com um golpe de mata-leão, e a filha enforcada logo em seguida, dentro da casa da família, no bairro Jardim São Conrado, em Campo Grande. O crime ocorreu nesta segunda-feira (26).
Ele confessou os assassinatos e afirmou que voltou ao trabalho após o crime. À noite, incomodado com o mau cheiro dos corpos, comprou gasolina, embrulhou as vítimas em cobertores e colocou no porta-malas de um Volkswagen Gol.
Depois, dirigiu até uma área de mata no Indubrasil, onde os corpos foram encontrados carbonizados. Na manhã do dia seguinte (27), João procurou a delegacia, na tentativa de denunciar o suposto desaparecimento das duas.
No entanto, câmeras de videomonitoramento filmou o carro utilizado por João circulando próximo ao local do encontro dos cadáveres pouco antes do achado dos corpos. Através das imagens e cruzamento de dados, a polícia já o tinha como principal suspeito e ele acabou preso na delegacia.
Aos policiais, ele confessou que o crime foi cometido por problemas no relacionamento e que não queria pagar pensão alimentícia para a filha com a separação. João teve a prisão convertida em preventiva após audiência de custódia realizada na quinta-feira (29). Ele responde por duplo feminicídio qualificado e destruição de cadáveres.