O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) é o popstar do momento. A síndrome de desatenção, hiperatividade e impulsividade – que tem afetado de 10% a 12% da população – é tão popular nas redes sociais que o que mais existe é influencer especializado nesse tipo de produção de conteúdo. Entretanto, o seu diagnóstico não é tão simples.
Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5, a característica essencial do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento.
O Jornal Midiamax conversou com a médica psiquiatra Graziela Michelan, de Campo Grande, que explicou sobre o TDAH, quais são as formas de tratamento e como descobrir o diagnóstico. “O TDAH é um transtorno neurobiológico de origem genética, uma alteração do córtex pré-frontal que acontece desde a infância”, explicou a Dr. Michelan.
Contudo para a Dr. nos últimos anos não houve aumento nos casos de TDAH, mas sim o aumento nos diagnósticos.
“A prevalência de diagnósticos até o ano de 2000 era entre 5% a 8%. Após o ano 2000 a prevalência passou a ser de 10 a 12%. Ou seja, os números dobraram porque realmente estamos fazendo mais diagnósticos, com esclarecimentos e informações. As pessoas estão buscando mais o tratamento e também perderam um pouco do estigma do tratamento psiquiátrico, do tomar medicamentos controlados. Então, aumentou o número de diagnósticos, não o número de casos, porque os casos sempre existiram”, ressaltou.
Classificado em três tipos:
- Desatenção;
- Hiperatividade/impulsividade;
- Combinado.
“O tipo desatento é aquela pessoa que só tem sintomas da desatenção. Tipo hiperativo e impulsivo, é aquele que não tem desatenção, mas tem a hiperatividade e impulsividade. O tipo combinado, que é o tipo que tem a desatenção mais os sintomas de hiperatividade e impulsividade”, destacou.
Os homens são os mais afetados pelo transtorno. “O TDAH tem uma prevalência maior em homens, principalmente o TDAH tipo combinado, aquele com sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Na mulher, o número é menor, e a prevalência é de sintomas ligados à desatenção, não tem hiperatividade associada”, explicou.
Os sintomas e o comprometimento do transtorno começam a aparecer desde a infância, podendo se agravar na vida adulta.
“O TDAH aparece desde a infância, antes a gente falava que ele tinha que aparecer nos diagnósticos até os seis anos, hoje esse diagnóstico já ampliou, está sendo começar os sintomas até os 12 anos”, explicou a médica psiquiatra.
TDAH: desafios do diagnóstico
O diagnóstico do TDAH não é tão simples quanto sugerem os inúmeros testes disponibilizados na Intenet. “É multidisciplinar. Além da avaliação médica, são feitas outras avaliações como a neuropsicológica, exame auditivo, eletro, tomografia, onde descartamos causas estruturais que podem acontecer e dessa forma multidisciplinar é feito o diagnóstico”, explicou a médica.
Segundo a Dr. Michelan, o diagnóstico do TDAH por muitas vezes está ligado a outras comorbidades, como ansiedade, depressão e fobias. “É muito comum ter comorbidades, esse diagnóstico nunca vem sozinho. Muitas pessoas têm o transtorno de ansiedade, transtorno depressivo e têm as fobias associadas”, relatou.
Ainda, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é hereditário. “É genético o TDAH, a criança herdou isso de alguém, pode ser dos avós, que às vezes eles não sabem, mas passou para alguém da família. Não surgiu naquela criança sem ter alguém que já tenha dito”, esclareceu.
“A criança que às vezes é chamada de teimosa, que os pais precisam chamar várias vezes, dá o comando para fazer algo ou até mesmo o professor, os pais acham que é uma criança teimosa, mas, na verdade, é uma dificuldade de atenção”, explicou.
Algumas crianças acabam tendo dificuldades no aprendizado, em casos mais graves do transtorno.
“Quando inicia a idade escolar, é mais fácil dos pais prestarem atenção. Apresentando dificuldades no aprendizado, foco, atenção e concentração de memorização, que são todos os sintomas, mesmo antes de fechar o diagnóstico, esses sintomas já existem”, comentou.
Tratamento
Após o diagnóstico fechado, é necessário iniciar tratamentos para haver melhoras nos sintomas apresentados em decorrência do TDAH. Mas, cada indivíduo precisa de um tratamento especializado, podendo ocorrer o uso de medicação e terapia cognitivo comportamental. “O tratamento personalizado, conforme a demanda de cada indivíduo. Alguns apenas com a terapia cognitiva comportamental vai conseguir se organizar mentalmente e ter uma rotina adequada”, explicou.
Entretanto, em alguns casos, é necessário fazer a intervenção com medicamentos para ter uma melhora nos sintomas. “Tem pessoas que vão precisar fazer o uso de medicação, e também fazer a terapia cognitiva comportamental”, disse a médica.
Sendo que cada tratamento se torna individualizado mesmo com o uso de medicação. “Nem todos vão precisar de medicamentos, mas todos precisam de psicoterapia, acompanhamento com o psicólogo após o diagnóstico, mas o tratamento não necessariamente precisa do uso de medicação”, finalizou.
Diagnóstico na fase adulta
Apesar do TDAH ser considerado um transtorno que começa a apresentar os primeiros sintomas na infância, eles continuam na vida adulta, em alguns casos, podendo até evoluir para sintomas mais graves.
Em adultos os sintomas incluem:
- Dificuldade de concentração;
- Desatenção;
- Esquecimento;
- Perda da memória;
- Dificuldade de concluir tarefas;
- Oscilações de humor;
- Impaciência.
Na vida adulta, o diagnóstico se dificulta. “Na idade adulta, ele pode ter a desatenção, esquecimento, perda de memória, várias dificuldades que também podem acontecer no transtorno de ansiedade, depressivo, bipolar, stress e no burnout”, afirmou.
Com isso, nos adultos é necessária uma atenção maior ao fechar o diagnóstico, visto que os sintomas aparecem desde a infância.
Alerta para testes on-line
Conforme a Dr. Michelan, nos últimos tempos as pessoas têm procurado ajuda, já afirmando conviver com o transtorno devido aos testes realizados na internet.
“Temos que tomar muito cuidado com o diagnóstico do TDAH no adulto, porque é algo que acontece desde quando a pessoa nasceu. É uma alteração do neurodesenvolvimento, não é algo que iniciou na idade adulta”, explicou.
Laudo positivo para o TDAH
Há um mês, a professora Adriana Klein, de 52 anos, recebeu o laudo positivo para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, momento em que ela pode associar a diversos sintomas que carregou durante toda a vida.
Klein realizou o diagnóstico, após uma colega de trabalho citar as principais características sobre o TDAH e se identificar. “Quando minha colega comentou sobre isso, eu conversei com meu psicólogo e na terapia fizemos um pequeno questionário e eu tive inúmeros indicativos de TDAH”, comentou Adriana com o Jornal Midiamax.
Desde a sua infância, a professora já ouvia falar sobre o transtorno. “Na minha infância e adolescência já se falava sobre o TDAH, era uma coisa estereotipada, que acometia os ‘meninos rebeldes’. Sendo uma coisa completamente fora do meu radar”, comentou.
Após a descoberta, a sensação é de ‘alívio’ devido aos sintomas carregados durante toda a vida. “Sensação de inadequação passa. É aquela percepção de que eu não era uma pessoa preguiçosa, que não gostava de estudar. Eu só não tinha um trabalho adequado para mim, como uma adaptação para o meu interesse, não era eu que não queria estudar”, explicou a professora Adriana Klein.
“Meu cérebro é diferente da maioria das pessoas”
Agora, Klein entende as suas diferenças e necessidades específicas. “Meu cérebro é diferente da maioria das pessoas, estava conversando em terapia o que eu sou e o que é o TDAH, é uma brincadeira que a gente faz, mas o que eu sou”, brincou.
“Laudo te dá um panorama da sua vida, eu fui uma pessoa muitas vezes taxada de impulsiva e uma péssima aluna em uma boa parte da minha vida, com certa impulsividade e, às vezes, agressividade. Uma série de outros problemas que são consequências de outros, entender que muitos comprometimentos e formas de existir são resultados de um transtorno, uma questão não tratada”, comentou.
Klein mantém a sua rotina do trabalho com hiperfoco, sempre tendo bons resultados. “Ainda estou caótica com as minhas coisas pessoais, mas no meu trabalho sou muito cuidadosa, eu não posso falhar, eu tenho uma cobrança”, comentou.
Por mais comentado que seja, muitas pessoas que convivem com o transtorno precisam lidar diariamente com piadas mencionando a “modinha” do TDAH.
“As piadas me incomodam, é desagradável as pessoas usarem (o TDAH) como piada, como se o transtorno fosse uma coisa engraçada. Mas é muito mais sério, isso é um transtorno que dá uma qualidade de vida ruim para a pessoa que tem, ainda mais sem saber o diagnóstico”, lamentou.
No tratamento multidisciplinar, Adriana está utilizando a medicação como uma alinhada, além de atividades físicas, qualidade de vida e também a terapia cognitivo comportamental. “Tenho que continuar a terapia, manter a atividade física, tratamento com medicação e também trabalhar com a saúde, com sono e alimentação”, disse.
Mesmo sendo genético, Klein comenta que, na sua família, não teve ninguém diagnosticado com o Transtorno, além dela, já na fase adulta. “Não teve ninguém, eu fui a primeira, não tinha esse diagnóstico de mais ninguém”, comentou.
Conscientização nas escolas
Recentemente, a SED (Secretaria de Estado de Educação) promoveu ações de conscientização nas escolas da REE (Rede Estadual de Ensino), em alusão ao Dia Mundial do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, celebrado em 13 de julho.
A ação teve como objetivo levar informações sobre as características e prejuízos que as pessoas com TDAH enfrentam no ambiente escolar, tanto nos aspectos pedagógicos como no social.
As ações são desenvolvidas pelas professoras psicopedagogas que atuam nas SAPs (Salas de Apoio Pedagógico), da Ceief (Coordenadoria de Educação Infantil e Ensino Fundamental).
As SAPs procuram oportunizar aos estudantes com transtornos funcionais específicos da aprendizagem, tais como diagnóstico de TDAH, dislexia, discalculia e disortografia, matriculados do primeiro ao nono ano do Ensino Fundamental, apoio psicopedagógico que objetive minimizar o fracasso escolar, melhorando o contexto educacional e acadêmico dos estudantes.
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