Com expertise por passar pelas mais variadas instituições financeiras, a renomada economista, Zeina Abdel Latifesteve em Campo Grande na manhã desta segunda-feira (22), para a edição especial Correio do Estado do Café com Negócios, na sede do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), comentando entre outros assuntos o impacto do “agro” no cenário econômico local.
Trazendo em seu histórico passagens pelo Royal Bank of Scotland; ING; ABN-Amro Real e HSBC, a economista que inclusive foi conselheira na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo do Estado de São Paulo, Zeina destaca o trabalho por trás do bom desempenho econômico local.
Em conversa com equipe do Correio do EstadoZeina esclarece que, diferente de commodities metálicas que tendem a apresentar mais oscilações na indústria de extração mineral, o “agro” em Mato Grosso do Sul, até pela natureza de seu produto, mostra mais solidez em resultados para o Estado.
“Isso significa que é um setor menos suscetível ao ciclo econômico doméstico… e isso dá uma resiliência para a região”, afirma.
Ainda, ela joga por terra a falácia de olhares de fora que, ao ver a resiliência sul-mato-grossense, tendem apontar para o fator sorte, destacando que há muito trabalho interno por trás de todo esse bom desempenho.
“Porque é um setor muito exposto à concorrência internacional. Que precisou colocar no seu DNA a inovação, empreendedorismo, investimento, porque senão não consegue se manter competitivo, já que todos competem por preços e mercados. O primeiro ponto é dizer que não é algo que veio da sorte”, cita Zeina.
Análise local e desafios ambientais
Zeina lembra que, no passado, a região Centro-Oeste não apresentava essa caraterística fértil e precisou inovar para se tornar produtiva, para só depois ter ganhos de produtividade que, segundo ela, são “tão expressivos” a cada ano.
“Tem trabalho nisso, não é uma benção divina. Por exemplo, a Argentina é um país que nasceu com uma produtividade muito alta… eles precisaram se esforçar menos e a gente mais”.
Considerada uma das economistas mais influentes do País, ela destaca que essa continuidade de sucesso esbarra atualmente em uma preocupação que é mundial, já que as pessoas querem cada vez mais saber o que estão consumindo.
“E isso impactando negócios; relações diplomáticas e comerciais. A gente está vendo a dificuldade de avançar, por exemplo, com o acordo Mercosul-União Europeia. É verdade que parte da dificuldade decorre de visão mais protecionista do mundo, mas o combustível, a preocupação ambiental, é concreta e crescente”.
Zeina faz questão de ressaltar que essa preocupação, que teve origem com jovens de países europeus mudando as crenças sociais locais, se espalhou e, consequentemente, até a sequência de abertura de possibilidades de novos mercados passa pela questão ambiental.
Cenário e soluções
Com isso, há sim uma “lição de casa” a ser feita para que a história de sucesso se mantenha, já que o território nacional e estadual possui diversos nomes e ações – como a própria Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), segundo Zeina -, que dão condições de que a produção se adeque a essa realidade.
“Tem trabalho para ser feito sim. E um trabalho também de comunicação, porque a imagem do Brasil não anda boa com essas queimadas todas, já que, por exemplo, neste momento o País discute acordos comerciais com a União Europeia… vem em mau hora, viramos manchete ruim lá fora”.
Zeina frisa que não é possível ser omisso nessa hora, fingir que o problema não existe, mas que há capacidade do setor reagir, uma vez que o resultado oposto disso seria perder mercado.
Segundo a economista, Mato Grosso do Sul possui lideranças políticas capazes de lidar com esse compromisso ambiental, já que o setor privado “não consegue resolver sozinho”.
Para Zeina, a coordenação de esforços é necessária, uma vez que o custo unitário é alto e precisa ser diluído pela presença estatal, formando um verdadeiro tripé entre Estado; pesquisa e setor privado.
“Pesquisa; a presença estatal regulando o mercado, por vezes concedendo algum tipo de suporte, de fomento para pesquisa, por exemplo, para iniciativas para a transição de economia verde e tem que ter o setor privado engajado”, conclui.