O ‘modus operandi’ do negócio foi revelado durante uma reunião da Comissão Bicameral de Investigação
Marcos Morandi –
Embora as transações que envolvem as importações de armas para o Paraguai sejam feitas de forma legal, o pagamento envolve dinheiro em espécie e chama a atenção, porque chega a causar constrangimento e até mesmo risco para os importadores.
O ‘modus operandi’ negócio foi revelado durante uma reunião da Comissão Bicameral de Investigação. As transações são com dinheiro em espécie porque os bancos correspondentes não aceitam transferências para compra de munições.
“Às vezes, eles carregam até US$ 100 mil em uma mochila para fazer a compra disse um representante dos importadores à comissão, conforme publicação do jornal Última Hora, revelando que, embora arriscado, o procedimento acontece de forma normal em Miami, um dos pontos de venda das armas.
“Arriscamos nossas vidas fazendo esse tipo de operação. Qual foi a explicação que nos deram? Não é uma política do Paraguai, muito menos uma política do Banco Central ou do BNF ou da Seprelad. Todos gostaríamos de poder fazê-lo de forma transparente e simples, o problema surge com os bancos correspondentes”, comentou o importador.
Ainda segundo ele, “as transferências feitas no Paraguai têm que passar por um banco correspondente, 80% dos quais estão nos Estados Unidos. Eles não querem aceitar essas transferências se for para comprar munição ou armas”, acrescenta.
No entendimento do representante da DNIT (Direção Nacional da Receita Tributária), Juan Olmedo, esse tipo acaba não se tornando regular porque só é permitida a circulação de até US$ 10 mil em dinheiro.
Para se ter uma ideia do volume de negócio envolvendo a aquisição de armas que circula no Paraguai, entre 2002 e 2024, foram importadas 47 mil armas num valor total de 13 milhões de dólares, segundo a Câmera Bicameral.
Entre os representantes da Associação dos Importadores de Armas comemoram o fato de que não há um único investigado recente escândalo do tráfico de armas do crime organizado que envolve 55 membros da Polícia Nacional e ainda de 46 militares do Exército do Paraguai.
Tráfico de armas
A Dimabel (Direção de Material Bélico) fez uma denúncia formal nessa quinta-feira (24) ao Ministério Público sobre uma rede de tráfico de armas que envolve 55 membros da Polícia Nacional e 46 militares do exército do Paraguai.
Levamentos mostram grande parte dessas armas que entraram legalmente no Paraguai podem estar a serviço do PCC (Primeiro Comando da Capital) e também do CV (Comando Vermelho).
Dados do órgão revelam que cerca de 100 armas foram entregues ao crime organizado no Brasil. Ao todo, nos últimos anos 17.369 armas entraram legalmente no Paraguai e depois desapareceram.
“Tecnicamente, trata-se de uma apresentação de prova documental sobre uma suposta comissão relacionada ao livre tráfico de armas ilícitas”, afirmou o ministro da Defesa, Óscar González, durante entrevista à imprensa paraguaia.
De acordo com investigações preliminares, os envolvidos cobraram cerca de G. 800 mil guaranis para emprestar seus nomes para as organizações criminosas brasileiras. Segundo as autoridades, paraguaias, os agentes foram ‘recrutados’ por comerciantes que importam armas.
Conforme as autoridades paraguaias, esses mesmos dados, indicam que as armas estariam a serviço de organizações criminosas que atuam nas cidades que fazem fronteira com o Brasil. Isso representa 41% das armas importadas legalmente pelo país nos últimos quatro anos, que chegaram a 41 mil unidades.
Pedro Juan lidera o ranking
Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, detém o recorde de que uma única casa comercial é responsável pela perda de cerca de 3.813 armas.
Sob este mesmo modus operandi, existem 6 casas em Assunção que não podem responder pelo paradeiro de 3.412 armas.
Em San Antônio são 2.030, num local que, longe de ser um comércio de armas, é endereço de venda de roupas de uma rede de ofertas.
Em San Lorenzo, dois shopping centers em nome do mesmo proprietário totalizam 2.950vendas. Em Limpio, três chegam a 2.190. E em Ciudad del Este, cerca de 5 casas somam 1.617. Enquanto em Capiatá um local é responsável por cerca de 769. E por fim, Lambaré acrescenta mais 542 armas.