As expectativas do mercado financeiro quanto a uma Selic de um dígito em 2025 parecem ter mudado. Depois de apontarem para uma taxa de 8,50% no próximo ano, os juros futuros – contratos que refletem a expectativa em relação à Selic futura – agora não indicam mais cortes nos juros, mas sim um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa no segundo semestre do próximo ano, elevando-a dos atuais 10,50% para 10,75%.
Entretanto, as taxas cobradas nesses contratos não estão alinhadas com a pesquisa Focus, que prevê uma Selic de 9% em 2025, nem com as previsões mais recentes dos grandes bancos. De acordo com dez instituições financeiras consultadas, sete delas esperam que a taxa básica de juros caia para um dígito até o final do próximo ano.
Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, atribui esse grande descompasso de expectativas ao ambiente volátil, causado pela mudança nas perspectivas quanto aos juros nos Estados Unidos e à desvinculação das expectativas para a inflação brasileira. “O Fed prometia um corte de juros que não aconteceu, e o juro dos EUA, que é o ativo financeiro mais importante do mundo, mudou tanto de patamar quanto de direção”, explica Gardimam.
O Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, mantém a taxa de juros americana no maior patamar desde 2001, entre 5,25% e 5,50% ao ano. No Brasil, a inflação também surpreendeu, e as previsões indicam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine 2024 ainda mais alto, em 3,86%, segundo a pesquisa Focus.
Apesar de Gardimam esperar apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual na Selic neste ano, levando-a a 10,25%, e um IPCA de 4%, outros analistas projetam números diferentes. O Itaú, por exemplo, revisou sua previsão para a Selic, de 9,75% para 10,25% em 2024 e 2025. O UBS, por sua vez, prevê que a Selic termine o ano a 9,75% e continue caindo até 8,50% no próximo ano.
A divisão na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central contribuiu para a deterioração das expectativas, com todos os indicados pelo governo Lula votando por um corte maior do que o efetuado. Essa divisão torna a próxima decisão do Copom, em 19 de junho, crucial para as expectativas futuras.
Com FolhaPress