A primeira sessão ordinária da Câmara Municipal de Campo Grande, realizada ontem e já com a participação do recém-empossado Gian Sandim (PSDB), serviu para que o presidente da Casa de Leis, vereador Carlos Augusto Borges (PSB), o “Carlão”, “jogasse a tolha” com relação ao imbróglio sobre a vaga do vereador licenciado Claudinho Serra (PSDB).
Após as seguidas derrotas na Justiça, que determinaram que a Câmara Municipal teria de empossar o oitavo suplente de vereador na vaga aberta com a licença de 120 dias solicitada por Claudinho Serra, finalmente Carlão ouviu a voz da razão – e a dos procuradores jurídicos da Casa de Leis – e decidiu pelo arquivamento da ação que pedia a posse do terceiro suplente de vereador Dr. Lívio (União Brasil).
“A Câmara defende vereador, então, quando a Câmara recorreu naquele caso do Dr. Lívio, ele estava vereador autorizado pelo TRE-MS {Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul}. Hoje, o Gian Sandim está vereador autorizado pela Justiça, então, a Câmara hoje defende o Jean Sandim”, declarou o presidente do Legislativo municipal.
“Então, a Câmara não recorre contra vereador. A Câmara vai recorrer, se alguém quiser tirar a cadeira dele (Gian Sandim), aí a Câmara vai recorrer. Para mim, agora, isso é uma coisa que já virou passado.
Os nossos procuradores jurídicos entenderam isso também e, portanto, eu desejo boa sorte para o Gian Sandim e bola para frente”, completou Carlão durante uso da palavra na sessão de ontem.
O presidente da Câmara Municipal ainda aproveitou para criticar a imprensa sobre a importância que estaria dando para o imbróglio.
“Vamos trabalhar, apesar que tem alguns jornais que acham que deve continuar essa briga e continuam fazendo aquelas perguntas maldosas, mas jornal vive disso, né? Eu acho que eles podem continuar fazendo essas perguntas, que vou continuar respondendo, até eles enjoarem e verem que a cidade tem outras pautas e outras coisas que precisam ser informadas”, criticou.
FALTA À POSSE
Carlão também usou a palavra para tentar justificar a ausência na cerimônia de posse de Gian Sandim na semana passada, alegando que tinha uma viagem marcada e não poderia adiar.
“Já falei com seu pai aquele dia que tive de viajar para Coxim (MS). Eu saí às 4 horas e vossa excelência ia tomar posse às 9 horas, sendo que o juiz exigiu que fosse até às 10 horas a posse. Se eu fosse de carro e voltasse, o juiz ia mandar me prender”, brincou.
O presidente ainda completou que não está na Casa de Leis para atender pedido do PSB, que é o seu partido, nem do PP, e nem do PSDB, nem partido nenhum.
“A Câmara e o presidente da Casa atua de acordo com os procuradores jurídicos e da lei. Então, nada contra a pessoa do Gian Sandim e nem contra o seu pai, o Lauredir Sandim, que conheço faz mais de 40 anos”, argumentou.
Para finalizar, Carlão prometeu “sinceridade” para o novo vereador.
“O pessoal da oposição sabe que, o mesmo tempo que dou para oposição, dou para a base da prefeita. Eu não tenho isso de estar puxando brasa para a sardinha de nenhum lado. E vossa excelência é um menino novo, é um rapaz que tem um futuro brilhante na política e, com certeza, terá o nosso apoio e, principalmente, a nossa lealdade”, assegurou.
Ele declarou que não trabalha “com conversa fiada e com fofoca”.
“Sempre vamos torcendo para que vossa excelência faça um bom mandato, que seja reeleito, pois sei que vossa excelência é pré-candidato à reeleição, e volte para cá com o seu mandato, sem depender de ser suplente”, desejou.
O presidente ainda acrescentou que tinha falado para o pai de Gian Sandim que os três – ele, Gian e Lauredir – tinham o mesmo defeito.
“Você tem e que o seu pai tem, eu também tenho, que é ser palmeirense. Nós somos palmeirenses e hoje (ontem) até vim com gravata verde em homenagem ao meu Palmeiras. Seja bem-vindo e que Deus te abençoe”, concluiu.
ENTENDA
Na edição de ontem, o Correio do Estado trouxe que o presidente Carlão está acumulando sucessivas derrotas políticas.
Se no início do ano passado o presidente da Casa de Leis vendia a imagem de pré-candidato a prefeito da Capital pelo PSB, com o passar dos meses, acabou sendo preterido pelo partido, que optou por apoiar a pré-candidatura tucana à prefeitura.
E mais: tentou interferir no Plano Diretor e teve emendas (inseridas de última hora) vetadas pela prefeita Adriane Lopes (PP), saiu derrotado em uma rixa pessoal com seu novo colega de Casa, Gian Sandim, e ainda teve frustrada a sua expectativa de tornar-se vice da chapa do deputado federal Beto Pereira (PSDB) a prefeitura da Capital.
No fim do ano passado, Carlão já se contentava em ser o indicado pela legenda como o pré-candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Beto Pereira, considerando a possibilidade como uma vitória pessoal.
No entanto, o início deste ano eleitoral acabou por amplificar o “inferno astral” vivido por Carlão, pois o nome dele saiu em definitivo do rol de indicados para a vaga de vice de Beto Pereira e não é mais cogitado nem por outros partidos.
Além disso, com os últimos episódios protagonizados pelo parlamentar na Justiça Eleitoral e até na Justiça comum, a imagem do “orgulhoso” presidente da Câmara Municipal acabou manchada perante a população e até entre os colegas de Casa.
Conforme interlocutores do parlamentar ouvidos pelo Correio do Estado, o conselho é que ele se concentre em buscar a reeleição antes que o cenário político fique ainda mais desfavorável, com risco até de não conseguir viabilizá-la a tempo.
Fontes ouvidas pela reportagem revelaram que o fato de o horizonte eleitoral para 2025 projetar a eleição para a Casa de Leis de novas lideranças políticas – e até de figuras carimbadas, tais como o ex-prefeito Marquinhos Trad (PDT) – enfraquecem de imediato o até então tranquilo “reinado” de Carlão à frente da Mesa Diretora.
Outro agravante é, caso garanta a reeleição como vereador, em relação à nova formação da Câmara Municipal, que deve ter uma renovação de mais de 50%, tornando a permanência de Carlão como presidente da Casa quase que impossível, para não dizer pouco provável.
DESTEMPERO
O risco de perder o poder mesmo antes do fim da 11ª Legislatura da Casa de Leis já deixou o atual presidente com os nervos à flor da pele. Um claro exemplo disso foi o episódio com a nomeação do suplente do vereador Claudinho Serra (PSDB), que se licenciou por 120 dias após ter ficado preso e ser solto com tornozeleira eletrônica sob acusação de chefiar um esquema de corrupção na prefeitura de Sidrolândia, cuja prefeita, Vanda Camila (PP), é sua sogra.
Em vez de nomear o oitavo-suplente de vereador Gian Sandim (PSDB) para a vaga do colega de partido, Carlão resolveu chamar o quarto-suplente de vereador Dr. Lívio (União Brasil), mesmo tendo sido informado que a vaga pertencia ao partido, e não ao suplente.
O resultado foi que o capricho do presidente acabou na Justiça, que determinou a posse de Gian Sandim, fazendo com que Carlão sofresse uma derrota pública, manchando ainda mais sua imagem perante a opinião pública.
Afinal, ao não tomar a decisão de afastar Claudinho Serra do cargo após a prisão sob acusação de corrupção, Carlão provocou a revolta da população campo-grandense, acabando por respingar na imagem dos outros vereadores, que, por sua vez, cobraram explicações do chefe do Legislativo municipal.
Para agravar ainda mais a situação, quando finalmente resolveu demonstrar voz ativa, trocou os pés pelas mãos na questão da convocação do suplente, trazendo novamente uma mídia negativa para a Casa de Leis ao obrigar Gian Sandim a acionar a Justiça.
Mesmo derrotado na Justiça, ele ainda não deu o braço a torcer e, feito uma criança mimada, faltou à cerimônia de posse de Gian Sandim como vereador.