O governo de Israel anunciou na noite de domingo (8), já madrugada de segunda (9) no horário local, que a Marinha interceptou o barco Madleen, embarcação civil que levava ativistas com destino à Faixa de Gaza. O grupo buscava entregar ajuda humanitária à população palestina, levando alimentos e medicamentos. Entre os tripulantes estavam a ativista ambiental sueca Greta Thunberg, o brasileiro Thiago Ávila e outros dez integrantes da coalizão Freedom Flotilla.
A ação ocorreu em águas internacionais, distante da costa israelense. Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Israel, o Madleen será conduzido ao porto de Ashdod, em território israelense, e os ativistas serão deportados para seus países de origem. O governo israelense não divulgou se houve prisões.
De acordo com informações da Freedom Flotilla Coalition (FFC), drones israelenses sobrevoaram o barco e lançaram uma substância branca sobre o convés. Em imagens divulgadas pela organização nas redes sociais, é possível ver passageiros com coletes salva-vidas e mãos levantadas. O grupo relatou que as comunicações foram interrompidas e ruídos perturbadores foram transmitidos via rádio momentos antes da abordagem militar.
Ativistas afirmam ter sido atacados por Israel
O Madleen havia partido do sul da Itália no dia 6 de junho com o objetivo de furar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, território palestino com cerca de 2,3 milhões de habitantes. O cerco restringe a entrada de suprimentos, segundo o governo israelense, para evitar que o grupo Hamas receba armas e apoio externo.
Greta Thunberg gravou um vídeo antes da interceptação, pedindo que seus seguidores pressionassem o governo sueco a exigir sua libertação. O brasileiro Thiago Ávila, também ativista ambiental e defensor de causas internacionalistas, afirmou em vídeo divulgado nas redes sociais que Israel não teria jurisdição sobre o território marítimo palestino. “Não tememos você (…), tudo que você tem são suas armas, suas bombas, sua violência e seu ódio”, disse.
A bordo também estavam a deputada do Parlamento Europeu Rima Hassan e o ator irlandês Liam Cunningham, conhecido pela participação na série Game of Thrones. O grupo afirmou que levava uma grande quantidade de mantimentos e produtos médicos destinados à população civil.
Essa não foi a primeira tentativa do FFC de romper o bloqueio marítimo. Em maio, outra embarcação da organização foi atingida por drones israelenses nas proximidades da costa de Malta, também enquanto se dirigia a Gaza.
Governo brasileiro pede libertação de ativistas
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou nota oficial na manhã desta segunda-feira (9), afirmando acompanhar o caso com atenção. O governo brasileiro mencionou o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais e solicitou que Israel liberte os tripulantes da embarcação.
“O governo brasileiro acompanha com atenção a interceptação, pela marinha israelense, da embarcação Madleen, que se dirigia à costa palestina para levar itens básicos de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e cuja tripulação, composta por 12 ativistas, inclui o cidadão brasileiro Thiago Ávila”, diz o comunicado.
Ainda segundo o Itamaraty, as embaixadas brasileiras na região estão em alerta para prestar assistência consular, conforme previsto na Convenção de Viena sobre Relações Consulares.
Em resposta à operação de interceptação, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou no domingo que havia ordenado medidas para impedir que o barco chegasse a Gaza. “Para a antissemita Greta e seus amigos propagadores de propaganda do Hamas, eu digo claramente: é melhor vocês voltarem para trás, porque não chegarão a Gaza”, declarou Katz em nota.
O governo israelense também classificou a tentativa do grupo como uma “provocação midiática”. “Existem formas de entregar ajuda à Faixa de Gaza — elas não envolvem selfies no Instagram”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores de Israel por meio da rede social X.
A Freedom Flotilla Coalition, por sua vez, declarou que continuará tentando romper o bloqueio por vias pacíficas e destacou que sua missão é exclusivamente humanitária. “Sabemos que é uma missão muito arriscada e sabemos que experiências anteriores com flotilhas como essa resultaram em ataques, violência e até mesmo mortes”, disse Greta Thunberg à CNN no sábado.
A Organização das Nações Unidas (ONU) tem alertado para o agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza. Segundo dados da entidade, grande parte da população sofre com a fome e a falta de acesso a remédios e outros recursos essenciais devido ao bloqueio.
Até o momento, o governo israelense não divulgou detalhes sobre o destino imediato dos ativistas nem sobre eventuais acusações formais. A situação segue em acompanhamento por autoridades internacionais e organismos de direitos humanos.
Veja o vídeo com o anúncio de Greta Thunberg abaixo:
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