O celular que antes servia para rolar o feed, fazer dancinha e trocar mensagens virou câmera, tripé e uma forma de mostrar o cotidiano. Nas duas primeiras semanas da oficina “Crie e Conte Sua História”, realizada pela TransCine – Cinema em Trânsito, adolescentes de bairros periféricos de Campo Grande descobriram que suas histórias também merecem a tela grande.
Em maio, o projeto percorre quatro comunidades com formações gratuitas de cinco dias, voltadas para crianças e adolescentes. No fim de cada oficina, os grupos criam curtas-metragens usando o que têm em mãos — e o que têm por dentro: vivência, criatividade, coragem.
“Levar oficinas como essa para dentro das comunidades é mais do que uma ação formativa, é um gesto de construção coletiva que transforma um aparelho de celular em um objeto de contar suas próprias histórias. O que esse projeto da TransCine faz é abrir caminhos para que essas vozes existam, ocupem e transformem ideias em filmes”, afirma Mariana Sena, produtora da TransCine, quanto à importância de circular com a oficina por bairros da Capital.
Na primeira semana, realizada na Associação Familiar da Comunidade Negra São João Batista, no bairro Pioneiros, quatro filmes nasceram a partir do olhar de 22 crianças e adolescentes. Na semana seguinte, no Instituto Projeto Livres, no Iracy Coelho, mais dois curtas ganharam vida, fortalecendo o propósito da oficina: colocar nas mãos dos jovens a direção das suas próprias narrativas.
“A gente usou o celular pra filmar tudo. Nunca imaginei que daria pra fazer um filme assim, com a minha ideia. A gente escreveu, gravou, editou. Ver ele pronto foi incrível”, conta Samuel, de 11 anos, aluno da primeira semana.
Na segunda etapa, quem também se emocionou foi Isabela, de 13 anos, que participou da oficina no Instituto Projeto Livres. “Quisemos retratar o projeto na tela, então fizemos um documentário falando sobre o trabalho do instituto, sobre o que acontece aqui. Foi muito legal o processo”, afirma a nova cineasta.
Para Catia Santos, diretora de fotografia e ministrante da oficina, as produções são mais que exercícios técnicos. São encontros entre identidade, território e sonho: “É um processo de florescimento. Os celulares viram câmeras, os cadernos viram roteiros, as rodas de conversa viram cenas. Eles descobrem que podem ser protagonistas não só no vídeo, mas da própria vida”, diz.
Já para Laynara Rafaela, roteirista e cineasta que também ministra as oficinas, o mais potente é ver os jovens criando a partir do que conhecem e onde vivem: “Eles se reconhecem na história do outro e enxergam o cinema como possibilidade. É uma troca rica. Não estamos só ensinando a fazer filmes — estamos convidando esses adolescentes a se verem no mundo de outro jeito”.
A terceira oficina do projeto começou na última segunda-feira (19), no Núcleo Humanitário da Nhanhá, e segue até sexta-feira (23), sempre das 18h às 22h. E ainda tem mais: na última semana de maio, será a vez do Projeto Socioeducativo Harmonia e Frutos, no Jardim Columbia.
Cada oficina termina com uma exibição especial dos curtas produzidos pelos participantes — uma estreia feita na comunidade, como um tapete vermelho popular onde todas as histórias são bem-vindas.
“Crie e Conte Sua História” é uma realização da TransCine – Cinema em Trânsito, com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura (MinC), por meio de edital da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), Setesc e Governo do Estado de MS.