O dólar fechou em forte alta de 1,18% nesta quinta-feira (29), a R$ 5,621, conforme dados sobre a economia dos Estados Unidos consolidaram apostas de um afrouxamento gradual na taxa de juros norte-americana.
A moeda, que também avançou em relação a divisas de outros mercados emergentes no exterior, começou o dia em queda, mas logo inverteu de sinal após a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano.
Já a Bolsa recuou 0,95%, aos 136.041 pontos. Os investidores realizaram lucros neste pregão, depois do Ibovespa renovar a máxima histórica na véspera e ultrapassar a marca de 137 mil pontos pela primeira vez no fechamento.
O PIB anualizado dos Estados Unidos cresceu 3% no segundo trimestre, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar. Economistas consultados pela Reuters previam que não haveria revisão.
O dado acelerou em relação ao 1,4% registrado no primeiro trimestre, afastando ainda mais os temores de que uma desaceleração acentuada estaria em curso na maior economia do mundo.
Ao mesmo tempo, o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego recuaram na semana encerrada em 24 de agosto para 231.000, ante 233.000 da semana anterior e abaixo das estimativas de 232.000 pedidos.
A leitura é que a economia continua forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar sinais leves de resfriamento, está mais resiliência do que o especulado no começo do mês.
O ritmo da atividade americana impacta na tomada de decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Na análise de Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, o resultado sugere que a política monetária implementada pela autarquia tem sido eficaz no controle inflacionário sem comprometer o crescimento econômico de forma significativa.
O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na semana passada que “chegou a hora” de cortar os juros, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, para não enfraquecer a economia americana. A dúvida, agora, é sobre o tamanho das reduções: se mais agressiva, de 0,50 ponto percentual, ou gradual, a começar com um corte de 0,25 ponto.
“Com uma economia ainda aquecida, é mais provável que o Fed mantenha uma abordagem cautelosa, optando por cortes menores de 0,25 ponto percentual, para garantir que a inflação continue sob controle”, diz Murad.
“Para o Brasil e outros mercados emergentes, isso pode implicar em um fluxo de capital internacional mais moderado do que se houvesse cortes mais agressivos nos juros americanos.”
A perspectiva de um afrouxamento gradual elevou os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro norte-americano, o que tornou o dólar mais atraente no exterior.
O título de dois anos -que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo- subiu 0,026 ponto percentual, a 3,893%. Com isso, o dólar avançava sobre a maioria das moedas emergentes, com altas frente ao peso mexicano, ao peso chileno e ao peso colombiano.
No Brasil, dados do IGP-M, a “inflação do aluguel”, acentuavam a desvalorização do real.
O Índice Geral de Preços-Mercado desacelerou mais do que o esperado por analistas em agosto, em alta de 0,29%, depois de ter avançado 0,61% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas). A expectativa era de avanço de 0,46%. O índice agora acumula ganhos de 4,26% em 12 meses.
“Com o IGP-M abaixo das projeções do mercado, aumentam as apostas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) manterá a taxa Selic inalterada na próxima reunião”, diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais. A taxa básica de juros do país está em 10,50% ao ano.
Os próximos passos do BC (Banco Central) têm sido observados de perto pelo mercado. Na quarta-feira, foi confirmada a indicação de Gabriel Galípolo à presidência da autarquia, após o término do mandato de Roberto Campos Neto em 31 de dezembro deste ano.
Se aprovado pelo Senado Federal, o atual diretor de Política Monetária assume o comando da instituição com a missão de angariar a confiança do mercado financeiro, que teme um BC leniente no combate à inflação em 2025, quando o Copom terá maioria dos integrantes indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A indicação de Galípolo já era amplamente esperada. “Desde o ano passado, os agentes financeiros já trabalhavam com a hipótese dele estar à frente do BC, e de lá para cá houve uma mudança quanto à percepção que o mercado tinha dele”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimento.
“Esperava-se que Galípolo sucumbiria às pressões do governo, mas a postura mais dura no combate à inflação reduziu essa percepção.”
No mercado de juros futuros, as taxas tiveram altas firmes após o anúncio e seguiram avançando nesta quinta. A reação da curva brasileira traduz a percepção de que aumentaram as chances de alta da Selic até o final do ano -ainda que Galípolo só vá assumir o comando do BC em 2025. Isso porque o diretor, em suas falas mais recentes, tem reforçado que o Copom elevará a taxa básica se for necessário.
Com a desaceleração do IGP-M e da inflação medida pelo IPCA-15, a dúvida é se os dados estão “desconfortáveis” o suficiente para o comitê considerar um aperto monetário no próximo encontro.
Quanto mais o Fed cortar a taxa americana e mais o BC subir a Selic por aqui, melhor para o real, que fica mais atraente a investimentos por causa do diferencial de juros.
Na cena corporativa, apenas sete papéis subiram, entre eles Gerdau (2,27%), CSN (1,62%) e Banco do Brasil (0,42%).
A ponta negativa foi liderada pelas ações da Azul, que desabaram 23,45% com preocupações sobre eventuais estratégias que a companhia aérea possa buscar para lidar com suas dívidas.
De acordo com reportagem da Bloomberg News publicada na quarta-feira, citando pessoas familiarizadas com o assunto, a Azul está avaliando opções que vão desde uma oferta de ações até a apresentação de um pedido de recuperação judicial para fazer frente às obrigações de dívida que se aproximam.
Vale e Petrobras caíram 0,11% e 0,68%, respectivamente.
*Informações da Folhapress
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