Apesar do crescimento expressivo nos ganhos dentro e fora das quadras, nenhuma mulher integra, pelo segundo ano consecutivo, a lista dos 50 atletas mais bem pagos do mundo, divulgada pela Forbes. A tenista Coco Gauff, por exemplo, arrecadou US$ 34,4 milhões (R$ 193,8 milhões) em 2024, mas ficou US$ 19,2 milhões abaixo do valor necessário para entrar no ranking.
A ausência de atletas mulheres na lista evidencia uma desigualdade estrutural ainda presente no cenário esportivo. Enquanto os esportes masculinos seguem com receitas bilionárias, especialmente em direitos de transmissão, os ganhos no universo feminino crescem em ritmo mais lento. A própria Forbes aponta que o corte para entrar no ranking subiu 19% em um ano e hoje é de US$ 53,6 milhões (R$ 301,9 milhões).
Desde 2012, apenas quatro mulheres apareceram entre os 50 mais bem pagos — todas tenistas: Serena Williams, Naomi Osaka, Maria Sharapova e Li Na. A última a figurar no ranking foi Serena, em 2023. Com sua aposentadoria, nenhuma atleta conseguiu alcançar os altos patamares financeiros exigidos para compor a lista deste ano.
Os salários e premiações de atletas estão diretamente ligados à receita das ligas e ao valor negociado em contratos de mídia. Embora a Deloitte estime que os esportes femininos de elite gerarão US$ 590 milhões (R$ 3,3 bilhões) em 2025 com transmissões — um salto de 74% em relação ao ano anterior — a comparação com os esportes masculinos ainda é desigual. A NBA, por exemplo, movimenta US$ 6,9 bilhões (R$ 38,9 bilhões) em direitos de transmissão, enquanto a WNBA, mesmo com crescimento, chega a apenas US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão).
A disparidade também é visível nos salários. Caitlin Clark, principal promessa do basquete feminino nos Estados Unidos, terá ganhos de pouco mais de US$ 150 mil (R$ 844 mil) nas duas primeiras temporadas. Já Victor Wembanyama, estrela da NBA, arrecadou cerca de US$ 25 milhões (R$ 140,8 milhões) no mesmo período.
Há avanços: as jogadoras da WNBA devem renegociar o acordo coletivo que expira em 2025, e o teto salarial da liga pode subir para US$ 1 milhão por atleta. Ainda assim, o valor segue abaixo do salário mínimo da NBA.
Mesmo com esses obstáculos, o mercado para atletas mulheres está em expansão. Segundo a Deloitte, os esportes femininos devem movimentar US$ 2,35 bilhões (R$ 13,2 bilhões) em 2025. O número representa um salto significativo frente aos US$ 981 milhões (R$ 5,5 bilhões) de 2023. Patrocínios e contratos comerciais correspondem a 54% dessa receita, indicando crescente interesse das marcas nesse segmento.
Atletas como Eileen Gu (esqui estilo livre), Simone Biles (ginástica) e Sabrina Ionescu (basquete) já somam milhões em contratos publicitários. Mesmo fora da lista dos 50 maiores rendimentos, suas cifras superam os ganhos de vários homens que entraram no ranking.
O desempenho financeiro das 20 atletas mais bem pagas subiu para uma média de US$ 10,7 milhões (R$ 60,3 milhões) em 2024 — um avanço em relação aos US$ 8,5 milhões do ano anterior. Com a maioria abaixo dos 30 anos, a expectativa é de que essa nova geração amplie sua presença nos rankings nos próximos anos. Ainda assim, alcançar a paridade nos maiores holofotes do esporte mundial parece, por ora, um jogo que está longe do empate.